Passos á Christo “SENHOR, SALVA! OU EU PEREÇO PASSOS Á CHRISTO. PELA SENHORA E. G. WHITE. SOCIEDADE INTERNACIONAL DE TRACTADOS, BATTLE CREEK, MICH., E. U. A.; LONDRES, INGLATERRA; BALE, SUISSA. Entered according to Act of Congress, in the year 1895, by the International Tract Society, In the Office of the Librarian of Congress, at Washington, D. C. ALL RIGHTS RESERVED. NOTA DOS EDITORES. Tà STE piqueno Volume não precisa da recommendação de pessoa alguma. Uma cuidadosa inspecção do seu con­ teúdo mostrará que 0 auctor “tem estado com Jesus,” e es­ creveu com uma pena banhada na mesma luz do Céo. A toda-prevalecente espiritualidade e saudavel conselho mistu­ rados atravez d’estas paginas habelita 0 livro a receber ver­ dadeira acceitação geral. Uma vez lido, é muitas vezes relido e estudado como um roteiro no caminho da salvação. O original Inglez havendo rapidamente passado por succes- sivas edições, é agora pela ajuda de diligentes traducções apresentado n’uma forma agradavel em varias das principaes linguas da Europa.1) Que Passos á Cheisto possa provar aos milhares de seus leitores tudo 0 que o nome significa, é o sincero desejo dos EDITORES. Setembro de 1895. J) Este Volüme goza a reputação de ser publicado nas linguas, Ingleza, Allemã, Espanhola, Dinamarqueza, Sueca, Hollandeza, Gallesa, Fialandeza, Húngara, Bohemia, e Italiana, e agora os milhões de povo qie falam 0 Portuguez têem este thesouro espiritual na sua própria lingua. [Vii] CONTEÚDO. Pagina. 0 Amor de Deos ao Homem . . . .11 0 Peccador Precisa de Christo . . . 22 Arrependimento.........................................29 Confissão........................................................................^ Consagração ................................................................ ^ Fé e AcceitaçÃo.................................................. Prova de Discipulado...............................................75 Crescimento em Christo . . . . A Obra e a Vida . . . . . . 101 A Sciençia de Deo s.................................................H° O Privilegio de Oração.............................................123 O que Fazer com a Duvida . . . 137 Regosijo no Senhor.......................................................I48 [ix] LISTA DE ILLUSTRACÕES. Pagina. “Senhor, Salva! ou Eu Pereço” Frontispicio. A Natureza Revela a Deos . . . . 12 O Osculo Traidor....................................................30 O Salvador “Levantado” . . . . 37 O Phariseu e o Publicano . . . . 42 A Cura do Paralytico............................................69 “Teme a Deos, e Guarda os Seus Manda­ mentos ” .............................................................81 “O Senhor é o meu Rochedo e o meu Lugar Forte ” ...................................................................95 Christo Ensinando o Povo . . . . 110 O Altar da Família.............................................123 Uma LiçÃo das Flores..................................................150 “As Aves do Ceo”....................................................160 [x] PASSOS Á CHRISTO O AMOR DE DEOS AO HOMEM. TTnaTUREZA e a revelação do mesmo modo teste- / ' ficam do amor de Deos. O nosso Pae do céo é o manancial de vida, de sabedoria, e de gozo. Olhai para as admiráveis e bellas cousas da natureza. Pensai da sua maravilhosa adaptação ás precisões e felicidade, não só do homem, mas de todas as creaturas viventes. O sol brilhando e a chuva, què alegram e refresçam a terra, os montes e mares e planices, todos nos falam do amor do Creador. E Deos que suppre as necessi­ dades diarias de todas as Suas creaturas. Nas lindas palavras do Psalmista :— "Os olhos de todos esperam em Ti, Senhor: E Tu lhes dás o sustento em tempo opportuno. Tu abres a tua mão: E enches a todo o animal de benção.”1) Deos fez o homem perfeitamente santo e feliz; e a bella terra, assim como ella veiu da mão do Creador, 1) 1 Psal. 144 :15.16. [11] 12 PASSOS Á CHBISTO. não tinha mangra de decadência ou sombra de maldi­ ção. É a transgressão da lei de Deos — a lei de amor — que ha trazido miséria e morte. Todavia ainda no meio do soffrimento que resulta do peccado o amor de Deos é revelado. Está escrito que Deos amaldiçoou a terra por causa do homem.2) O espinho e o cardo, as difficuldades e provações que enchem a sua vida de lida e cuidado, foram apontadas para o seu bem, como uma parte do ensino necessário no plano de Deos para a sua elevação da ruina e degradação que o peccado havia obrado. O mundo, embora decahido, não é todo tristeza e miséria. Na mesma natureza estão mensa­ gens de esperança e conforto. Hão flores sobre os cardos, e os espinheiros estão cubertos de rosas. “Deos é amor,” está escrito sobre cada botão que aponta, e sobre cada espiga da erva nascente. Os amaveis passaros fazendo o ar vocal com as suas feli­ zes canções, as delicadamente tintas flores na sua per­ feição perfumando o ar, as elevadas arvores da floresta com a sua rica folhagem de verde vivo — todos testé- ficam do terno, paternal cuidado do nosso Deos, e do seu desejo de fazer os Seus filhos felizes. A palavra de Deos revela o Seu caracter. Elle mesmo ha declarado o Seu infinito amor e piedade. Quando Moyses orou, “Mostra-me a Tua gloria,” o Senhor respondeu, “Eu farei passar, toda a Minha bondade por deante de ti.”3) Isto é a sua gloria. O Senhor passou por deante de Moyses e proclamou, s) Gen. 3 :17. s) Ex. 33 :18.19. (Almeida Rev.) A NATUREZA REVELA A DEOS. 0 AMOR DE DEOS AO HOMEM. 15 “Dominador, Senhor Deos, misericordioso e clemente, sofredor e de muita compaixão, e verdadeiro, que guardas misericórdia em milhares de gerações; que tiras a iniquidade, e as maldades, e os peccados.”4) “Elle é paciente, e de muita commiseração,”5) “porque lhe apraz fazer misericórdias. ” 6) Deos tem ligado nossos corações a Elle por innume- raveis penhores no céo e na terra. Pelas cousas da natureza, e os mais fundos e ternos laços terrestres que corações humanos podem conhecer. Elle tem procurado revelar-Se á nós. Com tudo estes apenas imperfeita­ mente representam o Seu amor. Ainda que todas estas evidencias havião sido dadas, o inimigo do bem cegou os intendimentos dos homens, de modo que elles olha­ ram para Deos com temor, elles pensaram d’Elle como severo e inexorável. Satanaz induziu os homens a conceber a Deos como um ente cujo principal attributo é justiça rigorosa — um que é juiz severo, um áspero, exigente credor. Elle retratou o Creador como um ente que está vigiando com olhos ciosos para descernir os erros e enganos dos homens, afim de que visite júizos sobre elles. Foi para remover esta escura som­ bra, revelando ao mundo o infinito amor de Deos, que Jesus veiu viver entre os homens. 0 Filho de Deos veiu do céo para tornar manifesto o Pae. “Ninguém jamais viu a Deos: o Filho Unige- nito que está no seio do Pae, esse é quem o deu a 4) Ex. 34 : 6. 7. *) Jonau 4: 2. e) Miq. 7 : 18. 16 PASSOS À GERISTO. conhecer.”7) “E ninguém conhece o Filho senão o Pae : nem alguém conhece o Pae senão o lilho, e a quem o Filho o quizei revelar. s) Quando um dos discípulos fez o pedido, “Mostra-nos o Pae.” Jesus respondeu, ‘ ‘ Ha tanto tempo que estou comvosco: e ainda mc não tendes conhecido? Filippe, quem me vê a mim, vê também o Pae. Como dizes tu logo: Mos­ tra-nos o Pae,” 9) Em descrever a sua missão terrestre, Jesus disse, 0 Senhor “me consagrou com a sua uncão, e enviou-me a pregar o evangelho aos pobres, a sarar aos quebran- tados de coração, a annunciar aos captivos redempção, e aos cegos vista, a pôr em liberdade aos quebrantados para seu resgate.”10) Este foi o Seu trabalho. Elle andou fazendo bem, e sarando todos os que eram op- primidos por Satanaz. Havião aldeias inteiras onde não havia um lamento de doença em qualquer casa; porque Elle havia passado por ellas, e sarado todos os seus doentes. O Seu trabalho deu evidencia da Sua Santa unção. Amor, clemencia, e compaixão forám revela­ dos em cada acto da Sua vida; o Seu coraçãq abriu-se em terna sympathia aos filhos dos homens. Elle to­ mou a natureza de homem, de modo que chegasse ás faltas do homem. Os mais pobres e humildes não temiam approxima-Lo. Até criancinhas eram attrahi das á Elle. Ellas amavam subir sobre os seus joelhos, e olhar attentamente para aquella face pensativa, be­ nigna com amor. 7) João 1 : 18. io) Lucas 4 : 18.19. 8) Math. 11 : 27. «) João 14 . 8. 9 0 AMOR DE DE OS AO HOMEM. 17 Jesus não supprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor. Elle exercitou o maior tino, e cuidadosa, bondosa attenção nas suas relações com 0 povo. Elle nunca foi rude, nunca desnecessaria­ mente falou uma palavra severa, nunca deu uma des­ necessária dor a uma alma sensitiva. Elle não censurou fraqueza humana. Elle falou a verdade, mas sempre em amor. Elle denunciou hypocrisia, incredulidade, e iniquidade; mas lagrimas estavam na Sua voz em quanto que Elle proferia as Suas reprehensões talhan- tes. Elle chorou sobre Jerusalem, a cidade que Elle amou, a qual recusou recebe-Lo, o Caminho, a Verdade, e a Vida. Elles haviam rejeitado-O, o Salvador, mas Elle olhou-os com ternura piedosa, A Sua vida foi uma de abnegação e cuidado attento por outros. Cada alma éra preciosa aos Seus olhos. Emquanto que Elle sempre Se portou com dignidade Divina, Elle curvou- se com a mais terna consideração á cada membro da familia de Deos. Em todos os homens Elle viu almas decahidas, os quaes era Sua Missão salvar. Tal é o caracter de Christo como revelado na Sua vida. Este é o caracter de Deos. É do coração do Pae que os arroios de compaixão Divina, manifestos em Christo, dimanam aos filhos dos homens. Jesus, o terno, compassivo Salvador, era “Deos se manifestou em carne. ” n) Foi para remir-nos que Jesus viveu e soffreu e mor­ rem Elle foi “um varão de dores,” afim de que nós 1 1 Tim. 3 : 16. 18 PASSOS Á CHRISTO. sejamos partecipantes de gozo eterno. Deos permittiu o Seu querido Filho, cheio de graça e verdade, vir d’um mundo de gloria indescriptivel, á um mundo arruinado e queimado com o peccado, escurecido com a sombra da morte e a maldição. Elle permit- tiu-0 deixar o Seio do seu amor, a adoração dos anjos, para soffrer vergonha, insulto, humiliação, odio, e a morte. “O castigo que nos devia trazer a paz, cahiu sobre Elle, e nós fomos sarados pelas Suas pizaduras.” *’) Véde-0 no deserto, em Gethsemani, sobre a cruz. ü immaculado Filho de Deos tomou sobre si a carga do peccado. Elle que havia sido um com Deos, sentiu em Sua alma a temivel separação que o peccado causa entre Deos e o homem. Isto arrancou de Seus lábios o angustiado brado, “Deos meu, Deos meu, porque me desamparaste.”13) Era a carga do peccado, o sen­ tido de sua terrível enormidade, da sua separação da alma fóra de Deos — foi isto que quebrou o coração do Filho de Deos. Mas este grande sacrifício não foi feito com o fim de crear no coração do Pae amor pelo homem, não para fazer Deos desejoso de Salvar. Não, não, “Porque Deos assim amou ao mundo, que lhe deu a Seu Filho Unigenito.”11) O Pae ama-nos, não por causa da grande propiciação, mas Elle preparou propiciação porque nos ama. Christo foi o medio pelo qual Elle podia der­ ramar o Seu infinito amor sobre um mundo decahido, “Porque certamente Deos estava em Christo reconce- 12) Isa. 53 : 5. is) Math. 27 : 46. 14) João 3 : 16. O AMOR DE DEOS AO HOMEM. 19 liando o mundo com Sigo. ”15) Deos soffreu com o Seu Filho. Na agonia de Gethsemani, a morte do Calvá­ rio, o coração de Infinito Amor pagou o preço da nossa redempção. Jesus disse, “Por isso meu Pae me ama : porque eu ponho a minha vida para outra vez a assumir.’10) Isto é, Meu Pae tanto vos amou que Elle até Me ama mais por Eu dar a Minha vida para vos remir. Em tornar-Me vosso Substituto e Fiador, em entregar a Minha vida, em tomar as vossas dividas, vossas trans­ gressões, Eu tornei-Me querido a Meu Pae ; pois que pelo Meu sacrifício, Deos pode ser “justo, e Justi- ficador d’aquelle que tem a fé de Jesus Christo.”17) Ninguém senão o Filho de Deos podia conseguir a nossa redempção ; pois só Elle que estava no seio do Pai podia declara-Lo. Só aquelle que conheceu a altura e profundidade do amor de Deos podia faze-lo manifesto. Nada menos de que o infinito sacrifício feito por Christo a favor do homem decahido podia expressar o amor do Pae á per­ dida humanidade. “Deos assim amou ao mundo que lhe deu a Seu Filho Unigenito.” Elle deu-0 não só para viver entre os homens, tomar os Seus peccados, e morrer o seu sacrificio; Elle deu-0 á decahida raça. Christo identificaria-Se com os interesses e preçisões da humanidade. Aquelle que era um com Deos ha Se li­ gado com os filhos dos homens por laços que nunca serão quebrados. Jesus “não tem rubor de lhes cha­ 15) 2 Cor. 5 : 19. is) João 10 : 17. ii) Bom. 3 : 26. 20 PASSOS Á CHRISTO. mar irmãos.” 18) O nosso Sacrifício, o nosso Advogado, o nosso Irmão, levando a nossa forma humana deante do throno do Pae, e por séculos eternos um com a raça que Elle ha remido — O Filho do homem. E tudo isto para que o homem seja levantado da ruina e de­ gradação do peccado, afim de que elle reflecte o amor de Deos, e partilhe do gozo de Santidade. O preço pago pela nossa redempção, o infinito Sa­ crifício de nosso Pae celestial em dar Seu Filho á morrer por nós, deve dar-nos exaltadas concepções do que nós viremos a ser por meio de Christo. Conforme o inspirado Apostlo João vê a altura, a profundidade, a largura do amor do Pae á perecivel raça, elle fica cheio de adoração e reverencia, e faltando-lhe linguagem adequada pela qual expresse a grandeza e ternura deste amor, elle chama pelo mundo para vê-lo. “Conside­ rai qual foi o amor que nos mostrou o Padre, em que­ rer que nós sejamos chamados filhos de Deos, e com affeito o sejamos.”19) Que valor isto poé sobre o homem ! Por transgressão os filhos do homem são su­ jeitos á Satanaz. Por fé no sacrifício expiatório de Christo, os filhos de Adão poderão tornar-se os filhos de Deos. Em tomar a natureza humana Christo eleva a humanidade. Os homens decahidos estão postos onde, mediante connecção com Christo, elles possão realmente tornarem-se dignos do nome 1 ‘ filhos de Deos.” Semelhante amor é sem parallelo. Filhos do Ftei 18) Heb. 2 : 11. is) I João 3 : 1. AMOR DE DEOS AO HOMEM. 21 celestial! Preciosa promessa ! Thema para a mais pro­ funda meditação ! O incomparável amor de Deos por um mundo que não O amou ! O pensamento tem um poder subjugante sobre a alma, e traz o intendimento em captiveiro á vontade de Deos. Quanto mais estu­ damos o caracter Divino á luz da Cruz, tanto mais nós vemos misericórdia, ternura, e perdão ligados com equidade e justiça, e tanto mais claramente descerni- mos innumeraveis evidencias do amor que é infinito, e terna piedade excedendo a sympathia de mãe saudosa de seu filho extraviado. “ Todo o laço humano poderá findar, Amigo ao Amigo infiel tornar, Mãeis seus filhos de nutrir cessarem, Céo e terra em fim mudarem ; Mas nunca pode mudança alguma Accompanhar o amor de Jehovah.” Stefs to Christ. — Portuguese. 2 O PECCADOR PRECISA DE CHRISTO. £\ HOMEM era originalmente dotado de nobres facul- Xj dades e uma intellegencia bem equilibrada. Elle era perfeito em seu ser, e em harmonia com Deos. Seus pensamentos erão puros, seus intentos santos. Mas em razão de desobediencia as suas faculdades perverterão-se, e o egoismo tomou o lugar de amor. A Sua natureza tanto enfraqueceu por meio de trans­ gressão, que era impossível á elle, no seu proprio alento, resistir o poder do mal. Elle foi feito captivo por Satanaz, e assim haveria continuado para sempre, se Deos não houvera especialmente intervido. Era o intento do tentador atravessar o plano divino na Crea- ção do homem, e encher a terra de desgraça e desola­ ção. E elle apontaria para todo este mal como o resultado da obra de Deos em crear o homem. Em seu estado santo o homem tinha alegre communhão com Aquelle “no qual estão encerrados todos os the- souros da Sabedoria, e da Sciencia.”1) Mas depois do seu peccado, elle não poude mais achar gozo em Santidade, e procurou esconder-se da presença de Deos. Esta é ainda a condição do cora­ ção não renovado. Elle não está em harmonia com i) Col. 2 : 3. [22] 0 PECCADOR PRECISA DE CHRISTO. 23 Deos, e não acha gozo em communhão com Elle. 0 peccador não podia estar feliz na presença de Deos: elle recuaria da companhia de entes Santos. Em caso que lhe fôra permittido entrar no Céo, lá não haveria alegria para elle. O espirito de amor desenteressado que alli reina — cada coração correspondendo ao cora­ ção de Amor Infinito, não tocaria corda respondente em sua alma. Os seus pensamentos, seus interesses, seus motivos, serião estranhos áquelles que movem os santos moradores alli. Elle seria uma nota discordante na melodia do Céo. O Céo seria-lhe um lugar de tor­ tura : elle desejaria esconder-se d’aquelle que é a sua luz, e o centro do seu gozo. Não é algum decreto arbitrário da parte de Deos que exclue os impios do Céo: elles são excluídos pela sua própria incapacidade para a companhia de lá. A gloria de Deos seria a elles um fogo consumidor. Elles almejarião a destrui­ ção afim de serem escondidos da face daquelle que morreu para os remir. É-nos impossível, de nós mesmos, escaparmos do abysmo do peccado no qual estamos afundados. Os nossos corações são máuos, e não os podemos mudar. “Quem póde fazer puro ao que foi concebido de im- munda semente ? Quem ? Senão tu que és só ? ”2) ‘ ‘ Porque a sabedoria da carne é inimiga de Deos : pois não é sujeita á lei de Deos, nem tão pouco o póde ser. ”3) Educação, cultura, o exercecio da vontade, es­ forço humano, todos têem a sua própria esphera, mas s) Job 14 : 4. ») Rom. 8 : 7. 24 PASSOS  CIIRISTO. aqui elles não têem poder. Elles poderão produzir uma exterior exactidão de comportamento, mas não podem mudar o coração : elles não podem purificar as fontes da vida. É preciso haver um poder sortindo ef- feito de dentro ; uma nova vida lá de cima, antes que os homens possão ser mudados do peccado á Santidade. Esse poder é Christo. Só a sua graça pode vivificar as mortaes faculdades da alma, e attrahi-la á Deos, á Santidade. 0 Salvador disse: “Não póde ver o reino de Deos, senão aquelle que renascer de novo,”4) receber novo coração, novos desejos, intentos, e motivos, que con­ duzem á nova vida. A idéa que é necessário só de- r seQvolver o que ha de bom no homem por natureza, é um engano fatal. “O homem animal não percebe aquellas cousas, que são do Espirito de Deos : porque lhe parecem uma estultiçia, e não as póde intender : porquanto ellas se ponderão espiritualmente.”5) “Não te maravilhes de eu te dizer : importa-vos nascer outra vez.”6) De Christo está escripto, “Nelle estava a vida, e a vida era a luz dos homens ; ”7) “ do Céo aba­ ixo nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos.”8) Não é bastante perceber a amavel benignidade de Deos, ver a sua benevolencia, a paternal ternura do seu caracter. Não e bastante descernir a sabedoria e justiça da sua lei, para ver que ella é fundada sobre 4) João 3 ; 3. P João 1 : 4. «) João 3 : 7. 8) Actos 4 : 12. 6) 1 Cor. 2 : 14. O PECO APOR PRECISA DE QHRISTO. 25 o eterno principio de amor. Paulo o apostolo viu tudo isto quando elle exclamou, “Eu consinto com a lei, tendo-a por boa.” “Assim que a lei é na verdade santa, e o mandamento é santo, e justo, e bom.”9) Mas elle accrescentou no amargor da ancia de sua alma, “ Eu sou carnal, vendido para estar sujeito ao pecca­ do.”10) Elle com ardor desejou a pureza, a justiça, as quaes em si mesmo elle era impotente para attin- gir, e bradou, “Infeliz homem eu, quem me livrará do corpo d’esta morte.”11) Semelhante é o brado que tem subido de corações opprimidos em todas as terras e em todos os séculos. Á todos, ha só uma resposta, “ Eis-aqui o Cordeiro de Deos, eis-aqui o que tira o peccado do mundo.”12) Muitas São as formas pelas quaes o Espirito de Deos tem procurado elucidar esta verdade, e faze-la clara ás almas que anciosamente desejão ser livres da carga da culpa. Quando, depois de seu peccado em enganar Esaú, Jacob fugiu da casa de seu pae, elle estava abatido com a convicção da sua culpa. Sozi­ nho e exilado como elle se achava, separado de tudo quanto havia feito a vida cara, o pensamento parti­ cular, que sobre todos, apertava sobre a sua alma, era o temor que o seu peccado o havia separado de Deos, e que elle estava desamparado do Céo. Com tristeza elle deitou-se para descançar sobre a nua terra, ao re­ dor d’elle unicamente, os solitários montes, e por cima, ») Rom. 7 : 16. 12. n) Rom. 7: 24. io) Rom. 7 : 14. is) João 1 : 29. 26 PASSOS Á CHRISTO. os Céos brilhantes d’estrellas. Em quanto elle dormia, uma estranha luz rompeu sobre a sua visão ; e eis-que da planice onde elle estava deitado, vastas sombrias escadas parecião conduzir para cima ás próprias portas do Céo, e sobre ellas anjos de Deos subião e descião ; em quanto que da gloria em cima, a divina voz foi ouvida n’uma mensagem de comforto e esperança. D’esta maneira foi feito conhecer a Jacob aquillo que satisfez a precisão e desejo ardente de sua alma, o Salvador. Com alegria e gratidão elle viu revelado o meio pelo qual elle, um peccador, poderia ser restaurado á communhão com Deos. A mystica escada do seu sonho representou Jesus, o unico medio de communh cação entre Deos e o homem. Esta é a mesma figura á qual Christo referiu na sua conversação com Nathanael, quando elle disse: “Na verdade, na verdade vos digo, que vereis o Céo aberto, e os anjos de Deos subindo e descendo sobre o Filho do homem.”12) Na apostasia, o homem alie­ nou-se de Deos ; a terra foi apartada do Céo. Atra- vez do golfo que havia entre meio, não podia haver communicação. Mas por meio de Christo, a terra é outra vez ligada com o Céo. Com os seus proprios méritos, Christo tem lançado uma ponte atravez do golfo que o peccado havia feito, de modo que os anjos administrantes podem ter communicação com o homem, Christo liga o homem decahido, em sua fraqueza e desamparo, com o manancial de infenito poder. 12) João 1 : 51. 0 PECCADOR PRECISA DE CHRISTO. 27 Mas em vão são os sonhos do homem acerca de pro­ gresso, em vão todos os esforços para levantar a huma­ nidade, em caso que negligão o unico manancial d’espe- rança e socorro ao decahido genero humano. ‘ ‘ Toda a dadiva em extremo excellente e todo o dom perfeito vem lá de cima, e desce do Pae das luzes.”13) Não ha verdadeira excellencia de caracter separadamente d elle. E o unico Caminho a Deos e Christo. Elle diz, “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida; ninguém vem ao Pae, senão por mim.’ 14) O coração de Deos commove-se por seus terrestres filhos com um amor mais forte de que a morte. Em dar seu Filho, elle ha derramado sobre nós o Céo in­ teiro n’um dom. A vida e morte e intercessão do Salvador, o ministério de anjos, a advocacia do Espi­ rito, o Pae obrando sobre e por todos, o incessante interesse de entes celestiaes ; todos estão alistados a favor da redempção do homem. 0, contemplemos o maravilhoso sacrifício que ha sido feito por nós ! Procuremos apreciar o labor e energia que o Céo está despendendo para reclamar os per­ didos, e traze-los outra vez á casa do Pae. Motivos mais fortes, e agencias mais poderosas, jamais poderião ser postas em operação ; as excedentes recompensas por obrar direito, o gozo do Céo, a sociedade dos anjos, a communhão e amor de Deos e de seu Filho, a ele­ vação e extensão de todas as nossas faculdades por séculos eternos, não são estes poderosos incentivos e i») Tiago 1 : 17. 