Christ our Saviour — Portuguese. 1 Vida de Jesus “Tende em vós este sentimento que houve também em Jesus Christo, o qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou que o ser egual a Deus fosse cousa de que não devesse abrir mão, mas es- vasiando-se, tomando a forma de servo, foi feito semelhante aos homens; e sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.'’ Phil. 2:5—8. Por K G. White Terceira Edição -- ------------------------^ Jesus e a samaritana Sociedade Internacional de Tratados no Brazil Estação de São Bernardo — São Paulo. Prologo historia da vida terrestre de nosso Salvador Jesus Christo encontra-se escrita—sem o auxilio de palavras— em cada manifestação da natureza, em cada phase da expe- riencia humana, em cada facto da vida. Nunca havemos de comprehender cabalmente quão profunda foi a impressão e quão extensa a influencia exercida pela vida de Jesus de Nazareth. Cada sorte de benção vem a nos por meio da- quella communicação que foi estabelecida entre o céu e a terra, quando o Senhor da gloria tomou a si o cuidado de um mundo abysmado em peccado. A sublimidade infinita daquella historia animou a penna dos eruditos e a lingua dos eloquentes. Porém melhor ella sôa aos nossos ouvidos numa linguagem despretenciosa e singela. Aquelle maravilhoso espectáculo não carece de um aíormoseamento por parte do homem. Sua gloria excede toda a arte humana e parece mais radiante no seu proprio brilho. Neste livrinho não se cogitou do ornamento artificial. Possuído de um sentimento profundo da profundeza e ampli­ tude do assumpto, a autora repetiu a historia numa lingua­ gem accessivel ás creanças, com uma simplicidade e lhaneza que correspondem ás necessidades d’alma tanto de moços como de velhos. Oxalá seja recebida pelos seus leitores com a mesma simplicidade e pureza de fé: ' G. E. T. v Reservam-se todos os direitos de propriedade índice das matérias VI índice das gravuras Paginas Introducção — A infancia de Jesus . . . . 9 0 nascimento de Christo.......................................................25 A apresentação de Jesus no templo . . . . 30 A visita dos magos................................................................35 Da infancia á virilidade ........................................................40 A tentação................................................................................45 Iniciação do ministério................................. 50 Os ensinos de Jesus................................................................52 O bom Pastor........................................................................60 A entrada de Jesus em Jerusalem.......................................66 “Tirae daqui isto” ................................................................73 A paschoa . 79 No jardim de Gethsemane...............................................83 Traição e prisão de Jesus . . . . . . 90 Perante Annás, Caiphás e o Synhedrio . . . . 96 Judas . . ! ..........................................................103 Perante Pilatos......................................................................106 Perante Herodes..............................................................113 Entregue por Pilatos.....................................................117 Golgotha...............................................................................125 A morte de Christo..............................................................130 No sepulcro de José..............................................................134 Resuscitou...............................................................................140 “Ide, e annunciae-o aos meus discípulos” . . .143 Testemunhas................................................. 148 “Este Jesus” '................................................. . .155 0 Salvador assumpto . . * . . . . .158 Sua volta......................................................... 161 O dia de juizo................................................. . .167 A patria dos remidos . . . . . . .172 Jesus e a samaritana . . . . » . * * • Frontispicio “Deixae vir a mim os pequeninos” , ..............................................° Os anjos apparecem aos pastores......................................................... 24 José e Maria em caminho de B elem ....................................................................26 Belem............................................................................................................................. * A visita dos pastores...................................................................................................... A apresentação de Jesus no tem plo............................................................................31 A paschoa..............................................* ...............................................................................