14) JoSo 14 : 6. 28 PASSOS Á CHRISTO. estímulos q„e r.os urgem a darmos o amavel serviço do coração ao nosso Creador e Redemptor ? E, pelo outro lado, os juízos de Deos pronunciados contra o peceado, a retribuição inevitável, a degradação de nosso caracter, e a final destruição, estão apresen- tados na palavra de Deos para nos avizar contra o serviço de Satanaz. Não consideraremos nós a misericórdia de Deos ? Que mais poderia elle fazer? Ponhamo-nos em pro’ pria e justa relação com aquelle que nos amou com um amor admirável. Aproveitemo-nos dos meios que nos são providos afim de que mis sejamos transformados á sua semelhança, e sejamos restaurados á companhia com os anjos administradores, á harmonia e conviveu- cia com o Pae e o Filho. ARREPENDIMENTO. /@)0M0 será o homem justo com Deos ? Como será V. ° peccador feito recto ? É só por meio de Christo que nós somos trazidos a harmonia com Deos, com santidade ; mas como viremos nós a Christo ? Muitos estão fazendo a mesma pergunta que fez a multidão no dia de Pentecoste quando convencidos de peccado, elles exclamaram, “Que faremos nós, varões irmãos ?” A primeira palavra da resposta de Pedro foi, “Arre­ pendei-vos.” N’outra occasião, em seguida, elle disse, ‘ ‘ Por tanto arrependei-vos, e convertei-vos, para que os vossos peccados vos sejão perdoados.”1) Arrependimento inclue pezar pelo peccado, e desviar- se d’elle. Nós não renunciaremos o peccado senão vir­ mos quão peccaminoso elle é ; em quanto não nos separarmos d’elle de coração, não haverá mudança real na vida. Hão muitos que falhão em intender a verdadeira natureza de arrependimento. Multidões intristeçem-se de haver peccado, e até entram n’uma reformação ex­ terior, porque temem que o seu mau proceder trará soffrimento sobre elles mesmos. Mas isto não é arre­ pendimento no sentido da Biblia. Elles lamentão o 1) Actos 2 : 38; 3 ; 19. [29] 30 PASSOS  CHRISTO. soffrimento, antes que o peccado. Semelhante foi a tiisteza de Esáu quando elle viu que a primogenitura fôra-lhe perdida para sempre. Balaão, terrorizado pelo anjo estando no seu caminho com a espada desembai- nhada, reconheceu a sua culpa com medo que perdería a sua vida ; mas não houve alli genuino arrependimento pelo peccado, nenhuma conversão do intento, nenhum aborrecimento do mal. Judas Iscariotes, depois de trahir seu Senhor, exclamou, Eu “pequei, entregapdo o sangue mnocente. ”2) A confissão foi forçada de sua culpada alma por um temivel sentimento de condemnaçâo e uma terrível esperança do juizo. As consiquencias que resulta­ riam a elle enchérão-no de terror, mas não houve . funda, e dolorosa magua em sua alma, d’elle ter trahido o immaculado Filho de Deos, e negado o Santo d’Is- rael. Quando Faraó soffreu sob os juizos de Deos, elle reconheceu o seu peccado com o fim de escapar de mais castigo, mas elle voltou ao seu desafio do Céo logo que as pragas cessárão. Todos estes lamentaram os resultados do peccado, mas não se entristecéram pelo proprio peccado. Mas quando o coração rende-se á influencia do Espi­ rito de Deos, a consciência será vivificada, e o peccador descernirá alguma cousa da profundidade e Santidade da lei de Deos, o fundamento do seu governo no Céo e na terra. “A luz verdadeira, que allumia a todo o homem que vem á este mundo,”3) illumina as enco- Math. 27 : 4. s) João 1 : 9. O OSCULO TRAIDOR. ARREPENDIMENTO. 33 bertas camaras da alma, e as occultas cousas das tre­ vas são manifestas. Convicção apodera-se do entendi­ mento e coração. O peccador tem conhecimento da justiça de Jehovah, e sente o terror de comparecer, na sua própria culpa e ímmundiçia, deante do esquadri- nhador dos corações. Elle vê o amor de Deos, a for­ mosura de santidade, o gozo de pureza ; elle deseja ser purificado, e ser restaurado a communhão com o Céo. A oração de David depois da sua queda, elucida a natureza de verdadeira tristeza pelo peccado, O seu arrependimento foi sincero e fundo. Não houve alli esforço para encobrir a sua culpa ; nenhum desejo de escapar do juízo ameaçado, inspirou a sua oração. David viu a enormidade da sua transgressão ; elle viu a corrupção de sua alma ; elle aborreceu o seu pec­ cado. Não foi sómente por perdão que elle rogou, mas também por pureza de coração. Elle almejou o gozo de santidade,— a ser restaurado a harmonia e commu­ nhão com Deos. Era esta a linguagem de sua alma :— “Bemaventurados aquelles, cujas iniquidades são perdoa­ das ; e cujos peccados são cobertos. Bemaventurado o homem, a quem o Senhor não imputou peccado. E cujo espirito é isento de dólo.” “Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande mi­ sericórdia. E segundo as muitas mostras da tua clemencia, apaga a minha maldade. Lava-me mais eimais da minha iniquidade: e purifica-me do meu peccado. 34 PASSOS Á CHRISTO Porque a minha maldade eu a conheço: e o meu peccado deante de mim está sempre . . . Tu me borrifarás com o hysope, e serei purificado: lavar- me-has, e me tornarei mais branco que a neve. . . . Cria em mim, <5 Deus, um coração puro. E renova nas minhas entranhas um espirito recto. Não me arremesses da tua presença. E não tires de mim o teu Espirito Santo. .. . Livra-me dos sangues, Deus, Deus da minha salvação. E a minha lingua exaltará a tua justiça.”4) Arrependimento semelhante a este, é acima do nosso proprio alcance a conseguirmos ; elle é obtido só de Christo, o qual subiu ao alto, e deu dons aos homens. Justamente aqui está um ponto onde muitos errão, e por isso elles falhão de receber o socorro que Christo deseja dar-lhes. Elles pensão que não podem vir a Christo sem primeiro arrependerem-se, e que o arre­ pendimento prepara para o perdão de seus peccados. É verdade que o arrependimento precede o perdão dos peccados; porque só o coração quebrantado e contricto é que sentirá a precisão d’um Salvador. Mas será preciso o peccador esperar até arrepender-se, antes que possa vir a Jesus ? Tornar-se-ha o arrependimento um obstáculo entre o peccador e o Salvador? A Biblia não ensina que o peccador ha de arrepen­ der-se antes que elle possa attender ao convite de Christo, “Vinde a mim todos os que andais em tra­ balho, e vos achais carregados, e eu vos alliviarei. ”5) É a virtude que sahe de Christo que conduz ao genu- 4) Pb. 31 : 1. 2; 50 : 3-16. í) Ma th. 11 : 28. O SALVADOR “LEVANTADO.” ARREPENDIMENTO. 37 ino arrependimento. Pedro esclareceu esta matéria na sua exposição aos Israelitas, quando elle disse, “A este elevou Deos com a sua dextra por Príncipe, e por Salvador, para dar o arrependimento a Israel, e a remissão dos peccados.”®) Nada mais nos podemos arrepender sem o Espirito de Christo para acordar a consciência de que podemos ser perdoados sem Christo. Christo é a fonte de todo o bom impulso. Elle é o Unico que pode implantar no coração inimizade con­ tra o peccado. Cada desejo por verdade e pureza, cada convicção de nosso estado de peccado é eviden­ cia que o seu Espirito está movendo sobre nossos co­ rações. Jesus ha dito, “E eu quando for levantado da terra, todas as cousas attrahirei a mim mesmo.”7) Christo ha de ser revelado ao peccador como o Salvador mor­ rendo pelos peccados do mundo ; e conforme vemos o Cordeiro de Deos sobre a cruz do Calvario, o mysterio de redempção principia a revelar-se aos nossos inten- dimentos, e a bondade de Deos guia-nos ao arrependi­ mento. Em morrer pelos peccadores, Christo manifestou um amor que é incomprehensivel ; e assim como o pec­ cador vé este amor, elle suaviza o seu coração, im­ pressiona o intendimento, e inspira contricção na alma. É verdade que ás vezes os homens envergonhão se de seus caminhos peccaminosos, e largão alguns de seus maus hábitos, antes de serem conscios que elles 1 «) Actos 5 : 31. 1) João 12 : 32. 38 PASSOS Á CHRISTO. estão sendo attrahidos á Christo. Mas quando elles empregão algum esforço para reformarem-se, tocados d um sincero desejo de fazer direito, e o poder de Christo que os está attrakindo. Uma influencia da qual elles são inconscientes obra sobre a alma, e a consci­ ência é vivificada, e a vida exterior e emendada. E as~im como Christo os attrahe a olhar sobre a sua cruz, a ver aquelle o qual os seus peccados feriram o mandamento entra na consciência. A malvadez de sua vida, o enraizado peccado da alma, é-lhes revelado. Elles principiam a comprebender alguma cousa da rec- tidão de Christo, e exclamão, “0 que é o peccado, para que elle requeira um tal sacrifício por causa da redempção da sua victima ? Foi todo este amor, todo este padecimento, toda esta humiliação requerida, afim de que nós não pereçamos, mas tenhamos a vida eterna ? ” 0 peccador poderá resistir este amor, poderá resistir ser attrahido a Christo ; mas se elle não resistir, elle será trazido a Christo ; o conhecimento do plano de salvação o levará ao pé da cruz em arrependimento por seus peccados, os quaes causáram os padecimentos do caro Filho de Deos. A mesma divina intellegencia que está obrando sobre as cousas da natureza está falando aos corações dos homens, e creando um inexpressavel desejo que pede alguma cousa que elles não têem. As cousas do mun­ do não podem satisfazer o seu anhelo. 0 Espirito de Deos está intercedendo com elles para que procurem A RREPENDIMENTO. 39 aquellas cousas que só podem dar paz e descanco, a graça de Christo, o gozo de santidade. Mediante in­ fluencias vistas e não vistas, nosso Salvador está con­ stantemente occupando-se para attrahir os sentidos dos homens dos prazeres do peccado, que não satisfazem, ás infinitas bênçãos que serão d’elles n’elle. Á todas estas almas, que em vão procuram beber das cisternas rotas deste mundo, a divina mensagem é dirigida, “E o que tem sede, venha ; e o que a quer, receba de graça a agua da vida. ”8) Vós que de coração desejais alguma cousa melhor do que este mundo pode dar, reconhecei este ardente desejo como a voz de Deos a vossa alma. Pedi-lhe que vos dé arrependimento, que vos revele Christo em seu infinito amor, em sua perfeita pureza. Na vida do Salvador os princípios da lei de Deos — amor a Deos e ao homem — foram perfeitamente exemplifica­ dos. Benevolençia, desinteressado amor, era a vida da sua alma. E conforme nós o vemos, conforme a luz do nosso Salvador desce sobre nós, que nos conhe­ cemos a criminalidade de nossos corações. Talvez teuhamo-nos lisongeado, assim como fez Nicodemos, que nossa vida tem sido justa, que o nosso caracter moral é correcto, e julgamos que não é pre­ ciso humilharmos o coração deante de Deos, como o com- mum peccador; mas quando a luz de Christo brilha dentro de nossas almas, então veremos quão impuros somos ; então descerniremos o amor proprio de motivo, 40 PASSOS À GERIS TO. a inimizade contra Deos, que tem manchado cada acto da vida. Então saberemos que a nossa rectidão é com effeito como trapos sujos, e que só o sangue de Christo pode limpar-nos da corrupção do pec- cado, e renovar nossos corações na sua própria seme­ lhança. Um raio da gloria de Deos, um clarão da pureza de Christo, penetrando a alma, torna cada nodoa de de- pravação dolorosamente destincta, e poé á vista a de­ formidade e defeitos do caracter humano. Faz appa- rente os desejos immundos, a infidelidade do coração, e a impureza dos lábios. Os actos da deslealdade do peccador em tornar vã a lei de Deos, são expostos á sua vista, e o seu espirito ó ferido e affligido sob a penetrante influencia do Espirito de Deos. Elle abor­ rece-se de si mesmo conforme vê o puro, e immacu- lado caracter de Christo. Quando o propheta Daniel viu a gloria que cercava o celeste mansegeiro que lhe fôra enviado elle ficou op- primido com o sentido da sua própria fraqueza e im­ perfeição. Descrevendo o effeito da scena adimravel, elle diz, “Não ficou vigor em mim, antes se me mu­ dou até o meu semblante, e fiquei murcho, e não me assistiram forças algumas.”9) A alma assim tocada detestará o seu egoismo, abominará o seu amor pro- prio, e procurará, por meio da justiça de Christo, a pureza de coração que está em harmonia com a lei de Deos e o caracter de Christo. s) Dan. 10 : 8. ARREPENDIMENTO. 41 Paulo diz que “quanto á justiça da lei”— tanto quanto diz respeito aos actos exteriores—“elle vivia irreprehensivel; ” 10) mas quando o caracter espiritual da lei foi descernido, elle conheceu-se um peccador. Jul­ gado pela lettra da lei assim como os homens a appli- cão a vida exterior, elle havia abstido-se de peccado ; mas quando elle olhou para as profundidades de seus santos preceitos e viu-se como Deos o viu, elle curvou- se em humiliaçãô, e confessou a sua culpa. Elle diz, ‘ ‘ Eu n’algum tempo vivia sem lei. Mas quando veiu o mandamento, reviveu o peccado. E eu sou morto. ” n) Quando elle viu a natureza espiritual da lei, o pec­ cado appareceu em sua verdadeira hediondez, e a estima de si proprio foi-se embora. Deos não considera todos os peccados como de igual magnitude : hão vários gráos de culpa na sua estimação, como também na do homem ; mas por mais frívolo que este ou aquelle mau acto appareça aos olhos dos homens, nenhem peccado é pequeno na vista de Deos. O juizo do homem é par­ cial, imperfeito ; mas Deos avalia todas as cousas como ellas realmente são. O bêbado é desprezado, e é-lhe dito que o seu peccado o excluirá do Céo ; em quanto que o orgulho, amor proprio, e cobiça vezes de mais passão sem repreliensão. Mas estes são peccados que são especialmente offensivos a Deos ; pois que elles são contrários á benevolencia do seu caracter, áquelle de- senteressado amor que é a verdadeira atmosphera do não cahido universo. Aquelle que cahé em alguns dos 10) Filip. 3 : 6. u) Rom. 7 : 9. 10. Steps to Christ. — Portuguese. 3 42 PASSOS Á CHRISTO. mais grosseiros peccados poderá sentir a sua vergonha e pobreza e a sua precisão da graça de Christo ; mas o argulho não sente falta, e assim fecha o coraçáo contra Christo, e as infinitas bênçãos que elle veiu dar. O pobre publicano que orou, ‘ ‘ Meu Deos sê propicio a mim peccador, ”13) considerou-se por um muito mau homem, e outros olhavão para elle do mesmo modo; mas elle sentiu a sua precisão, e com a sua carga de culpa e vergonha elle chegou-se a Deos, pedindo a sua misericórdia. 0 seu coração estava aberto para o Es­ pirito fazer sua graciosa obra, e pô-lo livre do poder do peccado. A oração jactanciosa e justa de si pró­ pria, do Fariseo, mostrou que o seu coração estava fe­ chado á influencia do Espirito Santo. Por causa da sua distancia de Deos, elle não tinha conhecimento da sua corrupção, em contraste com a perfeição da santidade divina. Elle de nada sentiu falta, e nada recebeu. Se conheceis vosso estado de peccado, não espereis até que vos façais melhor. Quantos hão que julgão que não são bastante bons para virem a Christo! Esperais melhorar mediante vossos proprios esforços ? “ S’e um Ethiope póde mudar a sua pelle, ou um leopardo as suas malhas : podereis vós também fazer o bem, vós que não aprendeis senão a fazer o mal. ”13) Só em Deos ha soccorro para nós. Não com vem esperarmos por mais poderosas persuasões, por melhores opportu- 12 12) Lucas 18 :13. w) Jer. 13 : 23. O PHARISEU E O PUBLICANO. ARREPENDIMENTO. 45 nidades, ou por mais santas temperas. Nada podemos fazer de nos mesmos. E mister virmos a Christo as­ sim como somos. Mas ninguém se engane com o pensamento que Deos, em seu grande amor e misericórdia, ainda salvará até aquelles que rejeitam a sua graça. A excessiva cri­ minalidade do peccado póde ser avaliada sómente á luz da cruz. Quando os homens insistem que Deos é muito bom para lançar fora o peccador, elfes que olhem para o Calvario. Foi porque não havia outra maneira pela qual o homem podesse ser salvo, porque sem este sacrifício era impossível ao genero humano escapar do poder contaminador do peccado, e ser res­ taurado á communhão com entes santos — impossível a elles outra vez serem partecipantes da vida espiritual — foi por causa disto que Christo tomou sobre si a culpa dos desobedientes, e soffreu em lugar do pecca­ dor. O amor, soffrimento e morte do Filho de Deos, todos testefição da terrivel enormidade do peccado, e declaram que não ha escapula do seu poder, nenhuma esperança da vida superior, senão por meio da submis­ são da alma a Christo. Os impenitentes algumas vezes desculpão-se dizendo dos professados Christãos, ‘ ‘ Eu sou tão bom como el­ les são. Elles não são mais abnegados, sobrios ou circumspectos na sua conducta de que eu sou. Elles amão o prazer e indulgência pessoal também como eu. Assim elles tomão as faltas dos outros para desculpa da sua própria neglegencia da obrigação. Mas os pec- 46 PASSOS Á GHRISTO. cados e defeitos de outros a ninguém desculpão ; pois que o Senhor não nos deu um errante, humano mo­ delo. O immaculado Filho de Deos ha sido dado como o nosso exemplo, e aquelles que se queixão da errada conducta de professados Christãos são os que devem mostrar melhores vidas e mais nobres exemplos. Se elles têem tão alta concepção do que o Christão deve ser, então não é o seu proprio peccado tanto maior ? Elles sabem o que é direito, e comtudo recusão fa­ ze-lo. Acautelai-vos da procrastinação. Não deixeis para mais tarde o trabalho de abandonar vossos peccados, e de procurar pureza de coração por meio de Jesus. Aqui é onde milhares sobre milhares têem errado, em seu eterno damno. Eu não me deterei aqui sobre a brevidade e incerteza da vida ; mas ha terrível perigo — perigo que não é suffecientemente entendido — em demorar a ceder á supplicante voz do Espirito Santo de Deos, em escolher a viver em peccado ; pois que tal é realmente esta demora. O peccado embora pe­ queno que elle seja avaliado, só pode ser indulgido em perigo de infinita perda. O que não é vencido, nos vencerá, e effeituará a nossa destruição. Adão e Eva persuadiram-se que em tão pequena cousa como comer do fructo prohibido, não podião re­ sultar tão terríveis consiquencias como Deos havia de­ clarado. Mas esta pequena cousa foi a transgressão da immutavel e santa lei de Deos, e separou o homem de Deos, e abriu as cataraetas da morte e indizivel des­ ARREPENDIMENTO. 47 graça sobre o nosso mundo. Século apos século tem subido da nossa terra um continuo clamor de lucto. e “ todas as creaturas gemem, e estão com dores de parto atégora,”14) como consiquencia da desobediencia do homem. 0 mesmo Céo tem sentido os effeitos da sua rebellião contra Deos. O Calvario existe como um memorial do admiravel sacrifício requerido para expiar a transgressão da lei divina. Não consideremos o peccado como uma cousa trivial. Cada acto de transgressão, cada neglegencia ou re­ jeição da graça de Christo, está reagindo sobre vós mesmo ; estã endurecendo o coração, depravando a von­ tade, entorpecendo a intellegencia, e não só fazendo- vos menos inclinado a ceder, mas menos competente para ceder, ao temo rogo do Espirito Santo de Deos. Muitos estão aquietando a atribulada consciência com o pensamento que podem mudar o curso do mal quando quizerem ; que podem zombar com os convi­ tes de misericórdia, e todavia serem outra e outra vez impressionados. Elles julgão que depois de faze­ rem despeito ao Espirito de graça, depois de lançarem sua influencia no lado de Satanaz, n’um momento de terrível extremidade que podem mudar o seu rumo. Mas isto não é tão facilmente feito. A experiencia, a educação, d’uma vida inteira, tem tão completamente modelado o caracter que poucos então desejão receber a imagem de Christo. Até um mau traço de caracter, um peccaminoso de- h) Rom. 8 : 22, 48 PASSOS À CHRISTO. sejo, persistentemente nutridos, eventualmente neutra­ lizarão todo o poder do evangelho. Cada peccadora indulgência fortifica a aversão da alma contra Deos. O homem que manifesta intrepidez infiel, ou indife­ rença estolida á verdade divina, apenas colhe a ceifa que elle mesmo cemeiou. Em toda a Biblia não ha mais terrivel advertência contra zombar com o mal de que as palavras do homem sabio, acerca do peccador, “As suas mesmas iniquidades prendem ao impio, e 6 apertado com as ataduras dos seus peccados. Elle morrerá, porque não admittiu a correcção, e se achará enganado pelo excesso da sua loucura.”15 *) Christo está pronto para nos pôr livres do peccado, mas elle não força a vontade : e se por persistente transgressão a vontade mesma está inteiramente in­ clinada ao mal, e nós não desejamos ser postos livres, se não queremos acceitar a sua graça, que mais pode elle fazer ? Temos destruido a nós mesmos pela nossa de­ terminada rejeição do seu amor. ‘£ Eis aqui agora o tem­ po acceitavel, eis-aqui agora o dia da salvação. ”10) “ Se vós ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações. ”17) ‘ ‘ O homem vê o que está patente, mas o Senhor olha para o coração,”18) o coração humano com suas oppostas commoções de alegria e tristeza, o errante, travesso coração, o qual é a morada de tanta impureza e engano. Elle conheçe seus motivos, seus reaes in- 15) Prov. 5 : 22 23. u) Ileb. 3 ; 7. 8. is) 2 Cor. 6 : 2. is) 1 Keis 10 : 7. arrependimento. 49 tentos e desígnios. Ide a elle com vossa alma toda ma­ culada como ella está. Como o Psalmista, abri suas camaras aos olhos que tudo vêem, exclamando, “Pro­ va-me, ó Deos, e sonda o meu coração; pergunta- me e connece as minhas veredas. E vê, se ha em mim caminho de iniquidade: e conduze-me pelo ca­ minho da eternidade.”19) Muitos acceitão uma relegião intellectual, uma for­ ma de piedade, quando o coração não está limpo. Seja a vossa oração, “Cria em mim, o Deos, um coração puro: e renova nas minhas entranhas um es­ pirito recto.”20) Lidai verdadeiramente com vosso pro- prio coração. Sêde tão sincero, tão persistente como serieis se vossa vida mortal estivera em perigo. Isto é uma matéria que deve ser resolvida entre Deos e vossa própria alma, resolvida para a eternidade. Uma supposta esperança, e nada mais, provar-se-ha a vossa ruina. Estudai a palavra de Deos com oração. Aquella pa­ lavra apresenta deante de vós, na lei de Deos e na vida de Christo, os grandes princípios de santidade, “sem a qual ninguém verá a Deos.”21) Ella con­ vence de peccado; ella claramente revela o caminho da salvação. Dai-lhe attenção, como a voz de Deos falando a vossa alma. Conforme vêdes a enormidade do peccado, e conforme vedes como realmente sois, não cedais ao desespero. Foi peccadores que Christo veiu salvar. Nós não 1») Ps. 138 : *3. 24. ao) p8. 50 : 12. ai) Heb. 12 : 14. 