^2 A nova estrella.....................................................................................................................................3o Seguindo a nova estrella..............................................................................................................3o A fuga para o E gypto...............................................................................................................41 Na officina de carpinteiro...............................................................................................................43 A tentação................................................................................................................................................46 As bodas de C aná..........................................................................................................................49 Na synagoga de Nazareth..............................................................................................................51 Colhendo espigas em um sabbado........................................................................................53 Cura do paralytico..........................................................................................................................58 “Eu sou o bom Pastor” ..............................................................................................................51 A’ vista de Jerusalem.........................................................................................................................55 Jesus é levado em triumpho a Jerusalem . . . . . . 67 Destruição de Jerusalem...............................................................................................................71 A purificação do templo.................................................................................... 74 O louvor dos m eninos..............................................................................................................7b A ultima paschoa . ................................................................................ 78 Jesus lava os pés aos discípulos.......................................................................................°* A agonia no horto de Gethsemane........................................................................................°4 Vigiae e o ra e.....................................................................................................................................°y Jesus é trahido por Judas...............................................................................................................9* Perante o Synhedrio.........................................................................................................................^5 “Conjuro-te pelo Deus vivo” ...................................................................................................99 “E’ réu de morte” ........................................................................................................................*UU Judas vende o seu Senhor.................................................................................................*5- “Tu és o rei dos judeus ?” .................................................. • • • *57 Jesus perante Herodes . . . , .........................................................**3 Christo ou Barrabás.......................................................................................................................jj” “Eu sou innocente do sangue deste justo” ...............................................................]*y O Salvador é escarnecido e injuriado..........................................................................J21 A crucificação................................................................................................................................... Jesus é pregado sobre o madeiro ......................................................................................*37 “O véu do templo rasgou do alto abaixo” .........................................................*32 0 sepultamento de Jesus............................................................................................................J35 O sellamento da sepultura............................................................................................................*37 O mensageiro celeste........................................................................................................................*39 Na manhã da resurreição .................................................................................................*4* “Não me toques, porque ainda não subi para meu Pae’^ . • . *45 “Fica comnosco, porque já é tarde, e já declinou o dia” . • * í-, "Paz seja comvosco” .......................................................................................................................*2* Ascenção de Jesus........................................................................................................................*54 Levantae, ó príncipes, as vossas portas..........................................................................*59 Sua volta.................................................................................................................• J^3 A patria dos remidos........................................................................................................................|T* O pastor divino guia o seu rebanho......................................................................................1/4 . VII Introducção Jesus, antes de vir a este mundo, era um grande Rei nos céus. Era sublime como Deus, mas tal foi o amor que votou á pobre humanidade, que de bom grado depôz a sua corôa e as suas vestes reaes, bab xando ao mundo para fazer-se um membro da familia humana. Não podemos comprehender como Christo veiu a tornar-se um debil e desajudado infante. Elle poderia ter vindo a esta terra ostentando uma belleza que muito o distinguisse dos outros homens. O seu rosto poderia reflectir a gloria de Deus e a sua figura ser donairosa e bella. Elle poderia ter-se manifestado de tal modo entre os homens, que o seu mero aspecto os attrahisse a to­ dos ; mas não era este o designio de Deus. Elle devia ser similhante áquelles que constituíam a familia humana, e particularmente a tribu judaica. Suas feições não de­ viam differir das dos outros homens, nem Lhe ser pecu­ liar belleza alguma que Lhe desse vantagem sobre elles. Devia vir ao mundo como um membro da familia humana e apresentar-se como homem diante do céu e da terra. Devia identificar-se com o homem, consti­ tuir-se o seu fiador e pagar a sua divida. Devia con­ duzir na terra uma vida irreprehensivel e assim provar que Satanaz dissera uma mentira quando reclamou o homem como propriedade sua, pretendendo que Deus não podia arrebatal-o de suas mãos. Viram os homens a Christo primeiramente menino. Seus paes eram pobres, pelo que teve de partilhar a sorte desses taes, sendo egualmente sujeito a todas as provações que sobrevêm aos pobres, desde a sua infân­ cia até a maturidade. 9 2 “Deixae vir a mim os pequeninos” A Infancia de Jesus tamento cumpria os mais pequenos deveres da vida. Elle fez-se um comnosco para nos fazer bem. Sua vida foi assignalada por fadigas e indigencia, afim de significar aos pobres que pode compadecer se delles. O Rei dos céus provou as agruras da miséria. O Salvador do mundo não buscou commodidades próprias nem prazeres desta vida. Não optou pelo nascimento nobre ou pela posição elevada em que pu­ desse ser honrado e glorificado. Antes experimentou a afflicção daquelles que, para ganharem a sua subsistên­ cia, se vêm obrigados ao trabalho, e isto para poder con­ solar a todos, por mais humilde que fosse a sua posição. A historia de sua vida trabalhosa nos foi relatada para delia podermos haurir conforto. Aquelles que co­ nhecem a vida de Christo jamais hão de menosprezar aos pobres ou ter os ricos em mais alta conta. A respeito de Jesus lemos: „E Jesus crescia em sabedoria e em edade, e em graça diante de Deus e dos homens.” Tinham os seus paes por costume subir cada anno a Jerusalem, para assistir á festa da paschoa, a uma das quaes Lhe foi permittido acompanhal-os quando teve a edade de doze annos. Terminada a festa, os paes de Jesus regressaram em companhia de alguns parentes, sem entretanto nota­ rem que Jesus nâo ia com elles. Suppunham-n’0 entre os companheiros de viagem e só deram pela sua falta ao cair da tarde de sua primeira jornada. Com cuidado de seu filho volveram a Jerusalem, onde afflictos, O pro­ curaram pelo espaço de tres dias. „E aconteceu que tres dias depois O acharam no templo no meio dos doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas.” Esses doutores eram homens illustrados, comtudo se maravilhavam das perguntas que Jesus lhes fazia, e da grande intelligencia que revelava acerca da 11 A Infancía de Jesus  Infancía de Jesus b^/ Ha quasi dois mil annos foi ouvida do throno de Deus uma voz que dizia: ^Sacrifício e offerenda ^ nào quizeste: mas me formaste orelhas perfeitas. E holocausto pelo peccado nâo pediste: Então disse: Eis aqui venho. Na cabeceira do livro está escrito de mim: Para fazer a tua vontade: Deus meu, eu o quiz, e no intimo do meu coração desejei se cumprisse a tua lei.” Quanto mais reflectirmos sobre o modo por que Christo veiu a tornar-se um menino na terra, tanto mais maravilhoso isto nos parece. Como é possível aquella criança inerme na mangedoura de Belém ser, nâo obstante, o Filho de Deus? Se custa a comprehendel-o, podemos todavia acreditar que Aquelle que creou o Universo, se fez um menino por amor de nós. Embora fosse mais sublime que qualquer dos anjos, embora fosse mesmo egual ao Pae, Jesus comtudo, se fez como um de nós. N’Elle Deus e o homem se uni­ ram, e é justamente neste facto que se funda a espe­ rança de uma geração decaida. Contemplando a Christo na carne, vemos a Deus personificado no homem, vemos n’Elle o resplandor de sua divina gloria, a imagem exacta de Deus, o Pae. Desde a sua mais tenra infancia Jesus conduziu uma vida laboriosa. Na sua mocidade trabalhou com o pae pelo officio