50 PASSOS  CHRI8T0. temos de reconceliar Deos comnosco — 0 admiravel amor! — “ Deos estava em Christo reconceliando o mundo comsigo, . . . e elle é que poz em nós a pa­ lavra da reconceliação. ”22) Elle está anhelando pelo seu terno amor os corações de seus filhos errantes. Nenhum pae terrestre podia ser tão paciente com as faltas e erros de seus filhos, como é Deos com aquel- les que elle procura salvar. Ninguém podia pleitear mais ternamente com o transgressor. Nunca lábios humanos emittiram mais ternos pedidos ao extravi­ ado de que elle faz. Todas as suas promessas seus avizos, são apenas o suspiro de amor inexprimível. Quando Satanaz vem dizer-vos que sois um grande peccador, olhai para vosso Redemptor, e falai de seus merecimentos. Aquillo que vos ajudará é olhar para a sua luz. Reconhecei vosso peccado, mas dizei ao inimigo que “Jesus Christo veiu á este mundo para salvar aos peccadores, ”23) e que vós podereis ser salvo pelo seu incomparável amor. Jesus fez a Simão uma pergunta ácerca de dois devedores. Um devia a seu Senhor uma pequena somma, e outro devia-lhe uma somma muito grande; mas elle perdoou a ambos, e Christo perguntou a Simão qual devedor amaria mais a seu Senhor. Simão respondeu, ‘4 Creio que aquelle, a quem o credor perdoou maior quantia.”24) Nós te­ mos sido grandes peccadores, mas Christo morreu para que nós sejamos perdoados. Os merecimentos do seu sacrifício são suffecientes para apresentar ao pae a nosso SS) S Cot 5 : 19. S3) 1 Tim. 1 : 15. **) Lucas 7 : 43. ARREPENDIMENTO. 51 favor. Aquelles aos quaes elle mais perdoou mais o amarão, e estarão mais perto do seu throno para o louvar pelo seu grande amor e infinito sacrifício. É quando mais plenamente comprehendemos o amor de Deos que nós melhor realizamos a criminalidade do peccado. Quando vemos o comprimento do cabo que foi descido a nós, quando nós intendemos alguma cousa do infinito sacrifício que Christo fez a nosso favor, o coração ó derretido com ternura e contricçâo CONFISSÃO. “3 QUELLE que esconde as suas maldades, não será bem succedido ; aquelle porem que as confessar, c se retirar dellas, alcançará misericórdia.”1) As condições d’obter misericórdia de Deos, são sim­ ples e justas e razoaveis. O Senhor não requer que nos façamos alguma cousa penosa afim de alcançarmos o perdão do peccado. Isão é preciso fazermos longas e enfadonhas peregrinações, ou cumprir dolorosas pe­ nitencias, a encommendarmos nossas almas ao Deos do Céo ou expiarmos nossa transgressão ; mas aquelle que confessar e abandonar seu peccado alcançará mi­ sericórdia. O Apostlo diz, ‘ ‘ Confessai pois os vossos peccados [faltas] uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes salvos ; porque a oração do justo sendo fervo­ rosa pode muito. i) 2) Confessai os vossos peccados a Deos, o qual só os pode perdoar, e as vossas faltas uns aos outros. Se tendes dado offensa a vosso amigo ou vizinho, é mister reconhecerdes vosso aggravo, e é sua obrigação livremente perdoar-vos. Então é preciso procurardes o perdão de Deos, pois o irmão que vós offendestes é a propriedade de Deos, e em injuria-lo i) Prov. 28 : 13. [52] *) Tiago 5 : 16. CONFISSÃO. 53 peccaste contra o seu Creador e Remidor. O caso é trazido deante do unico verdadeiro mediador, o nosso Grande Sacerdote, o qual “foi tentado em todas as cousas á nossa semelhança, excepto o peccado,” e o qual compadeçe-se das nossas enfermidades, ”3) e pode limpar de toda a mancha de iniquidade. Aquelles que não têem humilhado suas almas pe­ rante Deos em reconhecimento de sua culpa, ainda não preenchérão a primeira condição de acceitação. Se nós não temos experimentado aquelle arrependi­ mento estável do qual ninguém se arrepende, e não temos com verdadeira humiliação d’alma e quebranta- mento d’espirito confessado nossos peccados, aborre­ cendo nossa iniquidade, então nunca verdadeiramente havemos procurado o perdão do peccado; e se nós nunca procuramos, nunca achámos a paz de Deos. A unica razão porque não temos a remissão dos pecca­ dos que são passados é que nós não queremos humi­ lhar nossos corações e comformarmo-nos com as con­ dições da palavra da verdade. Explicita instrucção está dada a respeito desta matéria. Confissão de pec­ cado, quer publica quer particular, deve ser sentida no fundo do coração, e livremente expressada. Não deve ser insistida do peccador. Não deve ser feita d uma maneira petulante e impensada, ou forçada da- quelles que não teem um sentido real do odioso ca­ racter do peccado. A confissão que é a effusão do intimo da alma acha seu caminho ao Deos de infinita 3) Heb. 4 : 15. 54 PASSOS  CHRISTO. piedade. 0 Psalmista diz, “Perto está o Senhor da- quelles, que têem o coração attribulado : e aos humil­ des de espirito os salvará.”4) Verdadeira confissão sempre é de caracter especifico, e accusa peccados particulares. Elles poderão ser de tal natureza que admittem a serem trazidos deante de Deos só ; poderão ser aggravos que precisão ser con­ fessados aos individuos que hajão soffrido injuria por meio d’elles ; ou poderão ser d’um caracter publico, e então devem ser tão publicamente confessados. Mas toda a confissão será defenita e a proposito, accusando os mesmos peccados de que sois culpado. Nos dias de Samuel, ós Israelitas desviaram-se de Deos. Elles soffréram as consiquencias do peccado ; pois que elles havião perdido a sua fé em Deos, per­ dido o seu descernimento do seu poder e sabedoria para governar a nação, perdido a sua confianca na sua habe- 1 idade para defender e vindicar a sua causa. Elles desviaram-se do grande Governador do Universo, e de- sejáram ser governados como érão as nações ao redor d’elles. Antes d’elles acharem paz, fizeram esta defe­ nita confissão, “Porque a todos os nossos peccados, ajuntámos o mal de pedirmos um rei.”5) O mesmo peccado do qual elles foram convencidos teve de ser confessado. A sua ingratidão opprimiu suas almas, e separou-os de Deos. Confissão não será acceitavel a Deos sem sincero arrependimento e reformação. É preciso haver decidi­ *) 1 Psal. 33 :19. «) 1 Reis 12 : 19. CONFISSÃO. 55 das mudanças na vida ; tudo o que é offensivo a Deos ha de ser posto ao longe. Este será o resultado de genuina magoa pelo peccado. A obra que de nossa parte temos a fazer está claramente posta deante de nós : “Lavai-vos, purificai-vos, tirai de deante de meus olhos a malignidade de vossos pensamentos: cessai de obrar perversamente, aprendei a fazer bem ; procurai o que é justo, soccorrei ao opprimido, fazei justiça ao orfão, defendei a viuva.”5) “E se esse impio restituir o penhor que lhe foi confiado, e se tor­ nar a seu dono os bens que furtou, se andar nos man­ damentos da vida, e não fizer nada de injusto ; elle vivirá certissimamente, e não morrerá,”7) Paulo diz, falando da obra de arrependimento, “Considerai pois quanto esta mesma tristeza que sentistes segundo Deos, produziu em vós não só de vigilante cuidado : mas tam­ bém de apologia, de indignação, de temor, de saudade, de zelo, de vingança: vós mostrastes em tudo que não tinheis culpa neste negocio.’’8) Quando o peccado tem amortecido as percepções moraes, o obrador do mal não descerne os defeitos de seu caracter, nem realiza a enormidade do mal que ha commettido ; e a não ser que elle entregue-se ao poder convincente do Espirito Santo, elle permanece em par­ cial cegueira ao seu peccado. As suas confissões não são sinceras e deveras. A cada accusação da sua culpa elle accrescenta uma apologia em desculpa de sua con- ducta, declarando que se não fôra por certas circum- «) Isa. 1 : 16. 17. í) Ezeq. 33 : 15. 8) 3 Cor 7 : 11. PASSOS  CNRISTO. 56 stancias, elle não teria feito isto ou aquillo por causa do qual elle é reprehendido. Depois de Adão e Eva haverem comido do fructo prohibido, elles foram cheios do sentimento de vergo­ nha e terror. Ao principio o seu unico pensamento éra como desculpariam o seu peccado, e escapariam a temida sentença da morte. Quando o Senhor inque- riu ácerca do seu peccado, Adão replicou, pondo a culpa em parte sobre Deos e em parte sobre a sua companheira : “A mulher que tu me déste por compa­ nheira, deu-me da arvore, e eu comi.” A mulher poz a culpa sobre a serpente, dizendo. ‘ ‘ A serpente me enganou, e eu comi.”9) Porque fizeste a serpente? Porque o permittisté vir á Eden? Estas erão as ques­ tões envolvidas na sua desculpa pelo seu peccado, d’esta maneira imputando a Deos a responsabilidade da sua queda. O espirito de justificação pessoal originou no pae das mentiras, e ha sido exhibido por todos os fi­ lhos e filhas de Adão. Confissões desta ordem não são inspiradas pelo Espirito divino, e não serão acceitaveis a Deos. Verdadeiro arrependimento levará um homem a supportar sua culpa elle mesmo, e reconhece-la sem decepção e hypocrisia. Como o pobre publicano, não levantando siquer seus olhos ao Céo, elle clamára, “Meu Deos, sê propicio a mim peccador,”10) e aquel- les que reconhecem sua culpa serão justificados; por­ que Jesus advogará seu sangue a favor da alma arre­ pendida. Os exemplos na palavra de Deos de genuino ») Gen. 3 :12. 13. io) Lucas 18 :13. CONFISSÃO. 57 arrependimento e humiliaçâo revelão um espirito de confissão na qual não entra desculpa pelo peccado, ou tentativa a justificação pessoal. Paulo não procurou escudar a si mesmo : elle pinta seu peccado na cor mais escura, não intentando dimi­ nuir sua culpa. Elle diz : “E eu encerrei em cárceres a muitos santos, havendo recebido poder dos príncipes dos sacerdotes, e quando os fazião morrer, consinti também nisso. E muitas vezes castigando-os por to­ das as synagogas, os obrigava a blasfemar; e enfure­ cendo-me mais e mais contra elles, os perseguia até nas cidades estrangeiras.” n) Elle não hesita declarar “que Jesus Christo veiu á este mundo, para salvar aos pec- cadores, dos quaes o primeiro sou eu. ”12) O coração contricto e quebrantado, subjugado por genuino arrependimento, apreciará alguma cousa do amor de Deos e o custo do Calvario ; e como um filho confessa a um pae amoroso, assim o verdadeiro peni­ tente trará todos os seus peccados deante de Deos. E está escrito, “Porém se nós confessarmos os nossos peccados : elle é fiel e justo para nos perdoar esses nossos peccados, e para nos purificar de toda a ini­ quidade. ’ 13) li) li) Actos 26 : 10. 11. is) 1 Tim. l: 15. is) I João 1: 9. CONSAGRAÇÃO. “^PROMESSA de Deos é “Vós me buscareis, e vós / me achareis; quando me buscardes de todo o vosso coração. ” 0 coração inteiro será entregue a Deos, ou a mudança nunca póde ser feita em nós pela qual nós seremos restaurados á sua semelhança. Pela natureza nós so­ mos alienados de Deos. O Espirito Santo descreve a nossa condição em taes palavras como estas : ‘4 Mor­ tos em delictos e peccados, ”2) “toda a cabeça está enferma, e todo o corpo abatido.”3) Não ha nelle cousa sã. Nós estamos presos no laço de Satanaz: ‘ ‘ em que estamos captivos á vontade d’elle. ” *) Deos deseja sarar-nos, pôr-nos livres. Mas visto que isto requer uma inteira transformação, a renovação de toda a nossa natureza, havemos de nos entregarmos comple­ tamente a elle. A guerra contra nós mesmos é a maior batalha que jamais fôra pelejada. A entrega de si mesmo, renun­ ciando tudo á vontade de Deos, requer uma lucta ; mas a alma submetter-se-ha a Deos antes que possa ser renovada em santidade. O governo de Deos não i) Jer. 29 : 13. *) Is». 1 . 5. 6. [58] s) Efes. 2 : 1. <) 2 Tim. 2 : 26. CONSAGRAÇÃO. 59 é, como Satanaz quer que pareça, fundado sobre uma cega submissão, auctoridade sem razão. Elle apella á intellegencia e consciência. “Vinde, e argui-me, diz o Senhor, ”5) é o convite do Creador aos entes que elle creou. Deos não força a vontade de suas creatu- ras. Elle não póde acçeitar homenagem que não é voluntária e intellegentemente oferecida. Submissão meramente forçada impediría todo o real desenvolvi­ mento do espirito ou caracter ; tornaria o homem um mero automato. Este não é o intento do Creador. Elle deseja que o homem, o remate do seu poder cre­ ador, alcançe o mais alto possível desenvolvimento. Elle poé deante de nós a altura de benção á qual elle deseja trazer-nos, pela sua graça. Elle convida-nos a entregarmo-nos a elle, afim de que elle óbre sua von­ tade em nós. Fica a nós escolhermos se queremos ser postos livres da escravidão do peccado, para partilhar­ mos da gloriosa liberdade de filhos de Deos. Em entregarmo-nos a Deos, é necessário largarmos tudo quanto nos separaria d'elle. Por isso diz o Sal­ vador, ‘ ‘ Assim pois qualquer de vós que não dá de mão a tudo o que possue, não póde ser meu discípulo. 6) Qualquer que seja a cousa que desviará o coração de Deos ha de ser largada. A riqueza é o idolo de mui­ tos. O amor de dinheiro, o desejo de bens, é a cor­ rente doirada que os ata á Satanaz. Reputação e honra mundana são adoradas por outra classe. A vida de descanço interesseiro e immunidade de responsabilidade s) Isa. 1 : 18. 6) Lucas . 14 : 33. Steps to Christ. — Portuguese. 4 60 PASSOS  CimiSTO. é o idolo de outros. Mas estes laços serveis hão de ser quebrados. Não podemos ser metade do Senhor e metade do mundo. Não podemos ser filhos de Deos a menos que o sejamos inteiramente. Hão aquelles que professão servir a Deos, em quanto que confião em seus proprios esforços para obedeçer a sua lei, formar um caracter justo, e assegurar a salvação. Seus corações não sao tocados d’uma funda realização do amor de Christo, mas elles procurão cumprir os deveres da vida Christã como aquillo que Deos requer d’elles com o fim de alcançar o Céo. Relegião como esta nada vale. Quando Christo habita no coração, a alma será en­ chida tanto do seu amor, do gozo de communhão com elle, que ella apegar-se-ha a elle ; e na contemplação, esquecer-se-ha de si mesma. Amor a Christo será a mola de actividade. Aquelles que sentem o amor de Deos que constrange não perguntão quão pouco poderá ser dado para fazer face aos requerimentos de Deos ; elles não inquirem pela medida mais baixa mas poém mira na perfeita conformidade com a vontade do seu Remidor. Com sincero desejo elles cedem tudo, e ma- nifestão interesse proporcionado ao valor do objecto que elles procuram. A profissão de Christo destituía deste profundo amor, é mero falar, secca formilidade, e pezada fadiga. Porventura sentis que é sacrifício grande de mais ce­ der tudo a Christo? Fazei a vós mesmo a pergunta, “O que tem Christo dado por mim?” O Filho de Deos deu tudo — vida e amor e soffrimento__pela consagração. 61 nossa redempção. E poderá ser que nós, os indignos objectos de tão grande amor, reteremos os nossos co­ rações d elle? Cada momento de nossas vidas temos sido partecipantes das bênçãos da sua graça, e por esta mesma razão não podemos plenamente realizar as profundidades dignorancia e miséria das quaes nós havemos sido salvos. Poderemos nós vigiarmos para aquelle que nossos peccados feriram, e com tudo estar­ mos prontos a fazer despeito á todo o seu amor e sacrifício? Em vista da infinita humiliação do Senhor da gloria, murmuraremos porque podemos entrar na vida tão sómente por meio de conflicto e aviltamento individual? A inquerição de muitos altivos corações é, ‘ < Porque razão hei de eu ir em penitencia e humiliação antes de poder ter a certeza da minha acçeitaçâo com Deos?” Eu aponto-vos a Christo. Elle éra santo, e mais de que isto, elle éra o Principe do Céo ; mas a favor do homem elle fez-se peccado pelo genero humano. “Elle foi posto no numero dos malfeitores ; e elle car­ regou com os peccados de muitos, e rogou pelos trans­ gressores da lei.”7) Mas o que é que nós renunciamos, quando entrega­ mos tudo? Um coração manchado do peccado para Jesus purificar, limpar pelo seu proprio sangue, e sal­ var pelo seu incomparável amor. Todavia os ho­ mens pensão que é duro entregar tudo. Eu me en­ vergonho de ouvir isto falado, me envergonho de o escrever. I) Isa. 53 : 12. 62 PASSOS  CHRISTO. Deos não requer que renunciemos cousa alguma a qual é para nosso melhor interesse retermos. Em tudo o que elle faz, elle tem em vista o bem estar de seus filhos. Oxala que todos os que não têem escolhido a Christo possão realizar que elle tem alguma cousa grandemente melhor para lhes oíferecer do que elle3 estão procurando para si mesmos. 0 homem está fa­ zendo o maior damno e injustiça á sua própria alma quando elle pensa e porta-se contrario á vontade de Deos. Nenhum gozo real póde ser achado na vereda prohibicla por aquelle que sabe o que é melhor, e o qual encaminha o bem de suas creaturas. A vereda de transgressão é a vereda de miséria e destruição. E engano enterter o pensamento que Deos se agrada de ver seus filhos soffrerem. 0 Céo todo é interessado na felicidade do homem. Nosso Pae Celestial não fe­ cha as avenidas de gozo a alguma de suas creaturas. Os requerimentos divinos chamam-nos a evitarmos a quellas indulgençias que trariam soffrimento e desapon­ tamento, e nos fechariam a porta de felicidade e o Ceo. O Redemptor do mundo acçeita os homens como elles são, com todas as suas precisões, imperfeições, e fraquezas : e elle não só purificará do peccado e ou­ torgará redempção pelo seu sangue, mas satisfará o anhelo do coração de todos quantos consentem levar o seu jugo, carregar o seu pezo. É o seu intento dar paz e descanço a todos aquelles que vêem a elle pelo pão da vida. Elle requer que nós sómente cumpramos aquelles deveres que guiarão nossos passos ás alturas CONSAGRAÇÃO. 63 de bemaventurança ás quaes os desobedientes nunca poderão attingir. A verdadeira, alegre vida da alma é ter Christo formado interiormente, a esperança de gloria. Muitos estão inquerindo, “Como hei de eu fazer a entrega de mim mesmo a Deos ? ” Desejais entregar- vos á elle, mas sois fraco em força moral, em escra­ vidão á duvida, e dominado pelos hábitos de vossa vida de peccado. Vossas promessas e resoluções são como cordas de area. Não podeis dominar vossos pen­ samentos, vossos impulsos, vossas affeições. O conhe­ cimento de vossas promessas quebradas e penhores per- didos enfraquece vossa confiança em vossa sinceridade, e faz-vos sentir que Deos não vos póde acçeitar ; mas não é necessário desesperardes. O que precisais inten­ der é a verdadeira força da vontade. Este é o poder dominante na natureza do homem, a faculdade de de­ cisão, ou de escolha. Tudo depende da boa acção da vontade. O poder de escolha Deos deu aos homens; pertence á elles exerce-lo. Vós não podeis mudar vosso coração, não podeis de vós mesmos dar a Deos suas affeições; mas podeis escolher servi-lo. Podeis dar-lhe vossa vontade, e então elle obrará “em vós o querer e o perfazer, segundo o seu beneplácito. ”9) As­ sim a vossa natureza inteira será trazida debaixo de sujeição ao Espirito de Christo ; vossas affeições serão concentradas n’elle, vossos pensamentos estarão em har­ monia com elle. ») Fihp. 2: 13. 64 PASSOS  CHRISTO. Desejos por bondade e santidade são direitos até onde chegão ; mas se parais aqui, de nada vos apro­ veitarão. Muitos serão perdidos emquanto estão espe­ rando e desejando ser Christãos. Elles não chegão ao ponto de submetter a vontade a Deos. Elles não escolhem agora a serem Christãos. Pelo justo exercicio da vontade, uma completa mu­ dança poderá ser feita na vossa vida. Em submetter vossa vontade a Christo, vós alliai-vos com a potên­ cia que está sobre todos os principados e potestades. Tereis força lá de cima para vos conservar estável, e assim em virtude de constante entrega a Deos sereis habelitados a viver a nova vida, de certo a vida de fé. FE E ACCEITAÇÃO. /®)OMO a vossa consciência ha sido viviflcada pelo V Espirito Santo, vós tendes visto alguma cousa da maldade do peccado, do seu poder, sua culpa sua miséria ; e olhais sobre elle com aversão. Vós sentis que o peccado vos ha separado de Deos, que estais em escravidão ao poder do mal. Quanto mais luctais para escapar, tanto mais sentis vossa fraqueza. Vossos mo­ tivos são impuros; vosso coração é immundo. Vós vedes que vossa vida tem sido cheia de amor proprio e peccado. Almejais ser perdoado, ser purificado, ser posto livre. Harmonia com Deos, semelhança a Elle, — o que podeis fazer para obte-la? E paz que vos precisais — o perdão e paz e amor do Céo na alma. Dinheiro não a póde comprar, intelle- gencia não a póde alcançar, sabedoria não póde che­ gar-lhe; nunca podeis esperar, pelo vosso proprio esforço, segura-ia. Mas Deos vo-la offerece como uma dadiva, “sem dinheiro e sem preço.”1) É vossa, se apenas estenderes vossa mão e pegares n’ella. O Senhor diz, “Se os vossos peccados forem como a escarlata, elles se tornarão brancos como a neve ; e se forem roxos como o carmesim, ficarão alvos como a branca lã.”2) i) Isa. 55 • 1. a) Isa. 1 : 18. [05] 66 PASSOS  CHRISTO. “E dar-vos-hei um coração novo, e porei um novo es­ pirito n’o meio de vós.”3) Vós tendes confessado vossos peccados, e de cora­ ção os tendes lançado fóra. Tendes resolvido entre- gar-vos a Deos. Agora ide a elle, e pedi-lhe que lave vossos peccados, e vos dé um novo coração. Então crêde que elle faz isto porque o tem promettido. Esta é a lição que Jesus ensinou emquanto elle esteve na terra, que o dom que Deos nos promette, havemos de crer que o recebemos, e elle é nosso. Jesus sarou o povo de suas enfermidades quando elles tinhão fé no seu poder ; elle ajudou-os nas cousas que elles podião ver, deste modo inspirando-os com confiança n’elle a respeito de cousas que elles não podião ver, — levan­ do-os a crer no seu poder de perdoar peccados. Isto elle claramente declarou na cura do homem doente de paralysia : “ Pois para que saibais, que o Filho do ho­ mem tem poder sobre a terra de perdoar peccados, disse elle então ao paralytico : Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa. ”4) Assim também João o evan­ gelista diz, falando dos milagres de Christo, “ Mas fo­ ram escritos estes a fim de que vós creais, que Jesus é o Christo Filho de Deos ; e de que crendo-o assim, tenhais a vida em seu nome. ”5) Da simples relação da Biblia de como Jesus sarou os doentes podemos aprender alguma cousa ácerca da maneira de crer n’elle para o perdão de peccados. Voltemos á hystoria do paralytico em Bethsaida. O 3) Ezeq. 36 : S6. *) Math. 9 : 6. 6) João 20 : 31. A CURA DO PARALYTICO. FÉ E ACCEITAÇÃO. 69 pobre soffredor estava sem recursos; elle não havia usado os seus membros durante trinta e oito annos. Não obstante Jesus ordenou-lhe, “Levanta-te, toma a tua cama e anda.”6) O homem doente podería dizer, ‘ ‘ Senhor, se me queres sarar, eu obedecerei á tua pa­ lavra.” Mas não, elle creu a palavra de Christo, creu que havia sido sarado, e d’uma vez fez o esforço ; elle quiz andar, e andou. Elle procedeu sob a pa­ lavra de Christo, e Deos deu a força. Elle foi sa­ rado. Da mesma maneira vós sois um peccador. Não po­ deis expiar vossos peccados passados, não podeis mu­ dar vosso coração, e fazer-vos santo. Mas Deos pro- rnette fazer tudo isto por vós mediante Christo. Vós credes aquella promessa. Confessai vossos peccados, e entregai-vos a Deos. Vós resolveis servi-lo. Tão certo como vós fazeis isto, Deos preencherá a sua palavra cm vós. Se credes a promessa — credes que estais perdoados e limpos — Deos suppre o facto; vós sois sarados justamente como Christo deu poder ao paraly- tico para andar quando o homem creu que estava cu­ rado. E assim se vós o credes. Não espereis até sentires que estais sarado, mas di­ zei, Eu crei-o ; é assim, não porque eu o sinto, mas porque Deos prometteu. Jesus diz, “Por isso vos digo, todas as cousas que vós pedirdes orando, crêde que as haveis de haver e que assim vos succederâo. ”7) Ha uma condição á esta «) João 5 : & ?} Marcos 11 : 24. 