de carpinteiro, mostrando-nos deste modo que não devemos envergonhar-nos do trabalho. Com- quanto fosse o Rei dos céus, entregou-se não obstante ao exercício de um officio menosprezado, condemnarido assim toda ociosidade no genero humano. Qualquer trabalho que fôr executado á maneira que Christo exe­ cutou o seu, é honroso. Os que se deleitam no ocio, não seguem o exemplo de Christo, que desde menino foi um exemplo de diligencia e sujeição. Na casa pa­ terna Elle era a luz do sol. Com fidelidade e conten- 10 Biblia. Também os seus paes escutavam ad­ mirados, ouvindo-Lhe as perguntas indagadoras. Jesus sabia que o Pae Lhe havia proporcionado esta opportunidade para communicar a luz aos que esta­ vam assentados em trevas, pelo que se empenhou com zelo afim de revelar a verdade aos doutores e rabbinos. Induzia esses homens a pronunciarem-se acerca de diversos textos da Biblia que tratavam do Messias, ao qual esperavam. Acreditavam elles que Christo havia de vir já naquelle tempo com grande magestade e gloria, para tornar a nação judaica a mais poderosa nação sobre a terra. Jesus porém chamou a sua attenção sobre as passagens que fallavam da humilhação, dos soffrimentos, da rejeição e da morte do Filho de Deus, pedindo o seu parecer sobre as mesmas. Comquanto parecesse que era Jesus, quem, como um menino, desejava ser instruído por elles, era comtudo Elle quem os esclarecia com cada palavra que lhes dizia. Elle citava as passagens de tal modo, que elles tinham uma explicação clara acerca do Cordeiro de Deus que tira os peccados do mundo. Ao passo que ensinava aos outros, ia adquirindo um conhecimento mais per­ feito da sua própria obra e da sua missão a este mun­ do, pois está escrito que elle crescia em sabedoria diante de Deus e dos homens. Que ensinamento este facto encerra para a moci­ dade de hoje! Examinando a palavra de Deus e aco­ lhendo a luz que o Espirito Santo deseja dar-lhes, elles podem fazer-se similhantes a Christo e communicar a luz a outrem. Instruindo outros acerca da graça de Deus, Deus lhes communicará novas graças do céu. Quanto mais se esforçarem por instruir outros nos ca­ minhos de Deus, tanto melhor elles proprios hão de comprehender o plano da salvação e tanto mais abun­ dantemente a graça de Deus habitará em seus corações. Andando em humildade como Jesus, os jovens serão para o mundo a luz e o sal. As perguntas feitas por Jesus áquelles homens doutos, despertou nelles a mais viva admiração, pelo que se sentiram impellidos a desafial-0 para um estudo mais aprofundado das Sagradas Letras. Desejavam saber o quanto era versado em assumptos de profecia e por isso formularam toda sorte de perguntas. José e Maria ficaram tão admirados das respostas de seu filho quan­ to áquelles homens doutos. Houve uma pequena pausa, e Maria, aproveitando o ensejo, abeirou-se de seu filho e disse: „Filho, por­ que usaste assim comnosco? sabes que teu pae e eu te andamos buscando cheios de afflicçáo?” Uma luz divina illuminou-Lhe o rosto, quando Jesus, elevando a mão, lhes respondeu: „Para que me buscaveis? não sabeis que importa occupar-me das coisas que são do serviço de meu Pae?” O verdadeiro sentido destas pa­ lavras não foi comprehendido de José e Maria, sabiam no entanto que era um filho submisso e que de bom grado lhes obedecería. Posto que fosse o Filho de Deus, tornou com elles a Nazareth e „foi-lhes sujeito.” Sua mãe, comquanto ignorasse o sentido daquellas pa­ lavras, todavia não as esqueceu, mas „conservou-as em seu coração.” Já com edade de doze annos Jesus revelava quali­ dades que testificavam da sua communhão com o Espi­ rito de Deus. Já então começava a perceber a magni­ tude de sua missão e esta comprehensão O impelliu á acção. Empenhava-se por isso em facilitar aos doutores e rabbinos a intelligencia dos profétas, mostrando-lhes qual devia ser a legitima missão do Messias. O povo judeu não tinha uma noção exacta acerca do Messias e da sua missão. Era crença geral entre elles que Jesus, quando Elle viesse, havia de operar 13 12 À Infancia de Jesus A Infancia de Jesus ao peccado, Jesus nunca consentiu no mal, nem nunca se desviou uma linha siquer do caminho da vida e da verdade. Sua infancia e juventude não fo­ ram isentas de espinhos e difficuldades. Sua vida vir­ tuosa e immaculada excitava a inveja de seus irmãos. Enfadavam-se por se recusar Jesus obrar á maneira delles. Sua nobre aspiração era no entanto instruir-se. Deleitava-se na contemplação da natureza e Deus era o seu preceptor. Já em criança, Jesus notou que os homens não viviam conforme os preceitos das Escrituras. Exami­ nava por isso a palavra divina, observando escrupulo- samente os seus ritos e preceitos, e, se era censurado por causa de sua simplicidade, costumava remetter os seus censores á Palavra de Deus. Diziam seus irmãos que Jesus se tinha em maior conta do que elles e O accusavam de exaltar-se sobre os sacerdotes e principaes. Reconheceu Jesus que, se persistisse no seu intento de obedecer tão sómente a Palavra de Deus, havia de privar-se da paz e tranquil- lidade na casa paterna. Nada porém podia demovel-0 do seu santo proposito. A’ medida que crescia em sabedoria, notava tam­ bém que os erros se multiplicavam entre o povo, e que a ingenuidade, a verdade e a verdadeira piedade acaba­ vam por desapparecer da face da terra, em consequên­ cia de se apegarem os homens mais ás palavras huma­ nas do que á Palavra de Deus. Observava como nos cultos divinos os homens se entregavam de corpo e alma ao exercício de ceremonias e formas exteriores, preterindo assim as verdades santas que unicamente po­ diam dar valor ao seu culto. Sabia que o culto que votavam a Deus de nada lhes aproveitava e que, por não ser prestado com a necessária fé, não podia pro- 15 A Infancia de Jesus A Infancia de Jesus grandes prodígios, rehabilital-os e dar-lhes um logar eminente entre as nações. Aguardavam em summa a gloria que se deve manifestar na occasião de sua volta. Não examinavam as Escrituras e, portanto, ignoravam por completo o caracter do seu primeiro ad­ vento, que Jesus deveria realizar em figura de servo. O Salvador, porém, fazendo-lhes perguntas acerca de passagens que se referiam á sua primeira apparição, fez germinar a luz no espirito daquelles que almejavam conhecer a verdade. Antes de vir ao mundo Jesus havia confiado es­ tas profecias aos seus servos, os quaes as escreve­ ram; e agora, ao examinar a Biblia, o Espirito Lhe lem­ brava todas estas coisas, mostrando-Lhe a grande obra que devia realizar na terra. A’ medida que crescia em sabedoria, também a communicava aos outros. Mas, não obstante a sua sa­ bedoria exceder em muito a daquelles homens doutos, nem por isso se orgulhava, nem estas coisas podiam dis- suadil-0 de exercer os mais humildes misteres. Compar­ tilhava com o pae, a mãe e os irmãos os deveres quoti­ dianos, trabalhando com elles para a subsistência da famí­ lia. Si bem que dotado de uma sabedoria de fazer pasmar aos escribas, era não obstante submisso, obediente aos paes e dedicado ao trabalho como o mais affeito jornaleiro. Comquanto comprehendesse dia a dia mais perfei- tamente o fim para o qual fôra enviado, desempenhava comtudo fielmente as menores obrigações. Occupava-se com satisfação de trabalhos a que são obrigados os meninos e os moços que se educam em condições mo­ destas. Cedo experimentou as necessidades da pobreza, pelo que conhece as provações a que estão expostos os meninos e os jovens desta classe. Firme e resoluto persistiu no proposito de obrar sempre rectainente. Embora outros tentassem seduzil-0 14 porcionar-lhes a paz e a tranquilidade deseja­ das. Emquanto nâo adorassem a Deus „em ver­ dade,” haviam de ignorar o que significa gozar da li­ berdade do Espirito. Nem sempre Jesus assistia a esses cultos em si­ lencio, porém advertia muitas vezes á gente o seu erro. A facilidade que tinha em discernir a verdade do erro, deu motivo a que seus irmãos n’Elle se escandalizassem, porquanto eram de parecer que tudo que os phariseus dictavam, tinha a mesma sancção que os mandamentos de Deus. Jesus porém ensinava pela palavra e pelo exemplo, que os homens devem adorar a Deus segundo os preceitos da sua Lei, e não segundo preceitos humanos. Muito indispuzera aos seus irmãos o não querer Jesus satisfazer ao que os doutores Lhe exigiam, prefe­ rindo obedecer á Palavra de Deus a seguir as tradic- ções dos homens. Também os phariseus se desgosta­ vam por causa da ousadia daquelle menino que recusava reconhecer-lhes os seus preceitos e instituições. Consi­ deravam isto grande desacatamento á religião dos rab- binos, que eram os organizadores de taes cultos. Jesus porém lhes dizia que do melhor grado se prestaria a obedecer a toda a palavra de origem divina, e que por isso deviam convencel-0 pela Biblia do erro de que O accusavam. Fez-lhes notar como acabavam de collocar a palavra dos homens antes da Palavra de Deus e como, exigindo ao povo obediência aos preceitos humanos, O induziam a desprezar o mandamento divino. Sabiam perfeitamente os rabbinos que nada existia nas Escrituras com que pudessem persuadir Jesus a obe­ decer ás suas tradicções. Sabiam também que Elle lhes levava vantagem em sciencia espiritual e que conduzia uma vida irreprehensivel; não obstante estavam irritados por Jesus se recusar a submetter-se aos seus preceitos A Infancia de Jesus A Infancia de Jesus z^r/' e a obrar contrariamente á sua consciência. ^ Reconhecendo a inutilidade de convencel-0 da santidade de suas tradicções, foram ter com José e Maria queixando-se do desacato de Jesus aos seus ritos e preceitos. Experimentou Jesus então o que significa ter os domésticos divididos contra si em questões de fé. Amava a paz, aspirava ao amor e á confiança de todos os membros da familia, mas teve de provar o que ha a tolerar quando estes nos privam dos seus affectos. Sof- freu censuras e asperas reprehensões por obstinar-se em trilhar a senda da justiça, e não consentir no mal porque outros nelle consentiam. Censuravam-n’0 seus irmãos por