70 PASSOS  CHRISTO. promessa — que nós oramos conforme a vontade de Deos. Mas é a vontade de Deos purificar-nos do pec- cado, fazer-nos seus filhos, e habehtar-nos a viver uma vida santa. Por conseguinte podemos pedir estas bên­ çãos, e crer que as recebemos, e agradecermos a Deos que as havemos recebido. É o nosso privilegio irmos a Jesus e sermos limpos, e apresentarmo-nós deante da lei sem vergonha ou remorso. “Agora pois nada de condemnação têem os que estão em Jesus Christo ; os quaes não andão segundo a carne, mas segundo o Espirito. ”8) D ora avante não sois de vós mesmo ; sois comprado por um preço. ‘ ‘ Sabendo que haveis sido resgatado da vossa vã conversação, que recebestes de vossos pais, nao por ouro, nem por prata que são cousas corruptí­ veis ; mas pelo precioso sangue de Christo, como de um Cordeiro immaculado, e sem contaminação algu­ ma.’-9) Por este simples acto de crer a Deos, o Espi­ rito Santo ha gerado uma nova vida em vosso cora­ ção. Vós sois como um filho nascido na familia de Deos, e elle vos ama como elle ama a seu Filho. Então que vos tendes entregado a Jesus, não recu­ eis, não vos tireis d’elle, mas dia apos dia dizei, ‘ < Eu sou de Christo ; eu me entreguei á elle ; ” e pedi-lhe que vos dé o seu Espirito, e que vos guarde por sua graça. Pois assim como entregando-vos a Deos, e crendo n’elle, é que viestes a ser seu filho, assim ha­ veis de viver n elle. O Apostlo diz, ‘ ‘ Pois assim 8) Rom. 8 : 1. ») 1 Pedro 1 : 18. 19. FÉ E AOCETTAÇÃO. n como recebestes ao Senhor Jesus Christo, andai n’elle. ”10) Alguns parecem sentir que hão de estar sob novi­ ciado, e que precisão provar a Deos que estão refor­ mados, antes que possão reclamar a sua benção. Mas elles podem reclamar a benção de Deos mesmo agora. Elles hão de ter a sua graça, o Espirito de Christo, para ajudar as suas infermidades, alias elles não pode­ rão resistir o mal. Jesus ama que venhamos a elle justamente como somos, peccadores, desvalidos, depen­ dentes. Podemos vir com toda a nossa fraqueza, a nossa estulticia, a nossa criminalidade de peccado, e cahirmos á seus pés em penitencia. É sua gloria cir- cumdar-nos em seus braços de amor e ligar nossas fe­ ridas, purificar-nos de toda a impureza. Aqui é onde milhões falhão ; elles não creem que Jesus os perdoa pessoalmente, individualmente. Elles não tomão Deos conforme a sua palavra. É o privi­ legio de todos quantos se conformam com as candições, saberem para si mesmos que perdão é livremente con­ cedido á todo o peccado. Bani a suspeita que as pro­ messas de Deos não são destinadas a vós. Elias são para todo o Jrangressor arrependido. Fortaleza e graça hão sido providas mediante Christo a serem trazidas por anjos administradores á cada alma crente. Ne- nhums são tão peccadores que não podem achar força, pureza, e justiça em Jesus, o qual morreu por elles. Elle está esperando para despi-los de suas vestimentas io) Col. 2 : 6. 72 PASSOS Á CHRISTO. manchadas e pollutas do peccado, e pôr sobre elles as alvas vestes de justiça ; elle ordena-lhes que vivam, e não morram. Deos não lida comnosco como homens finitos lidam uns com 03 outros. Os seus pensamentos são pensa­ mentos de misericórdia, amor e ternissima compaixão. Elle diz, ‘ ‘ Deixe o impio o seu caminho, e o homem iniquo os seus pensamentos, e volte-se para o Se­ nhor, e haverá delle misericórdia, e para o nosso Deos : porque elle é de muita bondade para perdoar.”11) 1‘ desfiz as tuas iniquidades como uma nuvem, e os teus peccados como uma nevoa. ”12) “Porque eu não quero a morte do que morre, diz o Senhor Deos; convertei-vos, e vivei.”13) Satanaz está pronto a roubar as bemaventuradas garantias de Deos. Elle deseja tirar todo o vislumbre d’esperança, e todo o raio de luz da alma ; mas não lhe permittais fazer isto. Não deis ouvido ao tentador, mas dizei, “Jesus morreu para que eu viva. Elle ama-me, e não é sua vontade que eu pereça. Eu tenho um com­ passivo Pae Celestial; e embora eu tenho abusado do seu amor, embora as bênçãos que elle me tem dado hão sido desperdiçadas, “ Levantar-me-hei, e irei bus- çar a meu Pae, e dir-lhe-hei; Pae, pequei contra o Céo, e deante de ti: ja não sou digno de ser chamado teu filho ; faze de mim, como d’um dos teus jornalei- ros.’ A parabola diz como o errante será recebido: ‘ ‘ E quando elle ainda vinha longe, viu-o seu pae, “) I»a. 55 : 7. M) Isa. 44:33. “) Ezeq. 18:32. FÉ E ACCEITAÇÃO. 73 que ficou movido de compaixão, e correndo lhe lan­ çou os braços ao pescoço para o abraçar, e o beijou.”11) Mas ainda esta parabola terna e tocante como ella é, está longe de expremir a infinita compaixão do Pae do Céo. 0 Senhor declara pelo seu propheta, “Ecom amor eterno te amei, por isso compadecido de ti, te attrahi a mim. ”15) Em quanto o peccador está ainda longe da casa do Pae, esperdiçando a sua substancia n’um paiz estranho, o coração do Pae está compade­ cendo-se d elle ; e cada anhelo acordado na alma para voltar á Deos, é apenas a terna supplica do seu Espi­ rito, rogando, implorando, puxando o extraviado ao coração de amor de seu Pae. Com as ricas promessas da Biblia deante de vós, podeis dar lugar a duvida ? Podeis crer que quando o pobre peccador almeja voltar, almeja abandonar seus peccados, o Senhor austeramente estorva-o de vir a seus pés em arrependimento ? Longe com taes pensa­ mentos ! Nada pode damnificar vossa alma mais de que enterter semelhante cencepção de nosso Pae Celes­ tial. Elle aborrece o peccado, mas ama o peccador, e deu-se a Si Mesmo, na pessoa de Christo, de modo que todos os que querem, sejão salvos, e tenhão eter­ na bemaventurança no reino de gloria. Que linguagem mas forte ou mais compassiva poderia ser empregada de que elle escolheu na qual elle expressa o seu amor acerca de nós? Elle declara, “Acaso póde uma mulher esquecer-se do seu menino de peito, de sorte u) Lucas 15 : 18-20. H) Jer. 31 : 3 74 PASSOS  CHRISTO. que não tenha compaixão do filho de suas entranhas ? Mas se ella se esquecer d’elle, eu todavia não me es­ quecerei de ti.”10) Olhai ao alto, vós que estais receando e tremendo ; pois que Jesus vive para fazer intercessão por nós. Dai graças a Deos pela dadiva de seu querido Filho, e rogai que elle não haja morrido por vós em vão. O Espirito convida-vos hoje. Vinde com todo o vosso coração a Jesus, e podereis reclamar a sua benção. Em quanto que lêdes as promessas, lembrai-vos que ellas são a expressão de inexprimível amor e piedade. O grande coração de Infinito Amor approxima-se do peccador com compaixão illimitada. “No qual nós temos a redempção pelo seu sangue, a remissão dos peccados, segundo as riquezas da sua graça.”17) Sim, sómente crêde que Deos é o vosso auxiliador. Elle quer restaurar a sua imagem moral no homem. Assim como vos approximais á elle com confissão e arrepen­ dimento, elle também approximará a vós com miseri­ córdia e perdão. le) Isa. 49 :15. i7) Efes. 1 : 7. PROVA DE DISCIPULADO. ‘Ó0E algum pois é de Christo, é uma nova creatura, \ passou o que era velho : notai que tudo se fez J novo. ”x) Uma pessoa não poderá dizer o exacto tempo ou lu­ gar, ou delinear toda a corrente de circumstancias no processo de conversão ; mas isto não prova que elle não eslá convertido. Christo disse a Nicodemos, “0 espirito assopra onde quer : e tu ouves a sua voz, mas não sabes d’onde elle vem, nem para onde vae : assim é todo aquelle que é nascido do Espirito.”i) 2) Seme­ lhante ao vento, que ó invisível, os effeitos do qual são claramente vistos e sentidos, é o Espirito de Deos em sua obra sobre o coração humano. Aquelle poder regenerador, que nenhum olho humano póde ver, gera uma nova vida na alma ; elle cria um ente novo na imagem de Deos. Em quanto que a obra do Espirito é calada e im­ perceptível, os seus effeitos são manifestos. Se o co­ ração tem sido renovado pelo Espirito de Deos, a vida dará testemunho ao facto. Em quanto que nós não podemos fazer cousa alguma para mudar nossos cora­ ções, ou para trazer a nós mesmos em harmonia com Deos ; em quanto que não devemos de modo algum i) 2 Cor. 5 : 17. i) João 3 : 8. [75] 76 PASSOS Á CHRISTO. confiar em nós mesmos ou nossas boas obras, as nos­ sas vidas revelarão se a graça de Deos está residindo em nós. Uma mudança será vista no caracter, os hábitos, as occupações. 0 contraste será claro e decidido entre o que elles têem sido e o que são. O caracter é revelado, não por bons feitos occasionaes e más acções occasionaes, mas pela tendencia das palavras e actos habituaes. É verdade que póde haver exactidão exterior de comportamento sem o poder renovador de Christo. O amor de influencia e o desejo pela estima de outros poderão produzir uma vida bem-ordenada. Respeito pessoal poderá levar-nos a evitar a apparencia do mal. O coração interesseiro poderá cumprir acções generosas. Porque meios, então, determinaremos de cujo lado es­ tamos ? Quem tem o coração ? Com quem estão os nossos pensamentos ? De quem amamos conversar ? Quem tem as nossas mais ardentes affeições e as nossas me­ lhores energias ? Se somos de Christo, os nossos pen­ samentos estão com elle, e os nossos mais doces pen­ samentos são ácerca d elle. Tudo o que temos e somos é consagrado á elle. Nós almejamos trazer a sua imagem, respirar o seu espirito, fazer a sua vontade e compraze-lo em todas as cousas. Aquelles que são novas creaturas em Christo Jesus produzirão os fructos do Espirito, ‘ ‘ a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a lon- ganinidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a PROVA DE DISCIPULADO. 77 continência, a castidade. ” J) Elles não se conformarão mais com a sua antecedente luxuria, mas pela fé do Filho de Deos elles seguirão nas suas pisadas, reflectirão o seu caracter, e “ Santificarão a si mesmos, assim como também elle é santo. 4) As cousas que elles uma vez aborreciam, agora amam ; e as cousas que elles uma vez amavam, agora aborrecem. Os altivos e assertivos de si tornão-se mansos e humildes de coração. Os vaidosos e soberbos tornam-se sérios e modestos. Os bêbados tornão-se sobrios, e os dissolutos puros. Os vãos costumes e modas do mundo são postas de lado. Christãos procurarão não ‘ ‘ o exterior enfeite, ” ‘ ‘ mas o homem que está escondido no coração, em incorrup­ tibilidade de um espirito pacifico e modesto, que é rico deante de Deos.”5) Não ha evidencia de genuino arrependimento, a me­ nos que não obra reformação. Se elle restaura o pe­ nhor, entrega outra vez o que havia roubado, con­ fessa seus peccados, e ama a Deos e os seus semelhantes, o peccador póde estar certo que passou da morte para a vida. Quando como entes errantes, e peccadores nós vimos a Christo e vimos a ser participantes da sua graça clemente, amor brota no coração. Toda a carga é leve ; porque o jugo que Christo impoé é facel. A obrigação torna-se um deleite, e o sacrifício um pra­ zer. A vereda que antes parecia encoberta de tre- 8 8) Gal 5 : 22. 23. 4) 1 João 3 : 3. s) 1 Pedro 3, 3. 4. Steps to Christ. — Portuguese. 5 78 PASSOS À CHRISTO. vas, torna-se resplandecente com os raios do Sol da Justiça. A amabilidade do caracter de Christo será vista nos seus sequazes. Era o seu deleite fazer a vontade de Deos. Amor a Deos, zelo pela sua gloria, era o po­ der dominante na vida do Salvador. Amor embellizou e ennobreceu as suas acções. Amor é de Deos. O coração não consagrado não póde origina-lo ou produ­ zi-lo. E só achado no coração onde Jesus reina. “Nós amamos porque elle nos amou primeiro ”G) No coração renovado pela graça divina, amor é o princi­ pio de movimento. Elle modifica o caracter, governa os impulsos, domina as paixões, subjuga inimizade, e ennobrece as alTeições. Este amor, alimentado na al­ ma, adoça a vida, e espalha sobre todos em roda uma influencia que refina. Hão dois erros contra os quaes os filhos de Deos — particularmente aquelles que ha pouco vieram a con­ fiar na sua graça — especialmente precisam estar de cautella. O primeiro, do qual ja tractamos, é de vi­ giar para suas próprias obras, confiando em alguma cousa que elles possam fazer, para trazer a si mesmos a harmonia com Deos. Aquelle que está procurando tornar-se santo por suas próprias obras em guardar a lei, está intentando uma impossibilidade. Tudo o que o homem póde fazer sem Christo é polluto de egoismo e peccado. E a graça de Christo só mediante fé, que nos póde fazer santos. «) 1 João 4 : 19. TEME A DEOS, E GUARDA OS SEUS MANDAMENTOS." PROVA DE DISC1PÜLAD0. 81 0 contrario e não menos perigoso erro é, que crença em Christo desobriga os homens de guardar a lei de Deos ; visto que por fé só nós vimos a ser participan­ tes da graça de Christo, as nossas obras nada têem a fazer com a nossa redempção. Mas notai aqui que obediência não é uma mera con­ formidade exterior, mas o serviço de amor. A lei de Deos é a expressão da sua mesma natureza ; é a in­ corporação do grande principio de amor, e por isso é o fundamento do seu governo no Céo e na terra. Se nossos corações estão renovados na semelhança de Deos, se a lei divina está implantada na alma, não sera a lei de Deos executada na vida? Quando o principio de amor é implantado no coração, quando o homem é renovado após a imagem d’Aquelle que o cri­ ou, a promessa do novo pacto é cumprida, “Dando as minhas leis, as escreverei sobre os corações delles, e sobre os seus intendimentos. ” ?) E se a lei está es­ crita no coração, não dará ella molde á vida ? Obe- diençia _ o serviço e fidelidade de amor — é o verda­ deiro signal de discipulado. Desta maneira diz a Escritura, “Porque este é o amor de Deos, que guar­ demos os seus mandamentos.’ *) “Aquelle que diz que o conhece, e não guarda os seus mandamentos, é um mentiroso, e não ha n’elle a verdade. ”9) Em vez de desobrigar o homem d obediencia, é fé, e fé só, que nos faz participantes da graça de Christo, a qual nos habelita a rendermos obediência. 0 Heb. 10 : 16. 8) 1 João 5 : 3. ») 1 João 2 : 4. 82 PASSOS  CHRISTO. Nós não ganhamos salvação pela nossa obediência ; porque salvação é o dom gratuito de Deos, para ser recebido pela fé. Mas obediência é o fructo da fé. “E sabeis que elle appareceu para tomar sobre si os nossos peccados : e n’elle não ha peccado. Todo o que permanece n’elle, não pecca: e todo o que pecca, não n’o viu, nem n’o conheceu.”10 *) Aqui está a verda­ deira prova. Se nós permanecemos em Christo, se o amor de Deos habita em nós, nossos sentimentos, nos­ sos pensamentos, nossas acções, serão em harmonia com a vontade de Deos como expressada nos preceitos da sua santa lei. “ Filhinhos, ninguém vos seduza. Aquelle, que faz obras de justiça, é justo : como elle também é justo.”11) Justiça é defenida pelo estandarte da santa lei de Deos, como exprimida nos dez precei­ tos dados no Sinai. Aquella assim chamada fé em Christo que professa absolver os homens da obrigação d’obediencia a Deos, não é fé, mas presumpção. ‘ ‘ Pela graça é que sois salvos mediante a fé.”12) “Assim também a fé,, se não tiver obras, é morta em si mesma.”13) Jesus disse de si mesmo antes de vir a terra, “Deleito-me em fa zer a tua vontade, ó Deos ; sim, a tua lei está dentro do meu coração.”14) E justamente antes d’elle subir ao Céo elle declarou, ‘ ‘ Eu guardei os preceitos de meu Pae, e permaneço no seu amor. ”15) A Escritura diz, “E n’isto sabemos que o conhecemos, se guardamos 10) 1 João 3 : 5. 6. 11) 1 João 3 : 7. 12) Efes. 2 : 8. 1*) Tiago 2 : 17. U) Ps. 40 : 9. (Almeida Rev.) is) João lõ : 10. PROVA DE DISCIPULADO. 83 os seus mandamentos. . . . Aquelle, que diz que está n elle, deve também elle mesmo andar, como elle an­ dou 1C) “Posto que Christo padeceu também por nós, deixando-vos exemplo para que sigais as suas pi­ sadas. ” n) A condição de vida é agora justamente o que ella sempre tem sido,— justamente o que ella foi no Pa­ raíso antes da queda de nossos primeiros paes,— perfeita obediência á lei de Deos, perfeita rectidão. Se a vida fora outorgada em alguma condição alem d’isto, en­ tão a felicidade de todo o universo seria arriscada. O caminho seria aberto para o peccado, como todo 0 seu cortejo de desgraça e miséria, ser immortali- zado. Éra possível a Adão, antes da quéda, formar um caracter justo pela obediência á lei de Deos’ Mas elle falhou de fazer isto, e por* causa do seu peccado as nossas naturezas estão decahidas, e não podemos fazer a nós mesmos justos. Visto que somos peccadores, iníquos, não podemos perfeitamente obedeçer a uma lei santa. Não temos justiça nossa própria com a qual faremos face aos direitos da lei de Deos. Mas Christo abriu um caminho d’escapada a nós. Elle viveu na terra entre provações e tentações semelhantes as que nós temos d’encontrar. Elle viveu uma vida santa. Elle morreu por nós, e agora elle offerece tomar os nossos peccados e dar-nos a sua justiça. Se vos en­ tregares á elle, e 0 acceitares como vosso Salvador, is) 1 João 2 : 3-6. u) 1 Pedro 2 : 21. 84 PASSOS  CHRISTO. então, peccadora como a vossa vida tenha sido, por sua causa sois reputados justos. O caracter de Christo está em lugar do vosso caracter, e vós sois acceitos deante de Deos exactamente como se não houveras peccado. Mais de que isto, Christo muda o coração, elle per­ manece em vosso coração pela fé. Haveis de manter esta connexão com Christo pela fé e a continua en­ trega de vossa vontade á elle ; e em quanto fazeis isto, elle obrará em vós o querer e o perfazer segundo a sua boa vontade. Por tanto podeis dizer, “ E se eu vivo agora em carne : vivo na fé do Filho de Deos, que me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”18) Assim disse Jesus á seus discipulos, “Porque não sois vós que falais, mas o Espirito de vosso Pae é que fala em vós.”15) Então com Christo obrando em vós, ma­ nifestareis o mesmo espirito, e fareis as mesmas obras — obras de rectidão e obediência. De modo que nada temos em nós mesmos de que nos gabemos Não temos fundamento para exaltação própria. 0 nosso unico fundamento d esperança é na justiça de Christo imputada a nós c maquella effeitu- ada pelo seu Espirito obrando em e por nós. Quando falamos de fé ha uma destinção que nos devemos lembrar. Ha uma qualidade de crença que é inteiramente destincta de fé. A existência e poder de Deos, a verdade de sua palavra, são factos que nem siquer Satanaz e os seus exercitos podem de coração 18) Gal 2 : 20. 1») Math. 10 : 20. PROVA DE DISCIPULADO. 85 negar. A Biblia diz, ‘ ‘ Mas também os demonios o creem, e estremeçem ; ” 20) mas isto não é fé. Onde ha não somente crença na palavra de Deos, mas submis­ são da vontade á elle ; onde o coração é cedido á elle, as affeições fixas n’elle, alli ha fé, — fé que obra por amor, e purifica a alma. Por esta fé o coração é re­ novado na imagem de Deos. E o coração que no seu estado não-renovado não é sujeito a lei de Deos, nem tão pouco o pode ser, agora deleita-se nos seus santos preceitos, exclamando com o Psalmista, “De que modo tenho eu, Senhor, amado a tua lei ? ella é a minha meditação todo o dia. ”21) E a justiça da lei é cum­ prida em nós, ‘ ‘ os quaes não andam segundo a carne, mas segundo o Espirito.”22) Hão aquelles que têem conhecido o amor de Chrmic que perdoa, e os quaes realmente desejam ser filhos des Deos, não obstante elles realizam que o seu caracter é imperfeito, a sua vida defeituosa, e estão prontos a duvidar se seus corações hão sido renovados pelo Espi- íito Santo. A taes eu direi, Não recueis em desespero. Muitas vezes teremos de curvarmo-nos e chorarmos aos pés de Jesus por causa de nossas faltas e erros ; mas não nos desanimemos. Ainda que sejamos venci­ dos pelo inimigo, não somos desamparados, não aban­ donados e rejeitados de Deos. Não; Christo está á mão direita de Deos, o qual também faz intercessão por nós. Disse o querido João, Filhinhos meus, eu vos escrevo estas cousas para que não pequeis. Mas só) Tiago 2 : 19. si) Pe. 118 : 97. 22) Rom. 8 : 1. 86 PASSOS Á CHRISTO. se algum ainda peccar temos por Advogado para com o Padre, a Jesus Christo justo.”23) E não vos esque­ çais das palavras de Christo, “0 mesmo Pae vos ama.”21) Elle deseja restaurar-vos a si mesmo, a ver a sua própria pureza e santidade reflectida em vós. E se apenas vos entregardes mesmos a elle, “quem começou em vós a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Christo.’ 24 25) Orai mais fervorosamente ; crede mais inteiramente. Conforme vimos a desconfiar de nossa própria força, confiemos no poder de nosso Re­ demptor, e nós louvaremos aquelle que é a “Salva­ ção do meu rosto, e Deos meu.’ 20) Quanto mais perto vos chegares a Jesus, tanto mais culpado apparecereis aos vossos olhos ; porque a vossa visão será mais clara, e as vossas imperfeições serão vistas em largo e destincto contraste com a sua per­ feita natureza. Isto é evidencia que as illusões de Satanaz têem perdido o seu poder ; que a vivificante influencia do Espirito de Deos está despertando-vos. Nenhum profundo amor a Jesus póde residir no co­ ração que não realiza a sua própria criminalidade do peccado. A alma que está transformada pela graça de Christo admirará o seu caracter divino ; mas se não vemos a nossa própria deformidade moral, é evidencia indubitavel que ainda não tivemos uma vista da for­ mosura e excellencia de Christo. Quanto menos virmos para estimar em nós mesmos, 23) 1 João 2 : 1. 26) Filip. 1 : 6. 24) João 16 : 27. 26) Ps. 41 : 12, PROVA DE DISCIPULADO. tanto mais veremos para estimar na infinita pureza e amabilidade do nosso Salvador. Uma vista de nosso estado peccador impelle-nos áquelle que póde perdoar; e quando a alma, realizando a sua fraqueza diligencia chegar a Christo, elle revelar-se-ha em poder. Quanto mais a nossa razão de falta impelle-nos á elle e á pa­ lavra de Deos, tanto mais elevadas vistas teremos do seu caracter, e tanto mais inteiramente nós reflectire- mos a sua imagem. 87 CRESCIMENTO EM CHRISTO. 3 MUDANÇA de coração pela qual viemos a ser filhos de Deos é na Biblia chamada nascimento. Outra vez, ella é comparada á germinação da boa se­ mente semeada pelo agricultor. De maneira seme­ lhante aquelles que apenas são convertidos á Christo, precisão “ como meninos recemnascidos, ” « crescer ”J) á estatura de homens e mulheres em Christo Jesus. Ou como a boa semente cemeada no campo, elles cresce­ rão e darão fructo. Isaias diz que elles “serão cha­ mados os fortes de justiça, plantas do Senhor para lhe darem gloria.”*) D’este modo da vida natural, illustrações são tiradas, para melhor nos ajudar a entender as mysteriosas verdades da vida espiritual. Nem toda a sabedoria e pericia do homem póde pro­ duzir vida no menor objecto da natureza. É só pela vida que Deos mesmo ha communicado, que quer seja planta ou quer seja animal póde viver. Da mesma maneira é só por meio da vida que vem de Deos que vida espiritual é gerada nos corações dos homens. A não ser que o homem “é nascido lã de cima,”3) eUe não póde vir a ser participante da vida que Christo veiu dar. *) 1 Pedro 2 • 2; Efes. 4 : 15. [88] s) Isa. 61 : 3. *) JoSo 3 : 3. CRESCIMENTO EM CHRISTO. 89 Assim como é com a vida, de tal modo é também com o crescimento. É Deos que traz o botão a dar flor e a flor a dar fructo. É pelo seu poder que a semente desenvolve-se, “primeiramente a herva, depois a es- piga, e por ultimo o grão grado na espiga.”