não tomar parte nas ceremonias que os rabbinos prescreviam, pois acatavam mais esses preceitos do que os mandamentos divinos, por isso que preferiam o lou­ vor dos homens ao louvor que provém de Deus. Jesus era um assiduo examinador das Escrituras. Quando quer que os sacerdotes ou escribas tentassem persuadil-0 a seguir-lhes as doutrinas e o exemplo, sempre O encontravam armado da Palavra de Deus, e de maneira nenhuma conseguiam convencel-0 da justeza de sua posição. Parecia que conhecia as Escrituras de principio a fim, e citava-as sempre de modo a tornar intelligivel a sua significação. O facto d’Elle os exce­ der em sabedoria, envergonhava-os. Não obstante exi­ giam Lhe obediência e plena submissão ás doutrinas da egreja. Entendiam que o officio de interpretar as Es­ crituras competia a elles unicamente, sendo do seu de­ ver acceitar o que ensinavam e agastavam-se por ousar aquelle menino revocar em duvida as suas palavras, quando se consideravam os únicos auctorizados a estu­ dar e explicar o Texto Sagrado. Todas as diligencias empregadas pelos escribas, rabbinos e phariseus com o fim de obrigar Jesus a re- 17 16 nunciar os seus princípios e adoptar os pre­ ceitos de homens, provaram-se improficuas, mas talvez pudessem influenciar os seu irmãos de modo a concorrerem elles para este fim, amargurando-Lhe a vida. Ameaçavam-n’0 por isso seus irmãos, tentando coagil-0 a tomar pelo caminho errado; Jesus porém proseguia desassombradamente na senda da verdade, apegando-se ás Escrituras como o seu unico guia. A partir do dia em que os seus paes O encontra­ ram no templo cercado dos rabbinos e doutores, sua conducta lhes causou estranheza. Manso e humilde no seu trato, parecia muito differente de todos os outros. Quando se Lhe offerecia occasião, saía aos campos ou ás montanhas para communicar-se com o Deus da natu­ reza. Concluida a tarefa do dia, se dirigia á margem do lago, á tranquilla floresta ou aos virentes valles onde, mais á vontade, podia alar-se á contemplação de Deus e elevar sua alma em oração a Elle. Confortado de novo, volvia á morada paterna, onde retomava os trabalhos habituaes, dando a todos um exemplo de paciente labor. Jesus amava os meninos, e procurava sempre in- fluencial-os para o bem. Já na sua infancia manifestava particular cuidado pelos pobres e necessitados. De uma maneira terna e submissa buscava agradar a todos que com Elle communicavam. Mas tâo humilde e submisso como era, ninguém podia persuadil-0 a obrar contraria­ mente á Palavra de Deus. Admiravam alguns o seu caracter perfeito e bus­ cavam frequentemente a sua companhia. Outros, porém, que davam preferencia aos ensinamentos de homens, voltavam-Lhe as costas, procurando evitar quaesquer re­ lações com Elle. A mesma firmeza e integridade de caracter que assignalaram a sua vida posterior, Elle 18 manifestou também na sua infancia e juventude. Attentando nos sacrifícios que eram offerecidos no templo, Jesus era ao mesmo tempo instruído pelo Espi­ rito acerca do sacrifício de sua vida que devia depôr para poder dar vida ao mundo. Como uma tenra planta que viceja e cresce, Jesus crescia e se desenvolvia, nào nos rumores das grandes praças, mas no remanso de amenos valles, circumdados de magestosas collinas. Jesus esteve sob o constante cuidado de anjos ce- lestiaes, isto não obstante, sua vida foi apenas uma lucta interminável contra as potências das trevas. Satanaz buscava seduzil-O, de todas as maneiras e operava so­ bre os homens por forma a fazel-os interpretarem mal as suas doutrinas e assim repellirem a salvação que Elle viera trazer-lhes. Jesus experimentou pertinaz resis­ tência, tanto em casa de seus paes, como fóra onde andava, não porque praticasse a injustiça, mas porque a sua vida, isenta da mancha do peccado, exprobrava toda e qualquer iniquidade. A sua maior felicidade consistia na contemplação da natureza e na communhão com o Deus da mesma. Conscienciosamente cumpria os santos preceitos de seu Pae celestial, e era precisamente com o que se consti­ tuía em excepção na roda daquelles que desprezavam a Palavra de Deus. Sua vida immaculada era uma expro- bração para muitos que, por isso, evitavam o seu con­ tacto. Havia comtudo alguns que se sentiam ditosos em sua presença e que por isso buscavam a sua com panhia, pois era manso e jamais disputava o seu direito. Os seus proprios irmãos Lhe tinham odio e zom­ bavam d’Elle. Tratavam-n’0 com profundo desdem, ma­ nifestando que não criam n’EUe. Em casa de seus paes, 19 A Infancia de Jesus A Infancia ; de Jesus rém sem nenhum motivo tornavam a sua vida penosa, por isso que era muito condescendente e não murmurava. Jesus porém proseguia sem desani­ mar com isso. Mostrava-se sobranceiro a todas as ad- versidades da vida e continuava a conduzir-se como em presença de Deus. Paciente tolerava todas as offensas, tornando-se assim na sua natureza humana um exemplo para todos os. meninos e jovens. Jesus consagrava á sua mãe o mais profundo amor e respeito. Comquanto ella Lhe fatiasse muitas vezes procurando persuadil-0 a corresponder aos desejos de seus irmãos, sua veneração por ella não diminuía. Em vão os seus irmãos tentavam induzil-0 a modificar os seus costumes. Sabia que não havia injustiça em me­ ditar nas obras de Deus e testemunhar aos pobres e infelizes amizade e sympathia. Esforçava-se por mitigar os soffrimentos tanto dos homens como dos irracionaes. Maria mostrára-se apprehensiva ao apresentarem os rabbinos tão amargas queixas contra Jesus, tranquilli- sou-se porém quando seu filho lhe expoz o que as Es­ crituras diziam no tocante ao seu procedimento. E’ ver­ dade que em tempos ainda se mostrava hesitante, não sabendo por quem decidir-se, se por Jesus ou seus ir­ mãos, que não criam ser Elle o enviado de Deus. No­ tava-Lhe porém tantas qualidades excepcionaes que claramente lhe revelavam o Seu caracter divino. Obser­ vava também como se consagrava aos interesses de ou­ trem, e como crescia em sabedoria e em graça para com Deus e com os homens. divertido perdulário, ao militar pagão como ao injusto samaritano. Attentava em todos com a mesma sympathia. Dirigia-lhes a palavra, não com o fim de os censurar ou desanimar, mas para lhes mi­ nistrar conselhos que, attendidos com fé, redundariam para elles em cheiro de vida para a vida. Tratava a todos como merecendo-Lhe o mais alto apreço. Ensinava os homens a considerarem-se como entes dotados de subidos talentos, os quaes, convenien­ temente empregados, lhes dariam a verdadeira elevação moral e os nobilitaria, garantindo-lhes ao mesmo tempo uma felicidade eterna. Pelo seu exemplo e caracter lhes ensinava o quanto são preciosos os instantes fugitivos da vida, como um tempo propicio que são para lançar as bases do porvir. Os grandes princípios da Lei divina se manifestaram em toda a sua vida, desde a infancia até a virilidade. Tinha constantemente o cuidado de pôr sua vida ao abrigo das vaidades deste século, en­ sinando que deve ser vigiada como um thesouro que só se destina a fins santos. Insistia finalmente no valor de um caracter bem formado e na importância de termos as nossas vidas consagradas a Deus, afim de constituir­ mos o sal da terra que deve preservar os homens da corrupção moral. Jesus nunca passava por alto alguém por considerar tal pessoa indigna de sua attenção ou irremissivelmente perdida, mas applicava o seu remedio reparador a toda alma que necessitasse do seu auxilio. Onde quer que fosse encontrado, estava ministrando ensinos adequados ao tempo e ás circumstancias. Nas almas rudes e pouco promettedoras procurava infundir esperança, ensinando- lhes como podiam vir a tornar-se puras e irreprehensi- veis e formar um caracter simiihante ao d’Elle. Mos­ trava-lhes como podiam vir a ser filhos de Deus e lu­ zeiros neste mundo. Por esta razão muitos 0 escutavam 21 A Infancia de Jesus òua viaa entre os homens era similhante ao fer­ mento que influe sobre toda massa. Innocente e puro Elle se movia no meio daquella gente rude e negligente, tratando affavelrnente tanto ao iniquo publicano como ao 20 A Infancia de Jesus com prazer. Foi como Jesus se empenhou pela felicidade de outros, fazendo assim resplandecer a sua luz em meio das trevas moraes deste século. Pela maneira como attendia aos seus deveres em casa e exercia os seus misteres em publico, revelou aos homens o caracter de Deus. Dava impulso a tudo quanto se Lhe affigurava de algum valor moral, porém não aco- roçoava a mocidade a entregar-se a meras utopias. Pela palavra e pelo exemplo lhes ensinava que a sua con- ducta do presente determinaria o seu futuro. A nossa conducta decidirá da nossa sorte. Aquel- les que fazem justiça, seguindo o plano traçado por Deus, mesmo nas mais limitadas espheras de acção, acharão sempre mais vastos campos em que se possam fazer uteis. Aquelles que em suas modestas posições tributam plena obediência aos mandamentos de Deus, habilitam-se a si proprios para o exercício de encargos mais elevados. O Senhor os abençoará com a perspe­ ctiva da recompensa eterna e os auxiliará purificando e nobilitando as suas almas. Os judeus, muito presumidos de si mesmos, cqnsi- deravam-se superiores ás outras nações, esquivando-se por isso a quaesquer relações com ellas. Jesus porém communicava com todas as classes. Viera a procurar e salvar o que se havia perdido. Seus irmãos se indispu­ nham com Elle por causa disto. Não comprehendiam uma tal conducta. Na sua grande empreza não houve quem O assis­ tisse. Privado de toda assistência humana pisou o lagar sósinho, sem por isso deslizar nalgum ponto de sua fidelidade e pureza. Agora porém é o nosso privilegio partilhar essa obra. Podemos ser cooperadores com Christo. Nas nossas occupações, quaesquer que sejam, podemos cooperar com Elle e Elle, a seu turno, tudo 22 fará para nos libertar e tornar a nossa vida, ap- parentemente tão mesquinha e circumscrita, um manancial de bênçãos para os nossos similhantes. Jesus dá-nos a entender que temos a responsabilidade do bem que porventura nos é dado