á) E o propheta Oseas diz de Israel, “Israel brotará como a açucena.” Yivirão de trigo, e deitarão os seus renó- vos, como uma vinha.”5) Jesus manda-nos, “Olhai como crescem as açúcenas. ”6) As plantas e flores cres­ cem não pelo seu proprio cuidado ou anciedade ou es­ forço, mas por receber aquillo que Deos tem fornecido para ministrar á vida d’elles. A criança não póde, por alguma anciedade ou poder seu proprio, accrescen- tar á sua estatura. Nem tão pouco podeis vós, por anciedade ou esforço de vós mesmos, alcançar cresci­ mento espiritual. A planta, a criança, cresce por re­ ceber dos seus circumstantes aquillo que ministrará á sua vida,— ar, sol brilhando, e comer. O que estas dadivas da natureza são ao animal e planta, seme­ lhante é Christo áquelles que confiam n’elle. Elle é a sua “luz sempiterna,” “um sol e escudo.”7) Elle será “como um orvalho” “Israel brotará como a açucena.” Elle “descerá como a chuva sobre o vello: e como o orvalho que goteja sobre a terra.”8) Elle é a agua viva, o pão de Deos . . . que desceu do Céo, e que dá vida ao mundo. ”9) «) Marcos 4 : 28. «) Oseas 14 • 6. 8. e) Lucas 12 : 27. J) Isa. 60:19; Ps. 84 : 12. (Almeida Rev.) s) Oseas 14:6; Ps. 71: 6. •) j0ão 6 :33. 90 PASSOS  CHRISTO. No incomparável dom de seu Filho, Deos ha cercado o mundo inteiro de uma atmosphera de graça, tão real como o ar que circula ao redor do globo. Todos quan­ tos optão respirar esta atmosphera vivificante viverão, e crescerão á estatura de homens e mulheres em Christo Jesus. Como a flor pende para o sol, afim de que os raios resplandecentes possão ajudar á aperfeiçoar a sua bel- leza e symetria, do mesmo modo devemos voltar para o Sol da Justiça, para que a luz do Céo brilhe sobre nós, e que o nosso caracter desenvolva-se na semelhança de Christo. Jesus ensina a mesma cousa quando elle diz, “Per­ manecei em mim : e eu permanecerei em vós. Como a vara da videira não póde de si mesmo dar fructo, senão permanecer na videira ; assim nem vós o pode­ reis dar, senão permanecerdes em mim. . . Porque vós sem mim não podeis fazer nada. ”10) Vós estais tão dependentes de Christo, em ordem a viver uma vida santa, como a vara sobre o tronco-pae pelo crescimento e fertilidade. Separadamente d’elle não tendes vida. Não tendes força para resistir tentação ou para crescer em graça e santidade. Permanecendo n’elle podereis florescer. Derivando d’elle a vossa vida, não vos mirrareis, nem sereis infructuosos. Vós sereis “co­ mo a arvore, que está plantada junto ás correntes das aguas, que a seu tempo dará o seu fructo.”11) Muitos têem a idéa que é mister fazerem parte da 10) João 15 : 4. 5. ii) Ps. 1 : 3. CRESCIMENTO EM CHRISTO. 91 obra sós. Elles têem confiado em Christo por o per­ dão do peccado, mas agora elles procuram pelos seus proprios esforços viver acertadamente. Mas todo o esforço semelhante ha de falhar. Jesus diz, “Vós sem mim não podeis fazer nada. ” O nosso crescimento em graça, o nosso gozo, a nossa utilidade — todos de­ pendem da nossa união com Christo. E pela commu- nhão com elle, diaramente, cada hora,— por permane­ cer n’elle,— que havemos de crescer em graça. Elle é não só o auctor mas o aperfeiçoador da nossa fé. E Christo primeiro e ultimo e sempre. É preciso elle estar comnosco, não só no principio e no fim da car­ reira, mas a cada passo do caminho. David diz, ‘ ‘ Contemplava eu sempre ao Senhor deante de mim : por quanto está á minha direita para que não seja eu commovido.”12) Vós perguntais, “Como permanecerei eu em Chris­ to?” — Da mesma maneira como o recebestes no prin­ cipio. “Pois assim como recebestes ao Senhor Jesus Christo, andai n’elle.” “O meu justo vive da fé.”13) Vos entregaste-vos a Christo, para serdes d’elle com­ pletamente, para servir e obedece-lo, e vós recebestes Christo como vosso Salvador. De vós mesmos não podeis expiar vossos peccados ou mudar vosso coração; mas tendo-vos entregado a Deos, crestes que elle em consideração de Christo fez tudo isto por vós. Pela fé viestes a ser de Christo, e pela fé haveis de cres­ cer n’elle,— por dar e receber. Haveis de dar tudo, 12) Ps. 15 : 8. is) Col. 2 ; 6; Heb. 10 : 38. 92 PASSOS  CHRISTO. — o vosso coração, a vossa vontade, o vosso serviço, — dai-vos á elle para obedecer a todos os seus requeri­ mentos ; e haveis de tomar tudo,— Christo, a plenitude de toda a benção, para permanecer em vosso coração, para ser a vossa fortaleza, a vossa justiça, o vosso sempiterno socorro, — para vos dar força para obe­ decer. Consagrai-vos a Deos de manhã ; fazei isto o vosso primeiro real trabalho. Seja a vossa oração, ‘ ‘ Accei- ta-me, o Senhor, como mteiramente teu. Eu ponho todos os meus planos a teus pés. Usa-me hoje no teu ser viço. Permanece comigo, e permitte que todo o meu trabalho seja feito em ti.” Isto é uma matéria diaria. Cada manhã consagrai-vos á Deos por aquelle dia. Cedei á elle todos os vossos planos, para serem exe­ cutados ou largados conforme a sua providencia indi­ car. Desta maneira de dia para dia podeis estar entregando a vossa vida nas mãos de Deos, e assim a vossa vida será moldada mais e mais após a vida de Christo Vida em Christo é uma vida de repouso. Talvez não haja extasis de sentimento, mas deve haver per- manecente, pacifica confiança. A vossa esperança não é em vós mesmo ; é em Christo. A vossa fraqueza está unida á sua fortaleza, a vossa fragilidade ao seu durável poderio. Assim não haveis de olhar para vós mesmo, não deixeis o intendimento fixar os olhos em si mesmo, mas olhar para Christo. Deixai o intendi­ mento demorar-se sobre o seu amor, sobre a sua bel- “O SENHOR É O MEU ROCHEDO E O MEU LUGAR FORTE.” CRESCIMENTO EM CHR1ST0. 95 leza, a perfeição, do seu caracter. Christo na sua abnegação, Christo em sua humiliação, Christo em sua pureza e santidade, Christo em seu incomparável amor, — isto é o assumpto para a contemplação da alma. É em ama-lo, copiando-o, dependendo inteiramente n’elle, que vós sereis transformados á sua semelhança. Jesus diz, “Permanecei em mim.” Estas palavras communicação a idea de descanço, estabilidade, confi­ ança. Outra vez elle convida, “Vinde a mim . . . e eu vos alliviarei. ” 14) As palavras do Psalmista expres­ são o mesmo pensamento, “ Descança no Senhor e es­ pera n’ella.” E Isaias dá a segurança, “A vossa fortaleza estará no silencio e na esperança.”15) Este descanço não é achado em inactividade : pois no con­ vite do Salvador a promessa de descanço está unida com a chamada á trabalhar : ‘ ‘ Tomai sobre vós o meu jugo . . . e achareis descanço para as vossas almas. ”1C) 0 coração que descança mais inteiramente sobre Christo será o mais sincero e activo em trabalho para elle. Quando o espirito fixa os olhos um si mesmo, elle desvia-se de Christo, o manancial de fortaleza e vida. Por isso é o constante esforço de Satanaz á desviar attenção ao Salvador, e por este meio impedir a união e communhão da alma com Christo. Os prazeres do mundo, os cuidados e perplexidades e tristezas da vida, as faltas de outros, ou as vossas faltas e imper­ feições,— á qualquer ou á todas estas elle procurará * 16 Mj Math. 11 : 28. 29. u) Psa!. 37 : 7 (Almeida Rev.); Isa. 30:15. 16) Math. 11 : 28. 29. 96 PASSOS Á CHRISTO. desviar o espirito. Não sejais desencaminhado pelos seus ardeis. Muitos que são realmente conscienciosos, e que desejão viver para Deos, elle muito a miudo in- duz á vigiar para suas faltas e fraquezas, e desta maneira por separa-los de Cliristo, elle espera ganhar a victoria. Não devemos fazer de nos mesmos o cen­ tro, e indulgir anciedade e temor se com effeito sere­ mos salvos. Tudo isto desvia a alma da fonte da nossa fortaleza. Entregai a guarda da vossa alma a Deos, e confiai n’elle. Falai e pensai de Jesus. Per- mitti que vossa pessoa seja perdida n'elle. Deitai fora toda a duvida ; dispedi vossos sustos. Dizei com o Apostlo Paulo, “Evivo, por melhor dizer, não sou eu ja o que vivo, mas Christo c que vive em mim. E se eu vivo agora em carne ; vivo na fé do filho de Deos, que me amou, e se entregou a si mesmo por mim. ’Xi) Descançai em Deos. Elle é capaz de guar dàr aquillo que vós lhe entregastes Se vos deixardes em suas mãos, elle vos fará mais que vencedor por aquelle, que vos amou. Quando Christo tomou sobre si a natureza humana, elle atou a humanidade a si mesmo por o laço de amor que nunca póde ser quebrado por poder algum salvo a escolha do homem mesmo. Satanaz constante - mente apresentará encantos para nos induzir a que­ brarmos este laço,— a optar a separar-nos de Christo. Aqui é onde precisamos vigiar, esforçar, orar, de modo que nada nos allicie a escolher outro amo ; pois sempre ip Gal. 2 :20. CRESCIMENTO EM CHRISTO. 97 estamos livres para fazer isto. Mas tenhamos nossos olhos fitos em Christo, e elle nos preservará. Olhando para Jesus estamos seguros. Nada nos poderá ar­ rebatar da sua mão. Em constantemente contempla- lo, nós “somos transformados de claridade em cla­ ridade na mesma imagem, como pelo Espirito do Senhor.”18) Foi desta maneira que os primitivos discipulos ad­ quiriram a sua semelhança ao amado Salvador. Quando aquelles discipulos ouviram as palavras de Jesus, elles sentiram a sua precisão d elle. Elles procuraram, elles acharam, elles seguiram-no. Elles estiveram com elle em casa, á mesa, na camara, no campo. Elles estive­ ram com elle como alumnos com o mestre, diariamente recebendo de seus lábios lições de verdade santa. El­ les olharam para elle, como servos para o seu amo, para aprenderem o seu dever. Aquelles discipulos eram homens “sujeitos ás mesmas paixões que nós.”19) Elles tiveram a mesma peleja com o peccado á travar. Elles precisáram a mesma graça, em ordem a viver uma vida santa. Mesmo João, o amado discipulo, o que mais plena­ mente reflectiu a semelhança do Salvador, não possuiu naturalmente aquella amabilidade de caracter. Elle não só era assertivo de si mesmo e ambicioso por honra, mas impetuoso e resentido debaixo de injurias. Mas como o caracter do Divino foi manifestado á elle, elle viu a sua própria defeciencia, e ficou humilhado pelo 18) 2 Cor. 3 : 18. 19) Tiago 5 : 17. (Almeida Rev.) Steps to Christ. — Portuguese. 6 98 PASSOS A CHRISTO. conhecimento. A fortaleza e paciência, o poder e ter­ nura, a majestade e mansidão, que elle viu na vida diaria do Filho de Deos, encheu a sua alma com ad­ miração e amor. De dia para dia o seu coração era attrahido a Christo, até elle perder de vista a si mes­ mo em amor pelo seu amo. O seu resentivo, ambici­ oso genio foi cedido ao poder transformador de Christo. A influencia regeneradora do Espirito Santo renovou o seu coração. 0 poder do amor de Christo obrou a transformação do caracter. Isto é o certo resultado da união com Christo. Quando Christo permanece no coração, a natureza inteira é transformada. O espirito de Christo, o seu amor, amolece o coração, doma a alma, e eleva os pensamentos e desejos á Deos, e o Céo. Quando Christo subiu ao Céo, o espirito da sua pre­ sença estava ainda com os seus seguidores. Era uma presença pessoal, cheia de amor e luz. Jesus, o Sal­ vador, o qual havia andado e falado e orado com el- les, que havia declarado esperança e conforto aos seus corações havia, em quanto a mensagem de paz estava ainda sobre seus lábios, sido levado d’entre elles ao Céo, e os sons da sua voz havião voltado á elles, como a nuvem de anjos o recebeu,— “ Estai certos de que eu estou comvosco todos os dias, até á consumma- ção do século. ”20) Elle havia subido ao Céo na for­ ma da humanidade. Elles sabiam que elle estava perante o throno de Deos, ainda seu Amigo e Salva- 20) MatU. 23 : 20. CRESCIMENTO EM CHRISTO. 99 dor; que as suas sympathias não haviam mudado; que elle ainda estava identificado com a humanidade soffredora. Elle estava apresentando perante Deos os merecimentos de seu proprio precioso sangue, mostrando suas feridas mãos e pés, em lembrança do preço que elle havia pago pelos seus remidos. Elles sabiam que elle havia subido ao Céo á preparar lugares para el­ les, e que elle viria outra vez, e toma-los-hia para si mesmo. Conforme elles se reuniram, depois da sua ascensão, elles estavam anciosos de apresentar seus pedidos ao Pac em nome de Jesus. Em solemne temor elles cur­ varam-se em oração, repetindo a garantia. “Se vós pedirdes a meu Pae alguma cousa em meu nome, elle vo-lo ha de dar. Vós atégora não pedistes nada em meu nome : pedi e recebereis, para que o vosso gozo seja completo.”21) Elles extenderam a mão da fé alto e mais alto, com o poderoso argumento, “Jesus Christo, que morreu, ou para melhor dizer, que também resus- citou, que está a mão direita de Deos, que também intercede por nós. ”22) E Penticoste trouxe-lhes a pre­ sença do Confortador, do qual Christo havia dito, elle “estará em vós.” E alem d’isso elle disse, “A vós con\em-vos que eu vã : porque se eu não fôr, não virá a vós o Consolador ; mas se fôr enviar-vo-ló-hei. ”2í) D ora avante mediante o Espirito, Christo permanecería continuamente n’os corações de seus filhos. A união d elles com elle era mais apertada de que quando elle 2i) João 1G : 23. 24. 22) Rom. 8 : 34. 23) João 14: l”; J6 : 7. * 100 PASSOS Á CHRISTO. estava pessoalmente com elles. A luz, e amor e po­ der cie Christo morando dentro brilhou atravez d el­ les, de modo que os homens observando, “se ad­ miravam ; e conheciam ser os que haviam estado com Jesus. ”24) Tudo o que Jesus foi aos seus primeiros discipulos, elle deseja ser aos seus filhos hoje; pois naquella ultima oração, com a piquena companhia de discipulos reunida ao redor d’elle, elle disse, “Eu não íogo so­ mente por elles, mas rogo também por aquelles que hão de crer em mim por meio da sua palaAra. ) Jesus rogou por nós, o elle pediu que nós sejamos um com elle, assim como elle é um com o Pac. Que união é esta 1 O Salvador havia dito de si mesmo, “O Filho não pode de si mesmo fazer cousa alguma mas “o Pae, que está em mim, esse é o que faz as obras.”20) Então se Christo está residindo em nossos corações, elle obrará em nós, “o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito. ”2 j Nós trabalharemos como elle trabalhou : nós manifestaremos o mesmo espirito. E assim, amando e permanecendo nelle, nós “cresce­ remos em todas as cousas naquelle, que é a cabeça, Christo.”28) 24) Actos 4 : 13. 27) Filip- 2 : 13. 25) João 17 : 20. 26) João 5 : 19; 14 : 10. 28) Efes. 4 : 15. A OBRA E A VIDA. ~T\eos o a fonte de vida e luz e gozo ao universo. Como raios de luz que vem do sol, como ar- raios de agua nascendo duma fonte corrente, bênçãos correm delle á todas as suas creaturas. E onde quer que a vida de Deos está nos corações dos homens, ella correrá a outros em amor e benção. O gozo do nosso Salvador estava no alevantamento e redempção do homem decahido. Por isto elle não considerou a sua vida preciosa a si mesmo mas sotfreu a cruz, despresando a ignomínia. Também os anjos estão sempre empregados em trabalhar pela felicidade d outros. Isto é o seu gozo. Aquillo que interessei- ros corações reputariam como serviço humilhante, mi­ nistrando áquelles que são desgraçados, e de toda a maneira inferiores em caracter e graduação, é o traba­ lho de anjos santos. O espirito do amor de Christo que sacrifica a si mesmo, é o espirito que prevalece no Céo, e é a real essencia da sua ventura. Este é o es­ pirito que os seguidores de Christo possuirão, a obra que elles farão. Quando o amor de Christo está sagradamente guardado no coração, como doce fragrancia elle não pode ser escondido. A sua santa influencia será sentida por [101] 102 PASSOS Á CHBISTO. todos com quem vimos em contacto. O espirito de Christo no coração é como uma nascente no deserto, correndo para refrescar a todos, fazendo aquelles que estão a ponto de morrer, anciosos a beber da agua da vida. Amor a Jesus será manifestado no desejo de traba­ lhar como elle trabalhou, pela benção e alevantamento da humanidade. Conduzirá a amor, desvelo, e sym- pathia a todas as creaturas do cuidado do nosso Pae Celestial. A vida de Christo na terra não foi uma vida de re- poiso e devoção a si mesmo, mas elle lidou com per­ sistente, sincero, e incansável esforço pela salvação do perdido genero humano. Desde a mangedora ao Cal­ vário elle trilhou a vereda de abnegação, e não procu­ rou ser alliviado de arduas tarefas, dolorosas jornadas, e exhaustivo cuidado e labor. Elle disse, “Assim como o Filho do homem não veiu para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em redempção por muitos.”1) Este foi a grande objecto da sua vida. Tudo o mais era secundário e subserviente. Era a sua comida e bebida fazer a vontade de Deos e acabar a sua obra. A sua pessoa e interesse pessoal não tinhão parte no seu labor. Assim aquelles que são participantes da graça de Christo serão prontos a fazer qualquer sacrifício, para que outros pelos quaes elle morreu possam ter parte na dadiva celestial. Elles farão tudo o que poderem i) Math. 20 : 28. A OBRA E A VIDA. 103 para fazer o mundo melhor pela sua estada n’elle. Este espirito é o certo crescimento da alma verdadeira­ mente convertida. Tão depressa um vem á Christo, logo é nascido no seu coração o desejo de fazer co­ nhecer a outros quão precioso amigo elle achou em Jesus ; a salvadora e santificante verdade não póde ser fechada dentro de seu coração. Se estamos vestidos com a justiça de Christo, e estamos cheios do gozo do seu espirito que reside em nós, nós não poderemos estar calados. Se temos provado e visto que o Senhor é bom, teremos alguma cousa a dizer. Como Filippe quando elle achou o Salvador, nós convidaremos ou­ tros á sua presença. Procuraremos apresentar á elles os attractivos de Christo, e as invisíveis realidades do mundo por vir. Haverá intensidade de desejo para se­ guir na vereda que Jesus trilhou. Haverá ardente de­ sejo que aquelles ao redor de nós possão ver “O Cor­ deiro de Deos, que tirá o peccado do mundo.”2) E o esforço para abençoar outros reagirá em bên­ çãos sobre nós mesmos. Foi este o intento de Deos em dar-nós parte á obrar no plano de redempção. Elle outorgou aos homens o privilegio da natureza divina, e, pela sua vez, de diffundirem bênçãos á seus semelhantes. Isto é a mais alta honra, o maior gozo, que é possivel á Deos dispensar aos homens. Aquelles que assim tornão-se participantes em traba­ lhos de amor são trazidos o mais proximo de seu Creador. 2) João 1 : 29. (Almeida.) 104 PASSOS A CHRISTO. Deos poderia ter commettido a mensagem do evan­ gelho, e todo o trabalho d’um ministério de amor, aos anjos celestiaes. Elle poderia ter empregado outros meios para cumprir o seu proposito. Mas em seu in­ finito amor elle escolheu fazer-nos cooperadores comsigo mesmo. Com Christo e os anjos, afim de que nós participemos da benção, do gozo, da elevação espiri­ tual, que resulta d’este ministério desinteressado. Somos trazidos a sympathia com Christo por meio da participação dos seus sofrimentos. Todo o acto de sacrifício pessoal pelo bem de outros enfortalece o espirito de beneficencia no coração do que dá, allian- do-o mais estreitamente com o Redemptor do mundo, ‘ ‘ que sendo rico, se fez pobre por vosso amor, afim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza.”3) E é unicamente conforme nós assim cumprimos o propo­ sito divino na nossa creação que a vida póde ser uma benção á nos. Se vós fordes trabalhar como Christo designa que todos os seus discipulos farão, e ganhar almas para elle, sentireis a precisão de expenencia mais funda e maior sciencia em cousas divinas, e tereis fome e sêde de justiça. Pleiteareis com Deos, e a vossa fé será enfortalecida, e a vossa alma beberá mais fun­ dos tragos no poço de salvação. Encontrar opposiçâo e provações vós impellirá á Biblia e á oração. Yós crescereis em graça e no conhecimento de Christo, e desenvolvereis uma rica experiencia. 3) 2 Cor. 8 : 9. A OBRA E A VIDA. 105 O espirito de trabalho desenteressado a favor dou­ tros dá profundidade, estabelidade, e amabilidade pare­ cida a Christo ao caracter, e traz paz e felicidade ao seu possuidor. As aspirações são elevadas. Não ha lugar para preguiça ou egoismo. Aquelles que desta maneira exercem as graças Christãs crescerão e tornar- se-lião fortes para trabalhar para Deos. Elles terão claras percepções espirituas, firme, crescente fé, e aug- mentado poder em oração. O Espirito de Deos ope­ rando sobre o seu espirito, evoca as sagradas harmo­ nias da alma, em resposta ao toque divino. Aquelles que assim dedicam-se á desenteressado esforço pelo bem d’outros estão mais seguramente obrando a sua própria salvação. A unica maneira de crescer em graça é estar des- enteressadamente fazendo o verdadeiro trabalho que Christo nos tem intimado, — empregar-nos até onde chega nossa habelidade, em ajudar e abençoar aquelles que precisam do socorro que lhes podemos dar. Força vem por exercisio ; actividade é a própria condição de vida. Aquelles que procuram manter a vida Christã por passivamente acceitar as bênçãos que vem medi­ ante os meios de graça, e fazendo nada por Christo, estão simplesmente procurando viver por comer sem trabalhar. E no mundo espiritual como no natural, isto sempre resulta em degeneração e decadência. O homem que recusasse exercitar os seus membros embreve perdería todo o poder dos usar. Do mesmo modo o Christâo que não exercita os poderes que Deos lhe 106 PASSOS À CHRISTO. deu, não só falha de crescer em Christo, mas elle perde a força que ja tinha. A igreja de Christo é a agencia apontada por Deos para a salvação dos homens. A sua missão é levar o Evangelho ao mundo. E a obrigação peza sobre to­ dos os Christãos. Cada um conforme o seu talento e opportunidade, cumprirá a commissão do Salvador. O amor de Christo, revelado á nós, faz-nos devedores á todos quantos não o conhecem. Deos ha nos dado luz, não para nós mesmos sómento, mas para derramar sobre elles. Se os sequazes de Christo estivessem acordados á obrigação, haveríam milhares onde hoje ha um, procla­ mando o evangelho em terras pagãs. E todos os que não podessem empregar-se no trabalho, todavia o sus­ tentariam com os seus meios, a sua sympathia, e as suas orações. E haveria muito mais ferveroso trabalho por almas nos paizes Christãos. Não é preciso irmos á paizes pagãos, ou até dei­ xarmos o estreito espaço do lar domestico, se é alli que está o nosso dever, em ordem a trabalharmos para Christo. Podemos fazer isto em casa, na igreja, entre aquelles com os quaes associamos, e com os quaes fazemos negocio. A maior parte da vida de nosso Salvador sobre a terra foi passada em lida paciente na officina de car­ pinteiro em Nazareth. Anjos administradores attende- ram o Senhor da vida conforme elle andou ao lado de camponezes e trabalhadores, desconhecido e não hon­ A OBRA E A VIDA. 107 rado. Elle estava tão íielmente cumprindo a sua mis­ são em quanto trabalhava na sua humilde occupação como quando elle sarou os doentes ou andou sobre as ondas agitadas da tempestade de Galilea. Do mesmo modo, nos humillissimos deveres e abjectissimas po­ sições da vida, poderemos andar e trabalhar com Jesus. O Apostlo diz, ‘ ‘ Cada um pois, irmãos permaneça deante de Deos no estado em que foi chamado.’-4) O homem negociante póde conduzir o seu negocio d’uma maneira que glorificará o seu Amo por causa da sua fidelidade. Se elle é um verdadeiro seguidor de Christo, elle levará a sua relegião a tudo o que é feito, e re­ velará aos homens o espirito de Christo. O mechanico poderá ser um deligente e fiel representante d’aquelle que lidou nos humildes caminhos da vida entre os montes de Galilea. Todo o que nomeia o nome de Christo deve trabalhar de tal maneira, que outros, por ver as suas boas obras, sejâo levados a glorificar o seu Creador e Remi dor. Muitos hão se desculpado de empregar seus dons no serviço de Christo porque outros eram possuídos de superiores dotes e vantagens. A openiâo tem prevale­ cido que só aquelles que são especialmente talentosos são requeridos a consagrar as suas habelidades ao ser­ viço de Deos. Chegou a ser intendido por muitos que talentos são dados unicamente a certa classe favore­ cida, á exclusão d’outros, os quaes sem duvida, não são chamados a tomar parte nos trabalhos ou recom- «) 1 Cor. 7 : 24. 108 PASSOS à CHRISTO. pensas. Mas não é assim representado na parabola. Quando o dono da casa chamou os seus servos, elle deu a cada homem o seu trabalho. Com o espirito de amor poderemos desempenhar os mais humildes deveres da vida “como quem no faz pelo Senhor.”5) Se o amor de Deos está no coração, elle será manifesto na vida. O doce sabor de Christo nos cercará, e a nossa influencia elevará e aben­ çoará. Não haveis de esperar por grandes occasiões ou estar na expectativa de extraordinária capacidade antes de irdes trabalhar para Deos. Não é mister terdes um pensamento do que o mundo pensará de vós. Se a vossa vida diaria é um testemunho á pureza e since­ ridade da vossa fé, e outros estão convencidos que desejais fazer-lhes bem, os vossos esforços não serão inteiramente perdidos. O mais humilde e pobre dos discípulos de Christo pode ser uma benção á outros. Elles não poderão realizar que estão fazendo algum bem especial, mas pela sua influencia inconsciente elles poderão pôr em movimente ondas de benção que alargarão e aprofun­ darão, e os abençoados resultados elles nunca poderão saber até o dia do galardão final. Elles não sentem ou sabem que estam fazendo alguma cousa grande. Não é requerido que elles se cançem com anciedade ácerca do seu successo. Elles têem sómente de ir avante socegadamente, fazendo fielmente a obra que a 5) Col. 3 : 23. A OBRA E A VIDA. 109 providencia de Deos determina, e a vida d’elles não será em vão. As suas próprias almas crescerão mais e mais na semelhança de Christo ; elles são trabalha­ dores juntamente com Deos nesta vida, e assim estão preparando-se para o mais alto trabalho e o gozo sem nuvens da vida por vir. A SCIENÇIA DE DEOS. / \ UITAS são as maneiras nas quaes Deos está pro- / curando fazer-se conhecer á nós e trazer-nos á communicação com elle. A natureza fala aos nossos sentidos sem cessar. O coração aberto será impressio­ nado com o amor e gloria de Deos como reATelados pe­ las obras das suas mãos. ü ouvido que escuta pode onvir c intender as communicações de Deos mediante as cousas da natureza. Os verdes campos, as altas arvores, os botões e flores, a nuvem fugitiva, a chuva que desce, o sussurrante regato, as glorias dos Céos, falam aos nossos corações e convidam-nos á tomarmos conhecimento d aquelle que os creou todos. O nosso Salvador atou as suas preciosas lições com as cousas da natureza. As arvores, os passaros, as flores do valle, as collinas, o lago, os bellos Céos, tão bem como os incidentes e circumstantes da vida diaria, foram todos encadeados com as palavras da verdade, afim de que as suas lições fossem assim a miudo tra­ zidas á lembrança, ainda entre os occupados cuidados da vida de fadiga do homem. Deos quer que seus filhos apreciem as suas obras, e deleitem-se na simples, socegada belleza com a qual elle ha adornado a nossa morada terrestre. Elle é amador do bello, e acima de [110] CHRISTO ENSINANDO O POVO. A SC1ENÇ1A DE DEOS. 113 tudo o que é exteriormente attractivo elle ama a bel- leza de caracter ; elle quer que cultivemos pureza e simplicidade, as quietas graças das flores. Se sómente escutarmos, as obras creadas de Deos nos ensinarão preciosas lições de obediência e confi­ ança. Das estrellas que no seu curso sem vestígio pelo espaço, seguem de século á século o seu apontado caminho, abaixo até o mais diminuto atomo, as cousas da natureza obedecem a vontade do Creador. E Deos cuida de tudo e sustem tudo o que elle tem creado. Aquelle que sustenta os innumeraveis mundos por toda a immens idade, ao mesmo tempo cuida das faltas do piqueno castanho pardal que canta a sua humilde can­ ção sem temor. Quando homens caminhão para a sua lida diaria, como quando elles empregão-se em oração; quando elles deitam-se á noite, e quando se levantam de manha ; quando o homem rico banquetea-se no seu palacio, ou quando o homem pobre ajunta os seus filhi- nhos ao redor da sua escassa meza, cada um é terna­ mente vigiado pelo Pae Celestial. Nenhumas lagrimas são derramadas que Deos não note. Não ha sorriso que elle não marque. Se apenas inteiramente créssemos isto, todas as in- dividas anciedades seriam dispedidas. As nossas vi­ das não serião tão cheias de desapontamentos como agora ; porque todas as coisas, quer sejam grandes ou piquenas, seriam deixadas nas mãos de Deos, o qual não se torna perplexo pela multiplicidade de cuidados, ou opprimido pelo seu pezo. Nós então gozaríamos o 114 PASSOS A CHRISTO. descanço d’alma ao qual muitos por muito tempo hão sido estrangeiros. Conforme os vossos sentidos se deleitam na attrac- tiva amabilidade da terra, pensai no mundo que vai vir, que nunca conhecerá a mangra do peccado e morte; onde a face da natureza não trará mais sobre si a sombre da maldição. Deixai a vossa imaginação re­ tratar a morada dos salvos, e lembrai-vos que será mais gloriosa de que a vossa mais brilhante imagina­ ção póde representar. Nas variadas dadivas de Deos, na natureza nós vemos apenas o mais frouxo clarão da sua gloria. Está escrito, ‘ ‘ Que o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais veiu ao coração do homem, o que Deos tem preparado para aquelles que o amam.”1) O poeta e o naturalista têem muitas cousas á dizer ácerca da natureza, mas é o Christão que goza a belleza da terra com a mais alta apreciação, porque elle reconhece a obra de seu Pae, e percebe o seu amor na flor e arbusto e avore. Ninguém póde plenamente apreciar a significação de monte e valle, rio e mar, o qual não olha para elles como a expressão do amor de Deos ao homem. Deos fala-nos pelas suas operações providenciaes, e pela influencia do seu Espirito sobre o coração. Em nossas circumstancias e circumstantes, nas mudanças que diariamente tomam lugar ao redor de nós, podere­ mos achar preciosas lições, se nossos corações estão 1) 1 Cor. 2 : » A SCIENÇ1A DE DEOS. 115 apenas abertos para as descernir. O Psalmista, deline­ ando a obra da providencia de Deos, diz, ‘ ‘ Da mise­ ricórdia do Senhor está cheia a terra. ” ‘ ‘ Quem é sabio e guardará estas cousas ? e comprehenderá as miseri­ córdias do Senhor.”2) Deos fala-nos na sua palavra. Aqui temos em mais claras linhas a revelação do seu caracter, dos seus procedimentos com os homens, e a grande obra de redcmpção. Aqui está aberta deante de nós a historia de patriarcas e prophetas e outros homens santos de an­ tiguidade. Elles “eram homens sujeitos ás mesmas paixões que nós.”3) Nós vemos como elles luctáram atravez de desanimações parecidas ás nossas. Como elles cahiram debaixo de tentações como nós havemos feito, e ainda tomaram animo outra vez e conquistáram pela graça de Deos : e contemplando, nós somos ani­ mados na nossa porfia após rectidão. Conforme lémos das preciosas experiencias concedidas á elles, da luz e amor e benção que tocou á elles gozar, e da obra que elles executáram por meio da graça que lhes foi dada, o espirito que os inspirou acende uma chamma de santa emulação em nossos corações, e o desejo de sermos como elles em caracter, — como elles para andarmos com Deos. Jesus disse das Escrituras do Velho Testamento,— e quanto mais é verdade do Novoj— “E ellas mesmas são as que dão testemunho de mim,”4) o Redemptor, aquelle no qual as nossas esperanças da vida eterna 2) Ps. 32 : 5; 106 : 43. 8) Tiago 5 : 17. (Almeida.) 4) João 5 : 39. Steps xo Christ. — Portuguese. 7 116 PASSOS À CHRISTO. estão concentradas. Sim, toda a Biblia diz de Christo. Desde o primeiro recordo da creação,— “e nada do que foi feito, foi feito sem elle,”5) — até a ultima promessa, “Eis-aqui, que depressa virei,”6) nós esta­ mos lendo das suas obras e escutando a sua voz. Se quizerdes tomar conhecimento com o Salvador, estudai as Escrituras Sagradas. Enchei o coração inteiro com as palavras de Deos. Elias são a agua viva, matando a vossa ardente sede. Elias são o pão vivo que veiu do Céo. Jesus declara, <1 Senão comerdes a carne do Filho do homem e beber- des o seu sangue, não tereis vida em vós.” Elle explica-se por dizer, “As palavras que eu vos disse, são espirito e vida.”7) Os nossos corpos são con. struidos do que comemos e bebemos; e como na economia natural, assim também na economia espi­ ritual : é o que nos occupamos em meditar que dará tom e fortaleza á nossa natureza espiritual. O thema da redempção é um no qual os anjos de­ sejam contemplar ; elle vai ser a sciencia e o cântico dos remidos pelos incessantes séculos da eternidade. Não é elle digno de cuidadosa attenção e estudo agora? A infinita compaixão e amor de Jesus, o sacrifício feito a nosso favor, chama pela mais seria e solemne reflecção. Devemos fitar os olhos sobre o caracter do nosso caro Remidor e Intercessor. Devemos meditar sobre a missão daquelle que veiu salvar o seu povo de seus peccados. E como aosim contemplamos themas õ) João 1 : 3. e) Apoc. 22 : 12. T) João 6 : 54. 64. A SOIENÇIA DE DEOS. 117 celestiaes, a nossa fó e amor crescerão em força, e as nossas orações serão mais e mais acçeitaveis á Deos, porque ellas serão mais e mais misturadas com fé e amor. Ellas serão intellegentes e fervorosas. Haverá mais constante confiança em Jesus, e uma diaria, viva experiencia no seu poder para salvar perfeitamente to­ dos os que se chegam a Deos por meio d’elle. Conforme nós meditamos sobre as perfeições do Sal­ vador, desejaremos de ser inteiramente transformados, e renovados na imagem da sua pureza. Haverá fome e sêde d’alma a ser semelhante áquelle que nós adora­ mos. Quanto mais os nossos pensamentos são sobre Christo, tanto mais falaremos d elle á outros, e o re presentaremos ao mundo. A Biblia não foi escrita para o sabio só ; pelo con­ trario ella é designada para o povo commum. As grandes verdades necessárias á Salvação são feitas claras como o meio dia ; e nenhums errarão e per­ derão o seu caminho excepto aquelles que seguem o seu juizo em logar da simplesmente revelada vontade de Deos. Nós não devemos tomar o testemunho de homem al­ gum ácerca do que as Escrituras ensinam, mas have­ mos de estudar as palavras de Deos para nós mesmos. Se permittimos a outros fazer o nosso pensar ; nós te­ remos energias aleijadas e faculdades encolhidas. As nobres faculdades do espirito poderam ser tão diminuí­ das por falta de exercisio sobre themas dignos da sua concentração de modo a perder a sua capacidade á 118 PASSOS Á GERIS TO. abraçar o fundo sentido da palavra de Deos. 0 inten dimento engrandecerá em caso que é empregado em in­ vestigar a relação dos assumptos da Biblia, comparando escritura com escritura, e cousas espirituaes com espi- rituaes. Não lia coisa mais calculada a enfortalecer a intel- legencia de que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão potente para elevar os pensamentos, para dar vigor ás faculdades, como as extensas enno- brecedoras verdades da Biblia. Se a palavra de Deos fôra estudada como devia ser, os homens teriam uma largura de intellegencia, uma nobreza de caracter, e uma estabelidade de proposito que raremente é vista nestes tempos. Mas ha apenas pouco beneficio derivado da apres­ sada leitura das Escrituras. Uma pessoa poderá ler a Biblia inteira até o fim, e com tudo falhar de ver a sua belleza ou comprehender o seu fundo e occulto sentido. Uma passagem estudada até a sua signifi­ cação tornar-se clara á intellegencia, e a sua relação ao plano de salvação ser evidente, é de mais valor de que a leitura de muitos capitulos sem nenhum deter­ minado fim em vista e nenhuma positiva instrucção adquerida. Tende a vossa Biblia comvosco. Con­ forme tendes opportunidade, lêde-a ; firmai os textos na vossa memória. Até emquanto estais andando nas ruas, podeis ler uma passagem, e meditar sobre ella, desta maneira gravando-a na intellegencia. Nós não podemos alcançar sabedoria sem seria atten- ção e estudo com oração. Algumas porções da Escri­ A SGIENÇIA DE DEOS. 119 tura são realmente muito claras para serem mal inten­ didas ; mas hão outras cujo sentido não apparece na superfice, para ser visto n’um relancear. Escritura ha de ser comparada com escritura. E mister haver cui­ dadosa investigação e reflexão acompanhada de oração. E tal estudo será ricamente repago. Como o mineiro descobre veias de precioso metal encoberto debaixo da superfice da terra, assim também aquelle que perse­ verantemente procura a palavra de Deos como por thesouro escondido, achará verdades do maior valor, que estão escondidas da vista do descuidado investi­ gador. As palavras de inspiração, pohderadas no coração, serão como ribeiros correndo da fonte da vida. Nunca deveria a Biblia ser estudada sem oração. Antes de abrir as suas paginas devemos pedir o escla­ recimento do Espirito Santo, e elle será dado. Quando Nathanael veiu a Jesus, o Salvador exclamou, “ Eis- aqui um verdadeiro Israelita em quem não ha dolo.” Nathanael disse, “ Donde me conheces tu ? ” Jesus res­ pondeu, “Primeiro que Filippe te chamasse, te vi eu, quando estavas debaixo da figueira.”8) E Jesus nos verá também nos secretos logares de oração, se o pro­ curarmos por luz, afim de que saibamos o que é a verdade. Anjos do mundo de luz estarão com aquel- les que em humildade de coração procuram por direc­ ção divina. O Espirito Santo exalta e glorifica o Salvador. É o 8) João 1 : 47. 48. 120 PASSOS À CHBISTO. seu officio apresentar Christo, a pureza da sua justiça, e a grande Salvação que nós temos por meio d’elle. Jesus diz, “Elle me glorificara ; porque ha de receber do que é meu, e vo-lo ha de annunciar. ”9) O Espi­ rito de verdade é o unico efflcaz mestre da verdade divina. Como Deos estima a raça humana, visto que elle deu o seu Filho á morrer por elles, e aponta o seu Espirito a ser o mestre do homem e seu continuo guia. ») 1 João 10 : 14. O ALTAR DA FAMÍLIA, O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO t7TK a natureza e revelação, por a sua providencia J e pela influencia do seu Espirito Deos fala-nos. Mas estes não slo bastante ; precisamos também der­ ramar os nossos corações á elle. Com o fim de ter vida espiritual e energia, é mister termos actual com- municaoão com o nosso Pae Celestial. Os nossos ín- tendimentos poderão ser attrahidos á elle ; poderemos meditar sobre suas obras, suas misericórdias, suas bên­ çãos, mas isto não é, no sentido mais completo, com- mungar com elle. Em ordem a commungar com Deos, é preciso termos alguma cousa a dizer-lhe relativo a nossa vida actual. Oração é abrir o coração á Deos como á um amigo. Não que seja necessário, afim de fazermos sa^er a Deos o que somos, mas em ordem a nos liabelitar a recebe-lo. Oração não traz Deos abaixo á nós, mas levanta-nos para cima á elle. Quando Jesus esteve sobre a terra, elle ensinou os seus discípulos a orar. Elle derigiu-os á apresentar as suas preçisões diarias á Deos, e para lançar todo o seu cuidado sobre elle. E a segurança que elle lhes deu que as suas petições seriam ouvidas, é segurança tam­ bém á nós. [1°3] 124 PASSOS Á CIIRISTO. Jesus mesmo, em quanto elle viveu entre os homens, estava muitas vezes em oração. O nosso Salvador identificou-se com as nossas necessidades e fraquezas, por quanto elle tornou-se um supplicante, requerente, procurando de seu Pae frescos supprimentos de força, afim de que elle sahia fortificado para o dever e pro­ vação. Elle é o nosso exemplo em todas as coisas. Elle é um irmão nas nossas infermidades, ‘ ‘ que foi tentado em todas as cousas á nossa semelhança ” mas como o immaculado, a sua natureza recuou do mal ; elle supportou luctas e tortura d alma n’um mundo de peccado. A sua humanidade fez a oração uma ne­ cessidade e um privilegio. Elle achou conforto e gozo em communhão com seu Pae. E se o Salvador dos homens, o Filho de Deos, sentiu a precisão de ora­ ção, quanto mais devem fracos, peccaminosos mortaes sentir a necessidade de fervente, constante oração. O nosso Pae Celestial espera para dispensar sobre nós a plenitude da sua benção. E o nosso privilegio beber largamente na fonte de illimitado amor. Que admiração que nós oramos tão pouco! Deos está pronto e desejoso de ouvir a sincera oração do mais humilde de seus filhos, e comtudo ha muita manifesta indisposição da nossa parte a fazer sciente as nossas faltas á Deos. O que podem'os anjos do Céo pensar de pobres desvalidos entes humanos, que são sujeitos á tentação, quando o coração do infinito amor de Deos commove-se por elles, pronto a dar-lhes mais de que i) Heb. 4 : 15. O PRIVILEGEO DE ORAÇÃO. 125 elles podem pedir ou pensar, e não obstante elles oram tão pouco, e têem tão pouca fé ? Os anjos amam prostrar-se perante Deos ; elles amão estar perto d’elle. Elles consideram convivência com Deos como o seu mais alto gozo ; e com tudo os filhos da terra, que tanto precisam do auxilio que Deos só póde dar, pa­ recem satisfeitos á andar sem a luz do seu Espirito, a sociedade da sua presença. A escuridão do maligno cérca aquelles que negle- genciam de orar. As cochichadas tentações do inimigo incitam-os a peccar; e ó tudo porque elles não fazem uso dos privilégios que Deos lhes ha dado no divino apontamento doração. Porque hão de ser os filhos e filhas de Deos reluctantes a orar, quando a oração é a chaves na mão da fé para abrir o armazém do Céo, onde estão enthesourados C3 illimitados recursos da Omnipotencia ? Sem incessante oração e diligente vi­ gia, estamos em perigo de tornarmo-nos descuidados e de afastarmo-nos do caminho direito. O adversário pro­ cura continuadamente embaraçar o caminho aq, propicia- torio, para que nós não possamos por sincera suppli- cação e fé obter graça e força para resistir a tentação. Hão certas condições sobre as quaes poderemos es­ perar que Deos ouvirá e responderá ás nossas orações. Uma das primeiras destas é que nós sintamos a nossa necessidade da protecção d’elle. Elle tem promettido, “Porque eu derramarei agua sobre a terra sequiosa, e rios sobre a secca.”2) Aquelles que têem fome e sede 2) Isa. 44 : 3 126 PASSOS  CHRISTO. de justiça, e que almejam após Deos, podem estar certos que elles serão fartos. O coração ha de ser aberto á influencia do Espirito, ou a benção de Deos não pode ser recebida. A nossa grande falta é em si um argumeuto e ad­ voga o mais eloquentemente a nosso favor. Mas o Senhor será procurado para fazer estas cousas por nós. Elle diz, “Pedi, e dar-se-vos-ha.” E “O que ainda a seu proprio Filho não perdoou, mas por nós todos o entregou; como, não nos deu também com elle todas as cousas ? ”3) Se considerarmos iniquidade em nossos corações, se pegarmo-nos á algum peccado co­ nhecido, o Senhor não nos ouvirá : mas a oração da penitente, contrita alma sempre é acçeita. Quando to­ dos os aggravos são endireitados, poderemos crer que Deos responderá ás nossas petições. O nosso proprio mérito nunca nos recommendará ao favor de Deos; e o merecimento de Jesus que nos salvará, o seu sangue que nos purificará ; todavia temos uma obra a fazer em conformar-nos com as condições d’accei- tação. Outro elemento de oração prevalecente é fé. “Por­ quanto é necessário que aquelle que se chega a Deos creia que ha Deos, e que é remunerador dos que o buscam.” Jesus disse á seus discípulos, “Todas as coisas que vós pedirdes orando, crede que as haveis de haver, e que assim vos succederão. ”4) Fiai-vos na sua palavra? 3) Math. 7:7; Rom. 8 : 32. «) Heb. 11 : 6; Marcos 11 : 24. O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO. 127 A segurança e larga e sem limite, e aquelle que prometteu é fiel. Quando nós não recebemos as mes­ mas coisas que pedimos, no tempo que pedimos, ainda havemos de crer que o Senhor ouve, e que elle res­ ponderá ás nossas orações. Nós somos tão errantes e de curta vista que ás vezes pedimos por coisas que não seriám uma benção á nós, e o nosso Pae Celestial em amor responde ás nossas orações por nos dar aquillo que será para o nosso mais alto bem, — aquillo que nós mesmos desejaríamos se com visão divinamente illuminada podessemos ver todas as coisas como ellas realmente sam. Quando as nossas orações não pare­ cem ser respondidas, havemos de pegarmo-nos á pro­ messa ; pois o tempo de responder virá seguramente, e receberemos a benção que mais precisamos. Mas para pretendermos que a oração será sempre respon­ dida na exacta maneira e pela coisa particular que nós desejamos, é presumpcão. Deos é muito sabio para errar, e muito bom para recusar qualquer cousa boa áquelles que andam rectamente. Então nãa temais confiar n’elle, ainda que vós não vêdes a immediata resposta ás vossas orações. Contai com a sua promessa certa, ‘ ‘ Pedi, e dar-se-vos-ha. ”6) Se nos tomamos conselho com as nossas duvidas e sustos, ou procuramos resolver tudo o que não pode­ mos ver clarmente, antes de termos fé, perplexidades sómente, augmentarão e aprofundarão-se. Mas se vier­ mos a Deos sentindo-nos desvalidos e dependentes, como e) Math. 7 : 7. 128 PÂSSOS À CIIRISTO. realmente somos, e em humilde, confiada fé fazemos conhecer nossas faltas áquelle cujo saber e infinito, que vê tudo na creação, e o qual governa tudo pela sua vontade e palavra, elle pode e attendera ao nosso cla­ mor, e deixará luz brilhar dentro de nossos corações. Por meio de sincera oração somos trazidos a connexao com a intellegencia do Infinito. Nos não possamos ter notável evidencia na occasião que a face do nosso Re­ demptor está curvando-se sobre nós em compaixão e amor ; mas isto é certo. Não poderemos sentir o seu visivel toque, mas a sua mão está sobre nós em amor e lamentoso desvelo. Quando nós vimos pedir clemencia e benção de Deos, havemos de ter o espirito de amor e perdão em nossos corações. Como podemos orar, “ E perdoa-nos as nos­ sas dividas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores,”6) e não obstante indulgimos um es­ pirito implacável ? Se nos esperamos que nossas ora­ ções sejão ouvidas, precisamos perdoar a outros na mesma maneira, e no mesmo grau, como nos espeia- mos ser perdoados. Perseverança em oração ha sido feita uma condição de receber. Havemos de orar sempre, se queremos crescer em fé e experiencia. Nós seremos ‘ ‘ na oração perseverantes;” “Perseverai na oração, velando n ella com acção de graças.”7) Pedro exhorta os crentes, “Portanto sede prudentes, e vigiai em oração.”8) Paulo derige, “Mas com muita oração e rogos, com e) Math. 6 : 12. O Rom. 12 : 12; Col. 4 : 2. 8) 1 Pedro 4 : 7. O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO. 129 acção de graças sejam manifestas as vossas petições deante de Deos. '•') “Mas vós outros, carissimos,” diz Judas, ‘ ‘ orando no Espirito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deos.”10) Incessante oração é a união intacta da alma com Deos, de modo que vida de Deos corre dentro da nossa vida ; e da nossa vida, pureza c santidade refluem para Deos. Ha necessidade para usar de deligeneia em oração ; não deixeis coisa alguma vos impedir. Fazei todo o esforço para ter aberta a communicaçâo entre Jesus e a vossa própria alma. Procurai toda a opportunidade para irdes onde se costuma fazer oração. Aquelles que realmente estam procurando por communhâo com Deos, serão vistos no ajuntamento de oração, fieis ao seu dever, e solicitos e anciosos de colher todos os benefícios que elle3 possam adquerir. Elles apro- veitarão-se de toda a opportunidade para se pôr onde elles possam receber os raios da luz que vem do Céo. Devemos orar no grêmio da familia ; e sobre tudo não devemos negligencear a oração secreta ; pois que isto é a vida da alma. É impossível a alma florescer em quanto a oração é negligenciada. Oração de fa­ mília ou publica so não é suffeciente. Na solidão seja a alma aberta aos olhos inspectores de Deos. A ora­ ção secreta seja ouvida só pelo Deos que ouve oração. Nenhum curioso ouvido deve receber a carga de taes petições. Na oração secreta a alma está livre de in­ fluencias circumstantes, livre de excitamento. Tranquil- ») Filip. 4 : 6. io) Judas 20. 21. 130 PASSOS À CHRISTO. leniente, todavia fervorosamente, ella extender-se-ha após Deos. Doce e permanente será a influencia ema­ nando daqelle que vê em segredo, cujo ouvido está aberto á ouvir a oração que se levanta do coração. Por calma, simples fé, a alma tem communhão com Deos, e colhe a si mesma raios de luz divina para a enfortalecer e suster no conflicto com Satanaz. Deos é a nossa torre de fortaleza. Orai no vosso aposento ; e conforme vos occupais no vosso trabalho diário, seja o vosso coração muitas ve­ zes levantado a Deos. Foi assim que Henoch andou com Deos. Estas silenciosas orações levantam-se como precioso incenso perante o throno de graça. Satanaz não póde vencer aquelle cujo coração está assim esco­ rado em Deos. Não ha tempo ou lugar onde é inopportuno offerecer uma petição a Deos. Não ha nada que possa impe­ dir-nos de levantar nossos corações no espirito de sin­ cera oração. Nas turbas da rua, no meio da occupação de negocio, poderemos levantar uma petição a Deos, e ardentemente pedir por direcção divina como fez Nehe- mias quando elle fez o seu pedido ao Rei Artaxerxes. Um aposento de communhão poderá ser achado onde quer que nós estamos. Precisamos ter a porta do coração aberta continuadamente, e o nosso convite su­ bindo afim de que Jesus venha e permaneça como um hospede celestial na alma. Ainda que haja uma empéstada, corrompida atmos- phera á roda de nós, não carecemos respirar a sua O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO. 131 miasma, mas podemos viver no puro ar do Céo. Po­ demos fechar toda a porta á impuras imaginações e pensamentos impios por levantar a alma á presença de Deos por meio de sincera oração. Aquelles cujos co­ rações estam abertos para receber o apoio e benção de Deos andarão n’uma atmosphera mais santa de que a da terra, e terão constante communicação com o Céo. Nós precisamos ter mais destinctas vistas de Jesus, e mais madura comprehensão do valor das realidades eternas. A formosura de santidade ha de encher os corações dos filhos de Deos ; e para que isto seja reah- sado, devemos procurar por divinas desobertas de coi­ sas celestiaes. Seja a alma dilatada para fóra e para cima, de modo que Deos nos conceda um sopro da atmosphera celes­ tial. Podemos andar tão perto de Deos que em cada provação inesperada os nossos pensamentos voltar-se- hão á elle tão naturalmente como a flor volta-se para o sol. Trazei as vossas faltas, vossos gozos, vossas maguas, vossas solicitudes, e vossos sustos deante de Deos. Vós não o podeis sobrecarregar ; não o podeis enfadar. Aquelle que conta os cabellos da vossa cabeca não é indifferente ás faltas de seus filhos. ‘ ‘ O Senhor é mi­ sericordioso, e compassivo.”11) O seu coração de amor é tocado pelas nossas angustias, e ainda pela nossa pronunciação d’elias. Levai á elle tudo o que u) Tiago 5 : 11. 132 PASSOS Á CHRISTO. torna perplexo o espirito. Nada é muito grande para elle .carregar, pois que elle sustenta mundos, elle go­ verna sobre todos os negocios do universo. Nada que em qualquer maneira diz respeito a nossa paz é muito piqueno para elle notar. Não ha capitulo na nossa experiencia escura de mais para elle ler ; não hã per­ plexidade difficultosa de mais para elle deslindar. Ne­ nhuma diffieuldade póde succeder aos mais pequeninos de seus filhos, nenhuma anciedade assolar a alma, ne­ nhum gozo alegrar, nenhuma sincera oração escapar os lábios, dos quaes o nosso Pae Celestial é inobservante, ou nos quaes elle não toma immediato interesse. ‘1 O que sara os attribulados de coração ; e liga as suas fracturas.”13) As relações entre Deos e cada alma são tão destinctas e cheias como se não houvera outra alma pela qual elle entregou o seu amado Filho. Jesus disse, “Naquelle dia pedireis vós em meu nome : e eu não vos digo que hei de rogar ao Pae. por vós-outros ; porque o mesmo Pae vos ama. Eu fui o que vos escolhi a vós, . . . para que tudo quanto vós pedirdes a meu Pae em meu nome, elle vo-lo conce­ da.”13) Mas orar em nome de Jesus é mais alguma coisa do que a mera menção daquelle nome no prin­ cipio e na conclusão d’uma oração. E orar no inten- dimento e espirito de Jesus, emquanto que nós cremos as suas promessas, e contamos com a sua graça, e obramos as suas obras. 12 ) Ps. 146 : 3. H) João 16 : 26; 15:16. O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO. 133 Deos nao tenciona que algum de nós venha a ser eremitas ou monges, e retire-se do mundo, em ordem a dedicarmos a nós mesmos á actos de adoração. A vida precisa ser como a vida de Christo, — entre a montanha e a multidão. Aquelle que nada faz senão orar em breve cessará de orar, ou as suas orações tor­ narão-se uma formal rotina. Quando homens afastam-se da vida social, fóra da esphera do dever Christão e de carregar a cruz ; quando elles cessam de trabalhar deveras para o Amo, elles perdem o objecto essencial de oração, e não toem incentivo a devoção. As suas orações tornão-se pessoaes e egoístas. Elles não po­ dem orar com respeito ás faltas da humanidade ou á edificação do reino de Christo, rogando por força com que trabalhem. Nós sustemos perda quando negligenciamos o privi­ legio de associarmo-nós juntos para enfortalecer e ani­ mar uns aos outros no serviço de Deos. As verdades da sua palavra perdem a sua viviza e importançia nos nossos intendimentos. Os nossos corações cessam de ser esclarecidos e despertados pela santiíicadora influ­ encia, e nós descahimos em espiritualidade. Na nossa associação como Christãos nós perdemos muito pela falta de sympathia uns com os outros. Aquelle que se fecha inteiramente dentro de si mesmo não está occupando a posição que Deos designou que elle deve occupar. A própria cultivação dos elementos soçiaes na nossa natureza traz-nos á sympathia com outros, e é os meios de desenvolvimento e alento á nós no ser­ viço de Deos Steps to Christ. — Portuguese. 8 134 PASSOS Á 0URIS TO. Se Christãos se associassem juntos, falando uns aos outros do amor de Deos, e das preciosas verdades da redempção, os seus proprios corações seriam refresca­ dos, e elles refrescariam uns aos outros. Nós podemos diariamente estar aprendendo mais do nosso Pae Ce­ lestial, adquerindo nova experiencia da sua graça ; n’esse caso desejaremos falar do seu amor ; e conforme fazemos isto, os nossos mesmos corações serão aque­ cidos e animados. Se nós pensássemos e falássemos mais de Jesus, e menos de nós mesmos, teriamos muito mais da sua presença. Se apenas pensássemos de Deos tantas vezes quan­ tas, temos evidençia do seu cuidado por nós, nós o teriamos sempre em nossos pensamentos, e nos delei­ taríamos de falar d’elle e de adora-lo. Nós falamos de coisas temporaes porque temos interesse nellas. Falamos de nossos amigos porque os amamos ; os nos­ sos gozos e as nossas tristezas andam atadas com el­ les. Todavia temos infinitamente maior razão de amar a Deos de que amar os nossos amigos terrestres, e precisa ser a coisa mais natural no mundo faze-lo primeiro em todos os nossos pensamentos, falar da sua bondade e informar do seu poder. As ricas dadivas que elle tem dispensado sobre nós não eram destinadas a absorver os nossos pensamentos e amor tanto que nada tivéssemos para dar a Deos ; ellas hão de con­ stantemente nos lembrar d’elle, e nos ligar em laços de amor e gratidão ao nosso Bemfeitor celestial. Nós moramos muito perto dos terrenos baixos da terra. O PRIVILEGIO DE ORAÇÃO. 135 Levantemos nossos olhos á porta aberta do Santuario em cima, onde a luz da gloria de Deos brilha na face de Christo, o qual ‘ ‘ póde salvar perpetuamente aos que por elle mesmo se chegam a Deos : vivendo sempre para interceder por nós.”11) Nós precisamos adorar a Deos mais “pela sua bon­ dade; e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.'’15) Os nossos serviços de devoção não devem consistir inteiramente em pedir e receber. Não este­ jamos sempre pensando das nossas faltas, e nunca dos benefícios que nós recebemos. Nós nem por isso ora­ mos muito, mas somos muito poupados em dar gra­ ças. Somos os constantes recepientes das mercês de Deos, e com tudo quão pouca gratidão, nós expres­ samos, quão pouco louvarqos pelo que elle ha feito por nós. Antigamente o Senhor ordenou a Israel, quando el­ les se ajuntavam para o seu serviço, “E ahi come­ reis na presença do Senhor vosso Deos : e vos rego­ zijareis vós e as vossas familias em todas as coisas em que metterdes a mão, nas quaes o Senhor vosso Deos vos abençoar.”16) Aquillo que é feito para a gloria de Deos, deve ser feito com alegria, com cânti­ cos de louvor e acção de graças, não com tristeza e aspecto sombrio. O nosso Deos é um terno, misericordioso Pae. O seu serviço não deve ser olhado como um exercisio que entristece o coração, que o mortifica. Deve ser u> Heb. 7 : 25. 15j Ps. 107 : 8. (Almeida Rev.) 16) Deut. 12 : 7. PASSOS à CHRISTO. 136 um prazer adorar o Senhor e tomar parte na sua obra. Deos não quer que seus filhos, para quem tão grande salvação ha sido provida, portem-se como que elle fosse um duro, exigente exactor. Elle é o seu melhor ami­ go; e quando elles o adoram, elle espera estar com elles, á abençoar e conforta-los, enchendo os seus co­ rações com gozo e amor. 0 Senhor deseja que seus fi­ lhos tomem conforto no seu serviço, e achem mais prazer de que fadiga no seu trabalho. Elle deseja que aquelles que vem adora-lo levem comsigo preciosos pensamentos do seu cuidado e amor, para que elles sejam alegrados em todos os empregos da vida diaria, afim de que elles possam ter graça á lidar honesta e fielmente em todas as coisas. É preciso ajuntarmo-nos em torno da cruz. Christo e elle crucificado deve ser o thema de contemplação, de conversação, e da nossa mais alegre emoção. Nós devemos guardar em nossos pensamentos toda a ben. ção que recebemos de Deos ; e quando realizamos o seu grande amor, devemos estar desejosos de confiar tudo á mão que foi pregada na cruz por nós. A alma póde subir mais perto do Céo nas azas de louvor. Deos é adorado com canção e musica nas cor­ tes lá de cima, e como nós expressamos a nossa gra­ tidão, estamos approximando ao culto dos exercitos celestiaes. “Aquelle que offerece louvor me glorifi- cará.”17) Com reverente alegria venhamos deante do nosso Creador, “com acção de graças e voz de me­ lodia.” 18) it) Ps. 50 : 23. 18) Isa. 51 : 3. (Almeida Rev.) O QUE FAZER COM A DUVIDA. 1 lUITOS, especialmente aquelles que são novos na / vida Christã, são em occasiões attribulados com insinuações e scepticismo. Hão na Biblia muitas coi­ sas que elles não podem explicar, ou ainda entender, e Satanaz emprega estas para abalar a sua fé nas Es­ crituras como uma revelação de Deos. Elles pergun­ tam, “Como saberei eu o caminho? Se a Biblia é com effeito a palavra de Deos, como posso eu ser livre d estas duvidas e perplexidades ? ” Deos nunca nos pede para crermos, sem nos dar suf- feciente evidencia sobre a qual assentemos a nossa fé. A sua existência, o seu caracter, a veracidade da sua palavra, são todos estabelecidos por testemunho que apella á nossa razão ; e este testemunho é abundante. Não obstante Deos nunca removeu a possibilidade de duvida. A nossa fé precisa assentar sobre evidencia, não demonstração. Aquelles que desejam duvidar, te­ rão opportunidade ; emquanto que aquelles que real­ mente desejam saber a verdade acharão abundancia de evidencia sobre a qual assentem a sua fé. E impossível á intellegencias finitas inteiramente comprehenderem o caracter ou obras do Infinito. Á mais penetrante intellegencia, o espirito summamente [ 137.1 138 PASSOS Á CHRISTO. educado, aquelle Ente Santo sempre ha de continuar envolto em mysterio. “Acaso alcançarás os caminhos de Deos e conhecerás perfeitamente o Todopoderoso ? Elle é mais elevado do que o Céo, e que farás tu ? é mais profundo do que o inferno, e como o conhe­ cerás ? ” *) 0 Apostlo Paulo exclama, “Ó profundidade das ri­ quezas, e da sciencia de Deos : quão incomprehensiveis são os seus juizos, e quão inescrutaveis os seus caminhos!”2) Mas posto que “nuvens e escuridão estão ao redor d’elle : justiça e juizo são a base do seu throno.”3) Podemos tão longe comprehender o seu procedimento comnosco, e os motivos pelos quaes elle é movido, de modo que poderemos descernir illimitado amor e compaixão unidos a infinito poderio. Nós podemos en­ tender tanto dos seus propositos conforme é para nosso bem sabermos ; e alem disto havemos sem cessar de confiar na mão que é omnipotente, o coração que é cheio de amor. A palavra de Deos, como o caracter do seu divino Auctor, apresenta mysterios que nunca podem ser ple­ namente comprehendidos por entes finitos. A entrada do peccado no mundo, a incarnação de Christo, rege­ neração, a resurreição, e muitos outros assumptos apre­ sentados na Biblia, são mysterios muito fundos para a intellegencia humana explicar, ou apenas inteiramente comprehender. Mas nós não temos razão para duvidar da palavra de Deos porque não entendemos os myste- i) Job 11 . 7. 8. 2) Rom. 11 : 33. aj Ps. 90 : 2. O QUE FAZER COM A DUVIDA. 139 rios da sua providencia. No mundo natural somos constantemente cercados com mysterios que não pode­ mos sondar. As próprias mais humildes formas de vida apresentam um problema que o mais sabio dos philosophos é impotente para explicar. Por toda a parte estão maravilhas além do nosso alcance. Sere­ mos então surprehendidos de acharmos que no mundo espiritual também estão mysterios que nós não pode­ mos sondar ? A difficuldade está sómente na fraqueza e estreiteza da intellegencia humana. Deos ha nos da­ do nas Escrituras suffeciente evidencia do divino ca­ racter d’ellas, e nós não devemos duvidar da sua pa­ lavra porque não entendemos todos os mysterios da sua providencia. O Apostlo Pedro diz que hão nas Escrituras “algu­ mas cousas difficeis de entender, as quaes adulteram os indoutos, e inconstantes, . . . para ruina de si mes­ mos. ”4) As difficuldades da Escritura têem sido urgi­ das pelos scepticos como um argumento contra a Biblia ; mas tão longe disto, que ellas constituem uma forte evidencia a favor da sua divina inspiração. Se ella encerrasse nenhuma narração de Deos senão aquella que nos podessemos facelmente comprehender; se a grandeza e majestade d’elle podessem ser abraçadas por intellegencias finitas, então a Biblia não traria cre- denciaes certas de auctoridade divina. A verdadeira grandeza e mysterio dos themas apresentados, devem inspirar fé n’ella como a palavra de Deos. *) 2 Pedro 3 ; 16. 140 PASSOS Á OHPJSTO. A Bíblia expõe a verdade com a simplicidade e per­ feita adaptação ás precisões e anhelos do coração humano, que lia surprendido e encantado as summa- mente cultivadas intellegencias, emquanto que ella habelita os humildes e incultos á descernir o caminho da salvação. E comtudo estas simplesmente expostas verdades apoderam-se de assumptos tão elevados, de tão longo alcance, tão infinitamente alem do poder da nossa comprehensâo, de modo que nós os podemos ac- ceitar sómente porque Deos os ha declarado. Desta maneira o plano de redempção é descoberto á nós, de modo que cada alma póde vêr os passos que elle ha de tomar em arrependimento para Deos, e fé em nosso Senhor Jesus Christo, com o fim de ser salvo na ma­ neira apontada por Deos ; não obstante debaixo destas verdades, tão facelmente entendidas, existem mysterios que são o escondrijo da sua gloria,— mysterios que subjugam a intellegencia na sua investigação, comtudo inspiram o sincero investigador pela verdade com re­ verencia e fé. Quanto mais elle examina a Biblia, mais profunda é a sua convicção que ella é a palavra do Deos vivo, e a razão humana curva-se perante a majestade da divina revelação. Reconhecer que nós não podemos inteiramente com- prehender as grandes verdades da Biblia é unicamente admittir que a intellegencia finita não é adquada a abraçar o infinito ; que o homem, com a sua limitada, humana sciencia, não póde entender os propositos da Omnisciencia. O QUE FAZER UOM A DUVIDA. 141 Porque elles não podem sondar todos os seus mys­ terios, o sceptico e o infiel rejeitam a palavra de Deos ; e nem todos os que professam crer a Biblia estão li­ vres de perigo neste ponto. O Apostlo diz, “Vêde, irmãos, que se não ache talvez n’algum de vós um co­ ração corrompido da incredulidade, que se aparte do Deos vivo. ”5) E direito estudar exactamente os ensi­ nos da Biblia, e penetrar “ainda as profundidades de Deos. ”6) tanto quanto ellas são reveladas na Escritura. Emquanto que ‘ ‘ as coisas encobertas são para o Se­ nhor nosso Deos ; porem as reveladas são para nós. ”7) Mas é a obra de Satanaz perverter os poderes inves­ tigadores do espirito. Certa soberba é misturada com a consideração da verdade da Biblia, de modo que ha homens que sentem-se impacientes e desbaratados se elles não podem explicar toda a porção da Escritura á sua satisfação. E humilhante de mais á elles reco­ nhecerem que não entendem as palavras inspiradas. Elles não têem vontade de esperar pacientemente até Deos julgar ser proprio revelar-lhes a verdade. Elles sentem que a sua desajudada sabedoria huma&a é suf- feciente para os pôr em estado de comprehender a Es­ critura, c falhando de fazer isto, elles virtualmente negam a sua auctoridade. E verdade que muitas the- orias e doutrinas popularmente suppostas á serem de­ rivadas da Biblia nenhum fnndamento têem no seu ensino, e de facto são contrarias a todo o teor de ins­ piração. Estas coisa3 têem sido uma causa de duvida s) Heb. 3 : 13. <0 1 Cor 2 : 10. i) Deut. 29 : 29. 142 PASSOS  CIIRISTO. e perplexidade á muitos espíritos. Elias não são, po­ rem, imputaveis á palavra de Deos, mas á perversão d’ella pelo liomem. Se fora possivel a entes creados attingirem inteiro conhecimento de Deos e suas obras, então havendo chegado á este ponto, não haveria para elles mais um descobrimento da verdade, nenhum crescimento em sciencia, nenhum ulterior desenvolvimento de intelle- gencia ou coração. Deos não seria mais supremo; e o homem, havendo chegado ao lemite da sciencia e conseguimento, cessaria de adeantar-se. Agradeçamos a Deos que isto não é assim. Deos é infinito; n!elle “estão encerrados todos os thesouros da sabedoria e da sciencia.”8) E por toda a eternidade os homens podem sempre estar investigando, sempre aprendendo, e com tudo nunca esgotar os thesouros da sua sabedo­ ria, sua bondade, e seu poder. Deos tenciona que ainda nesta vida as verdades da sua palavra estarão sempre desenvolvendo-se ao seu povo. Ha só um meio pelo qual esta sciencia pode ser obtida. Nós podemos conseguir o intendemento da palavra de Deos sómente mediante a illuminação da- quelle Espirito pelo qual a palavra foi dada. “As coisas que são de Deos ninguém as conhece, senão o Espirito de Deos,” porque o Espirito tudo penetra, ainda o que ha de mais occulto na profundidade de Deos.”9) E a promessa do Salvador aos seus segui­ dores foi, ‘ • Quando vier pórem aquelle Espirito de 8) Col. a: 8. #) l Cor. 2 : 11. 10. 143 verdade, elle vos ensinará todas as verdades, . . . Porque ha de receber do que é meu, e vo-lo ha de annunciar. ”10) Deos deseja que o homem exercite as suas faculda­ des de razão ; e o estudo da Biblia fortificará e elevará o espirito como nenhum outro estudo póde. Todavia havemos de nos acautelar contra deificar a razão, a qual é sujeita á fraqueza e enfermidade da humanidade. Se não queremos as Escrituras ennevoadas ao nosso entendimento, de modo que as mais evidentes verdades não serão comprehendidas, nós precisamos ter a sim­ plicidade e fé d uma criancinha, prontos a aprender, e supplicando o socorro do Espirito Santo. O sentido do poder e sabedoria de Deos, e da nossa inhabelidade para comprehender a sua grandeza, deve inspirar-nos com humildade, e devemos abrir a sua palavra, como nós entramos na sua presença, com temor santo. Quando vimos á Biblia, a razão precisa reconhecer uma auctorídade superior a si mesma, e o coração e intellegencia hão de curvar-se ao grande Eu Sou. Hão muitas cousas apparentemente difflcei^ ou ob­ scuras, as quaes Deos fará claras e simples áquelles que assim procuram o entendimento d’ellas. Mas sem a direccão do Espirito Santo, nós seremos constante­ mente sujeitos á torcer as Escrituras ou interpreta-las mal. Ha muita leitura da Biblia que é sem proveito, e em muitos casos é um damno positivo. Quando a palavra de Deos é aberta sem reverencia e sem ora- O QUE FAZER COM A DUVIDA. 10) João 16 : 13. 14. 144 PASSOS à CHRISTO. ção; quando os pensamentos e affeições não são fixos em Deos, ou em harmonia com a sua vontade, o en­ tendimento é anuviado com duvida; e no mesmo estudo da Biblia, o scepticismo fortifica-se. 0 inimigo toma auctoridade sobre os pensamentos, e elle insinua inter­ pretações que não são correctas. Quando homens não estão em palavra e acto procurando estar em harmonia com Deos, então, por mais doutos que elles sejão, elles estão sujeitos a errar no seu entendimento da Escritura, e não é seguro confiar nas suas ex­ plicações. Aquelles que olham para as Escrituras afim de achar divergências, não têem conhecimento profundo espiritual. Com visão, que tem as feições alteradas, elles verão muitas causas para duvidas e incredulidade em coisas que são realmente claras e simples. Dissimulem como queiram, a real causa de duvida e scepticismo, na mór parte dos casos, é o amor do peccado. Os ensinos e restricções da palavra de Deos não são boas-vindas ao coração altivo, amante do pec­ cado, e aquelles que não têem vontade de obdecer aos seus requerimentos estão prontos a duvidar da sua auctoridade. Em ordem a chegar-se a verdade, nós precisamos ter um sincero desejo de conhecer a ver­ dade, e consentimento de coração para obedece-la. E todos os que vem neste espirito ao estudo da Biblia acharão abundante evidencia que ella é a palavra de Deos, e elles podem alcancar o conhecimento das suas verdades que os fará sábios para a salvação. O QUE FAZER COM A DUVIDA. 145 Christo ha dito, ‘1 Se alguém quizer fazer a sua von­ tade, da mesma doutrina conhecerá se é de Deos.”11) Em vez de questionar e cavillar concernente aquillo que vós não entendeis dai attenção a luz que ja bri­ lha sobre vós, e recebereis maior luz. Pela graça de Christo, desempenhai todo o dever que tem sido feito claro ao vosso entendimento, e vós sereis habeli- tados a entender e cumprir aquelles dos quaes vós es­ tais agora em duvida. Ha uma evidencia que está patente a todos,— os summamente educados, e os mais ignorantes,— a evi­ dencia de experiencia. Deos convida-nos a provarmos a nos mesmos a realidade da sua palavra, a verdade das suas promessas. Elle manda-nos, ‘ ‘ Provai e vêde que o Senhor é bom.”12) Em vez de dependermos da palavra de outrem, havemos de provar para nós mes­ mos. Elle declara, ‘ ‘ Pedi e recebereis, ” '*) As suas promessas serão cumpridas. Elias nunca têem faltado; ellas nunca podem falhar. E assim como nós chega­ mos perto de Jesus, e nos alegramos na plenitude do seu amor, a nossa duvida e escuridão desaparecerão na luz da sua presença. 0 apostlo Paulo diz que Deos “nos livrou do poder das trevas, e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado.”11) E todo aquelle que tem passado da morte para a vida é capaz de “confirmar que Deos é verdadeiro.”15) Elle póde testeficar, “ Eu precisava de ii) João 7 : 17. u) Psal. 34 : 9 (Almeida Rev.) ia) João 16 : 24. H) Col. 1 : 18. if>) João 8 :33. 146 PASSOS  CHRISTO. auxilio, e achei-o em Jesus. Toda a falta foi sup- prida, a fome da minha alma foi satisfeita; e agora a Biblia é a mim a revelação de Jesus Christo. Per­ guntais porque razão eu creio em Jesus? — Porque elle é para mim um divino Salvador. Porque acre­ dito eu a Biblia? Porque a tenho achado ser a voz de Deos á minha alma. ’ Podemos ter testemunho em nós mesmos que a Biblia c verdadeira, que Christo é o Filho de Deos. Nós sabemos que não estamos ‘1 se­ guindo fabulas engenhosas.”10) Pedro exhorta os seus irmãos, “Crescei na graça, e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Christo.”17) Quando o povo de Deos está crescendo em graça, elles constantemente conseguirão mais claro entendimento da sua palavra. Elles descernirão nova claridade e belleza nas suas sagradas verdades. Isto ha sido ver­ dade na historia da igreja em todos os séculos, e as­ sim continuará ate o üm. “Mas a vereda dos justos, como luz que replandece, vai adeante e cresce até o dia perfeito.”18) Pela fe podemos olhar para o futuro, e agarrarmos o penhor de Deos para o crescimento da intellegencia, as faculdades humanas unindo-se com as divinas, e cada faculdade da alma sendo trazida á directo con­ tacto com o Manancial de luz. Podemos nos alegrar que tudo o que nos tem tornado perplexos nas provi­ dencias de Deos será então feito claro, as coisas du­ ras de entender então acharão explicação; e onde nossas i®) 2 Pedro 1 : 16. ip 2 Pedro 3 : 18. is) Prov. 4 : 18. O QUE FAZER COM A DUVIDA. 147 finitas intellegencias descobriram só coufusão e propo- sitos quebrados, nós veremos a mais perfeita e for­ mosa harmonia. “Nós agora vemos a Deos como por um espelho em enigmas : mas então face a face. Agora conheço-o em parte : mas então hei de conhece lo, como eu mesmo sou d’elle conhecido.”15) i») 1 Cor. 13 : 12. REGOSIJO NO SENHOR. X^\S filhos de Deos são chamados para serem repre- VI/ sentativos de Christo, proclamando a bondade e misericórdia do Senhor. Como Jesus nos ha revelado o verdadeiro caracter do Pae, assim havemos dc reve­ lar Christo á um mundo que não conhece o seu terno, compassivo amor. “Assim como tu me enviaste ao mundo,” disse Jesus, “também eu os enviei ao mun­ do.” “ Eu estou n’elles, e tu estás em mim, . . . para que o mundo conheça que tu me enviaste. ” 1 O apostlo Paulo diz aos discípulos de Jesus, “Sendo manifesto, que vós sois a carta de Christo reconhecida, c lida por todos os homens.”2) Em cada um de seus filhos, Jesus manda uma carta ao mundo. Se sois seguidor de Christo, elle manda em vós uma carta á familia, villa, rua, onde morais. Jesus, habitando em vós, de­ seja falar aos corações d’aquelles que não o conheçem. Talvez elles não têem a Biblia, ou não ouvem a voz que lhes fala nas suas paginas; elles não veem o amor de Deos atravez das suas obras. Mas se sois um ver­ dadeiro representativo de Jesus, póde ser que por meio de vós elles serão levados a entender alguma cousa da sua bondade, e sejam ganhados á amar e servi-lo. 1) João 17 : 18 83. [148] 2) 2 Cor. 3 : 3. 2. REGOSIJO NO SENHOR. 149 Os Christâos são postos como portadores de luz no caminho ao Céo. Elles lião de reflectir ao mundo a luz brilhando sobre elles vinda de Christo. A sua vida e caracter devem ser taes que por meio d’elles outros re­ ceberão uma justa concepção de Christo e do seu serviço. Se nós reprsentamos Christo, faremos o seu serviço apparecer attractivo, como elle realmente é. Christâos que ajuntam tristeza e melancolia ás suas almas, e murmuram e queixão-se, estão dando á outros uma falsa representação de Deos e a vida Christã. Elles dão a impressão que Deos não se agrada de ter os seus filhos felizes, e desta maneira elles dão falso testemu­ nho contra o nosso Pae Celestial. Satanaz exulta-se quando elle póde conduzir os fi­ lhos de Deos á incredulidade e desesperança. Elle de­ leita-se de ver-nos desconfiando de Deos, duvidando do seu consentimento e poder para nos salvar. Elle gosta que nós sintamos que o Senhor nos fará mal pela suas providencias. E a obra de Satanaz representar o Se­ nhor como falto de compaixão e piedade. Elle expõe mal a verdade a respeito d’elle. Elle enche a imagi­ nação com falsas ideas concernente a Deos; e em vez da fitarmos os olhos sobre a verdade a respeito de nosso Pae Celestial, nós vezes de mais firmamos os nossos entendimentos sobre as falsas representações de Satanaz, e deshonramos a Deos em desconfiarmos d’elle e murmurarmos d’elle. Satanaz sempre pro­ cura fazer a vida religiosa uma de tristeza. Elle de­ seja que ella appareça trabalhosa e diflicil; e quando Stepb to Christ. — Portugucse. 9 150 PASSOS Á CHRISTO. o Christão apresenta na sua própria vida este aspecto de relegião, elle, pela sua incredulidade, estã secun­ dando a falsidade de Satanaz. Muitos, andando ao longo da vereda da vida, fitam os olhos nos seus erros e faltas e desapontamentos e os seus corações ficão cheios de tristeza e desani- mação. Emquanto eu estive na Europa, uma irmã que havia estado fazendo isto, e estava em profunda miséria, es­ creveu-me, pedindo alguma palavra de animação. A noite depois de eu ter lido a sua carta, eu sonhei que estava n’um jardim, e uma Pessoa que parecia ser o dono do jardim estava eonduzimdo-me pelos seus pas­ seios. Eu estava colhendo flores e gozando a sua fra- grancia, quando esta irmã que havia andado ao meu lado, chamou a minha attenção á umas feias silvas que estavam impedindo o seu caminho. Lá ella estava, lamentando e afiligindo-se. Ella não estava andando no passeio, seguindo o guia, mas estava andando entre as silvas e espinheiros. “O,” ella lamentou, “não é uma pena que este lindo jardim está perdido com es­ pinhos? ” Então disse o guia, “deixa os espinhos quie­ tos, porque elles sómente te offenderão. Colhe as ro­ sas, os lirios, e os cravos.” Não têem havido alguns lugares lúcidos na vossa experiencia? Não tendes tido algumas estações preci­ osas, quando o vosso coração pulsou de alegria em responso ao Espirito de Deos? Quando olhais atraz nos capitulos da vossa experiencia, não achais algumas pa- UMA LIÇXO DAS FLORES. REG08IJ0 NO SENHOR. 153 ginas agradaveis? Não são as promessas de Deos, como as flores fragrantes, crescendo junto da vossa vereda de todos os lados? Não deixareis a sua bellexa e doçura encher o vosso coração d’alegria? As silvas e espinheiros sómente vos ferirão e angus­ tiarão; e se vós colheis só estas cousas, e as apresen­ tais á outros, não estais vós, além de menosprezardes a bondade de Deos, impatando aqualles ao redor de vós de andar no caminho da vida? Não é a parte de sabedoria ajuntar junto todas as desagradaveis lembranças da vida passada,— as suas iniquidades e desapontamentos,— para falar sobre elles e lastimar sobre elles até ficarmos opprimidos com des- animação. A alma desanimada é enchida de trevas, excluindo de sua própria alma a luz de Deos, e lan­ çando sombra sobre o caminho d outros. Agradecei a Deos pelos lúcidos retratos que elle nos tem apresentado. Agrupemos juntas as abençoadas garantias do seu amor, de modo que olhemos sobre ellas continuamente. O Filho de Deos deixando o throno de seu Pae, vestindo a sua divindade com a humanidade, afim de que elle resgatasse o homem do poder de Satanaz; o seu triumpho a nosso favor, abrindo o Céo aos homens, revelando á visão humana a camara de recepção onde a Divindade desvenda a sua gloria; a raça decahida levantada da cova de ruina na qual o peccado a havia abysmado, e trazida outra vez a connexão com o infinito Deos, e havendo supportado a divina provação por meio de fe no nosso Redemptor, 154 PASSOS Á C1IRIST0. vestido na justiça de Christo, e exaltado ao seu thro- no>—estes são os quadros que Deos quer que nós con­ templemos. Quando nós parecemos duvidar do amor de Deos e desconfiar das suas promessas, nós deshonramos a elle e entristecemos o seu Espirito Santo. Como se sen­ tiría uma mae se seus filhos estivessem sempre quei- xando-se d’ella, justamente como se ella não tivesse em vista o seu bem, quando o esforço de toda a sua vida havia sido para adeantar os interesses d’elles e dar-lhes conforto? Supponha-se que elles duvidassem do seu amor; isto quebraria o coração delia. Como se sentiría qualquer pae que assim fosse tractado pelos seus filhos? E como póde o nosso Pae Celestal consi- derar-nos quando desconfiamos do seu amor, o qual ha levado-o a dar o seu unigenito Filho para que nós te­ nhamos vida? 0 apostlo escreve, “O que ainda a seu proprio Filho não perdoou, mas por nós todos o en­ tregou ; como não nos deu também com elle todas as cousas'’3) E comtudo, quantos pelas suas acções, senão em palavra, estão dizendo, ‘ ‘ O Senhor não ten­ ciona isto para mim. Talvez que elle ame outros, mas a mim elle não ama.” Tudo isto está prejudicando a vossa alma; pois toda a palavra de duvida que vós proferis está convidando as tentações de Satanaz; está fortificando em vós a tendencia a duvidar, e está entristecendo de vós os an­ jos administradores. Quando Satanaz vos tenta, não 8) Rom. 8 : 32. REQOSIJO NO SENHOR. 155 respireis uma palavra de duvida ou trevas. Se que­ reis abrir a porta ás suas insinuações, o vosso espirito será cheio de desconfiança e interrogação rebelde. Se falais francamente os vossos sentimentos, cada duvida que expressais, não só reage sobre vós mesmo, mas é semente que germinará e dará fructo na vida d’outros, e poderá ser impossível contrariar a influencia de vos­ sas palavras. Vós mesmo podereis recuperar da esta­ ção da tentação e da cilada de Satanaz; mas outros, que hão sido dominados pela vossa influencia, não po­ derão escapar da incredulidade que vós lhe insinuastes. Quão importante que nós falemos só aquellas cousas que darão fortaleza espiritual e vida. Anjos estão escutando para ouvir que qualidade de relatorio vós estais dando ao mundo a respeito de vosso Amo celestial. Seja a vossa conversação d’aquelle que vive para fazer intercessão por vós perante o Pae. Quando tomais a mão d’um amigo, haja louvor a Deos nos vossos lábios e em vosso coração. Isto attrahirá os seus pensamentos á Jesus. Todos têem desgostos; tristezas duras á ifupportar, tentações duras á resistir. Não digais as vossas tri- bulações aos vossos companheiros mortaes, mas levai tudo a Deos em oração. Fazei a regra de nunca pro­ ferir uma palavra de duvida ou desanimação. Podeis fazer muito para alegrar a vida d’outros e fortificar os seus esforços, por via de palavras d’esperança e santa coragem. Ha muita alma valente excessivamente importunada 156 PASSOS À CHRISTO. pela tentação, quase pronta a desmaiar no conflicto comsigo mesma e com as potências do mal. Não des­ animeis a um tal na sua dura lucta. Alegrai-o com valentes, esperançosas palavras que o urgirão no seu caminho. D’esta maneira a luz de Christo poderá bri­ lhar de vós. “ Porque nenhum de nós vive para si.”4) Pela nossa inconsciente influencia outros poderão ser animados e enfortalecidos, ou elles poderão ser desani­ mados, e repellidos de Christo e a verdade. Hão muitos que têem uma idéa erronia da vida e caracter de Christo. Elles pensão que elle era falto de vivacidade e alegria, que elle era rigido, severo, e triste. Em muitos casos a inteira experiencia relegiosa é colorida por estes aspectos tenebrosos. E muitas vezes dito que Jesus chorou, mas que nunca foi sabido que elle se sorrisse. 0 nosso Salva­ dor foi verdadeiramente um homem de dóres, e experimentado nos trabalhos, pois elle abriu o seu coração á todas as magoas dos homens. Mas em­ bora a sua vida era abnegadora e ennevoada com dor e cuidado, o seu espirito não foi esmagado. 0 seu semblante não trazia a expressão de tristeza e pesar, mas sempre de serenidade pacifica. O seu co­ ração era uma nascente de vida ; e onde quer que elle ia elle trazia comsigo descanço e paz, gozo e alegria. O nosso Salvador era profundamente grave e inten­ samente serio, mas nunca triste ou melancólico. A •*) Rom. 14 : 7. RE 00SIJO NO SENHOR. 157 vida d’aquelles que o imitam será cheia de resolução seria : elles terão profunda convicção de responsabili­ dade pessoal. Leviandade será reprimida : não haverá turbulenta alegria, nenhum rude gracejo ; mas a rele- gião de Jesus dá paz como um rio. Ella não extin­ gue a luz de gozo, não restrange alegria, nem anuvea a luminosa, risonha face. Christo não veiu para ser servido, mas para servir ; e quando o seu amor reina no coração, nós seguiremos o seu exemplo. Se nós trazemos predominante nos nossos entendi mentos os actos injustos doutros, acharemos impossi- vel ama-los como Christo nós amou ; mas se nossos pensamentos examinam o admiravel amor e piedade de Christo por nós, o mesmo espirito correrá para fóra á outros. Devemos amar c respeitar uns aos outros, não obstante as faltas e imperfeições que não temos re- medio senão ver. Humildade e desconfiança própria precisam ser cultivadas, e paciente ternura com as faltas d’outros. Isto matará todo o egoismo que aperta, e nos fará de coração largo e generosos. O Psalmista diz, “Espera no Senhor, e'faze boas obras : e habita na terra, e te sustentarás com as ri­ quezas d’ella.”5) Espera no Senhor. Cada dia tem as suas cargas, os seus cuidados, e perplexidades ; e quan­ do nos ajuntamos, quão prontos estamos para falar das nossas difficuldades e desgostos. Tantas tribula- ções emprestadas introduzem-se, tantos temores são indulgidos, semelhante pezo de anciedade é expressado, 6) Ps. 36 : 3, 158 PASSOS  CHRISTO. de modo que uma pessoa podería suppor que nós não temos um piedoso, amante Salvador, pronto a ouvir todos os nossos pedidos e a ser-nos sacorro presente em todo o tempo de necessidade. Alguns estão sempre assustados e tomando tribula- yão emprestada. Cada dia elles são cercados com os testemunhos do amor de Deos ; cada dia elles gozam as bondades do amor da sua providencia; mas elles passam por alto estas presentes bênçãos. As suas in- tellegencias continuamente se occupam com alguma cousa desagradavel, que elles temem possa vir; ou alguma difficuldade póde realmente existir, a qual, embora piquena, cega os seus olhos ás muitas cousas que requerem gratidão. As difficuldades que elles en­ contram, em vez d os impellir a Deos, o unico ma- nançial do seu socorro, separam-os d’elle, pela razão que elles acordam inquitação e lamentação. Fazemos nós bem de sermos assim descrentes? Por­ que motivo havemos de ser ingratos e desconfiados ? Jesus é nosso amigo; todo o Céo é interessado no nosso bem-estar. Não devemos permittir as perplexidades e importunações da vida de cada dia á affligir o espirito e toldar a fronte. Se o fazemos, sempre teremos al­ guma cousa para nos vexar e incommodar. Não con­ vem indulgirmos uma solicitude que sómente nos rala e consume, mas não nos ajuda a supportar os nossos desgostos. Podeis estar perplexo em negocios; as vossas per­ spectivas podem tornar-se mais e mais escuras, e vós RE GO SIJO NO SENHOR. 159 podeis ser ameaçado com perdas, mas não vos desani­ meis; lançai o vosso cuidado sobre Deos, e permanecei socegado e alegre. Orai por sabedoria para manejar os vossos negocios com descernimento, e deste modo impedir perda e desastre. Fazei tudo o que podeis da vossa parte para effeituar resultados favoráveis. Jesus tem promettido o seu auxilio, mas não separadamente do nosso esforço. Quando, confiando no nosso Auxi- liador, tendes feito tudo o que podeis, acceitai o re­ sultado alegremente. Não é a vontade de Deos que o seu povo seja op- primido de cuidado. Mas nosso Senhor não nos engana. Elle não nos diz, “Não temais; não estão perigos no vosso caminho." Elle sabe que hão desgostos e peri gos, e elle lida comnosco claramente. Elle não propoe tirar o seu povo d’um mundo de peccado e mal, mas elle aponta-os á um refugio infallivel. A sua oração pelos seus discípulos foi, ‘ ‘ Eu não peço que os tires do mundo, mas sim que os guardes domai.”6) “Vós haveis de ter afflicções no mundo, ” elle diz ; “ mas tende confiança, eu venci o mundo.”7) No seu sermão no monte, Christo ensinon aos seus discípulos preciosas lições a respeito da necessidade de confiar em Deos. Estas lições erão designadas á ani­ mar os filhos de Deos por todos os séculos, e elles têem chegado ao nosso tempo cheios d’instrucção e conforto. 0 Salvador apontou os seus seguidores aos passaros do ar como elles resoam os seus gorgeios de louvor <0 João 17 :1S. T) João 16 : 38. 160 PASSOS À CURISTO. desembaraçados dos pensamentos de cuidado, pois el- les “não semeiam, nem cegam.” E comtudo o grande Pae prove ás suas necessidades. O Salvador pergunta, “ Por ventura não sois vós muito mais do que ellas? ”8) O grande Fornecedor do homem e animaes abre a sua mão e suppre todas as suas creaturas. Os passaros do ar não são indignos do seu cuidado. Elle não de­ ixa cahir o comer nos seus bicos, mas elle faz provi­ são para as suas necessidades. Elles precisam ajuntar os grãos que elle tem espalhado para elles. Elles pre­ cisam preparar o material para os seus pequeninos ni­ nhos. Elles precisam dar de comer aos seus filhinhos. Elles vão ao seu trabalho cantando, pois o “vosso Pae Celestial os sustenta.” E “porventura não sois vós muito mais do que elles? ” Não sois vós, como intellegentes, espirituaes adoradores, de mais valor de que os passaros do ar? Não proverá o Auctor do nosso ser, o Preservador da nossa vida, Aquelle que nos formou na sua própria imagem, para as nossas necessidades se nós sómente confiarmos n’elle? Christo apontou os seus discípulos ás flores do campo, crescendo em rica profusão, e resplandecendo na simp­ les belleza que o Pae Celestial lhes havia dado como uma expressão do seu amor ao homem. Elle disse, “Considerai como crescem os lirios do campo.”9) A belleza e simplicidade destas flores naturaes, muito avantajam-se ao esplendor de Salamão. O mais sump­ tuoso adorno produzido pela pericia da arte não póde 8) Math. 6 : 26. ») Math. 6 : 23. “AS AVES DO CEO.” RE00SIJO XO SENHOR. 163 ter comparação com a graça natural e radiante belleza das flores da creação de Deos. Jesus pergunta, “Pois se ao feno do campo, que hoje é e á manhã é lançado no forno, Deos veste assim; quanto mais a vós, homens de pouca fé?”10) Se Deos, o artista divino, dá ás simples flores que perecem n’um dia, as suas delicadas e variadas côres, quanto maior cuidado terá elle por aquelles que são creados na sua imagem? Esta lição de Christo é uma reprehensão ao ancioso pensamento, á perplexidade e duvida, do desleal coração. O Senhor quer todos os seus filhos e filhas felizes, socegados, e obedientes. Jesus diz, “A paz vos deixo, a minha paz vos dou : eu não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem fique sobresaltado.”n) “Eu tenho vos dito estas cousas; para que o meu gozo fique em vós, e para que o vosso gozo seja completo.”12) Felecidade que é procurada de motivos interesseiros, fóra da vereda do dever, é mal equilibrada, agitada, e transitória ; ella desaparece, e a alma é enchida de isolamento e tristeza ; mas ha gozo e satisfação no serviço de Deos ; o Christão não é deixado á andar por caminhos incertos ; elle não é deixado á vãos pe- zares e desapontamentos. Se nós não temos os pra­ zeres desta vida, podemos todavia ser alegres em olhar á vida alem. Mas ainda aqui os Christãos podem ter o gozo de communhão com Christo ; elles podem ter a luz do seu 10) Math. 6 : 30. u) João 14 : 27- 12) João 15 : 11. 164 PASSOS à CEBISTO. amor, o perpetuo conforto da sua presença. Cada passo na vida póde trazer-nos mais perto de Jesus, pode dar-nos mais funda experiencia do seu amor, e póde trazer-nos um passo mais perto da abençoada morada de paz. Então não deitemos fóra a nossa con­ fidencia, mas tenhamos firme certeza, mais firme de que nunca antes. “Ate aqui nos ajudou o Senhor,”13) e elle nos ajudará ate o fim. Olhemos aos pilares monumentaes, lembradores do que o Senhor tem feito para nos confortar e para nos salvar da mão do des­ truidor. Conservemos frescas na nossa memória todas as compassivas misericórdias que Deos nos ha mos­ trado,— as lagrimas que elle enxugou, as dores que elle mitigou, as anciedades, os temores expulsos, as faltas suppridas, as bênçãos conferidas, assim fortifi­ cando a nós mesmos para tudo o que está deante de nós durante o resto da nossa peregrinação. Não podemos deixar de olhar adeante á novas per­ plexidades no conflicto que se aproxima, mas podemos olhar no que está passado como também no que está para vir, e dizermos, “Ate aqui nos ajudou o Senhor. ” “ A tua força será como os teus dias. ” u) A provação não excederá a força que nos será dada para a supportar. Então tomemos o nosso trabalho justa­ mente onde o achamos, crendo que seja o que fôr que venha, fortaleza proporcionada á provação será dada. E mais logo as portas do Céo serão abertas para 13) 1 Sam. 7 : 12. (Almeida.) u) Deut 33 : 25. (Almeida.) RE 00SIJO NO SENHOR. 165 admittir os filhos de Deos, e dos lábios do Rei da Gloria a benção descerá sobre os ouvidos d’elles como a mais rica musica, “Vinde bemditos de meu Pae, possui o reino que vos está preparado des do principio do mundo.”15) Então os remidos serão bem vindos á morada que Jesus está preparando para elles. Alli os seus com­ panheiros não serão os vis da terra, mentirosos, idola­ tras, os impuros e descrentes; mas elles associarão com aquelles que têem vencido a Satanaz, e pela graça divina têem formado caraccers perfeitos. Toda a pec- caminosa tendencia, toda a imperfeição, que os affiige aqui, ha sido removida pelo sangue de Christo, e a excellencia e esplendor da sua gloria, muito excedendo o lustre do sol, é concedida á elles. E a formosura moral, a perfeição do seu caracter, brilha atra vez d’el- les, em valor muito excedendo este explendor exterior. Elles estam sem culpa deante do grande throno bran­ co, participando da dignidade e privilégios dos anjos. Em vista da gloriosa herança que póde ser sua, “que commutação fará o homem para recobrar a sua alma?”10) Elle póde ser pobre, comtudo elle possue em si mesmo uma riqueza e dignidade que o mundo nunca podia dar. A alma remida e purificada do pec- cado, com todas as suas nobres faculdades dedicadas ao serviço de Deos, é de valor insigne; e ha alegria no Céo na presença de Deos e dos anjos santos sobre uma alma remida, alegria que é expressa em louvores de triumpho santo. is) Math. 25 : 34. 16) Math. 16 : 26.