praticar, advertindo- nos que da isenção desse dever só nos pode provir damno. Observára muitos durante a sua vida que não preenchiam o fim de sua existência. Encontrando-se com taes que se deliciavam no ocio, reprehendia-os dizendo: „Porque estaes vós aqui todo o dia ociosos? Importa trabalhar emquanto fôr dia, porque a noite vem em que ninguém pode trabalhar.” A coisa que mais notadamente O preoccupava, era a salvação dos homens. Sabia que se O rejeitassem, re­ cusando mudar de proposito e de vida, estariam irremis- sivelmente perdidos. Esta idéa foi a que mais O oppri- mia e que constituía para Elle um fardo cuja magnitude ninguém pode comprehender. Desde a mais tenra edade fôra animado do desejo de ser uma luz para o mundo, e o seu proposito era que a sua vida fosse effectiva- mente tal. A Infancia de Jesus 23 A Infancia de Jesus Os anjos appare- cem aos pastores (Eis aqui vos dou novas de grande alegria” O nascimento de Christo cantoada entre as collinas da Ga- liléa meridional, está situada a pequena cidade de Nazareth, resi­ dência de José e Maria, os paes terrestres de Jesus. José era da descendencia ou linhagem de David, pelo que se fez mistér, ao ser decretado o re- censeamento do mundo por parte de Cesar Augusto, que José se dirigisse a Belem, cidade natal do grande rei, afim de ali fazer ins- crever o seu nome. Era esta uma viagem extremamente penosa, mórmente attendendo-se ao modo por que taes viagens eram então effectuadas, e Maria, que acompanhava o seu esposo, estava em extremo fatigada ao vencer a rampa da collina em cujo topo está situada Belem. Como estava anciosa a sua alma por encontrar um cíiir» pm rmp nndesse recobrar-se das suas fa­ digas ! Atulhados, porém, os albergues, em que os grandes e abastados se achavam largamente alojados, não restava .aos modestos viajantes senão mesquinho agazalho sob o tecto de escura estrebaria. 25 3 24 26 0 nascimento de Christo Não se podiam dizer pobres, porque, embora lhes escasseassem bens terrestres, Deus os amava, e isto lhes proporcionava paz e contentamento. Eram filhos do celeste Rei que estava a ponto de honral-os superiormente a todas as suas creaturas. Anjos lhes haviam dispensado o seu cuidado durante toda a sua viagem, e quando começaram de repousar na José e Maria em caminho de Belem humilde estalagem, esses mesmos anjos velavam junto de seus leitos. Foi aqui, neste vil tugurio, que nasceu o Salvador do mundo, sendo deitado numa mangedoura. Neste rude berço jazia reclinado Aquelle cuja presença ainda ha pouco tempo havia innundado de gloria os paços celestiaes. Belem 27 3* 28 0 nascimento de Christo Lá fôra adorado dos anjos, aqui tinha os brutos por companheiros. A inferioridade do sitio, porém, não podia influir em detrimento de sua honra, antes, esse mesmo sitio recebeu da sua presença uma gloria que lhe ha de per­ durar emquanto fôr lembrado o nome de Belem. Os sacerdotes e os príncipes da nação judaica não estavam apercebidos para saudar o nascimento do Sal­ vador do mundo. A visita dos pastores Não revelavam nenhuma anciedade pela sua apparição e o seu excessivo orgulho os teria impedido de reconhecer, no menino na mangedoura em Belem, o Messias promettido. Por isso enviou Deus do throno de sua divina gloria lúcidos mensageiros a annunciar a nova a uns pastores que apascentavam os seus rebanhos nas planícies de Belem- Meditavam esses homens devotos na promessa do Messias O nascimento de Christo 29 e estavam anhelantes pela sua vinda. A estes pois cum­ pria que fosse annunciada a divina nova, porque estavam no caso de dar-lhe o devido apreço. “E eis que se apresentou junto delles um anjo do Senhor, e a claridade de Deus os cercou de refulgente luz» e tiveram grande temor. Porém o anjo lhes disse: Não temaes: porque eis aqui vos venho annunciar um grande gozo, que o será para todo o povo, e é que hoje vos nasceu na cidade de David, o Salvador, que é-o Christo Senhor.” “E este.é o signal que vol-o fará conhecer: Achareis um menino envolto em pannos, e posto em uma mange­ doura. E subitamente appareceu com o anjo uma multidão numerosa da milicia celestial, que louvava a Deus e dizia: Gloria a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens, a quem elle quer bem.” UE aconteceu que, depois que os anjos se retiraram delles para o céu, fallavam entre si os pastores, dizendo: Passemos até Belem, e vejamos que é isto que succedeu, que é o que o Senhor nos mostrou.” “E foram com grande pressa, e acharam Maria e José, e o menino posto em uma mangedoura. E vendo isto, conheceram a verdade do que se lhes havia dito aceica deste menino.” “E todos que ouviram se admiraram: e também do que lhes haviam referido os pastores. ’ Entretanto Maria “guardava todas estas coisas, con­ ferindo-as no seu coração.” *) !) Luc. 2:9—19. A apresentação de Jesus no templo osé e Maria eram descendentes de judeus e observavam os costumes de sua nação. Tendo Jesus a edade de oito dias foi circumcidado,de conformidade com o preceito dado a Abrahão. Era o designio de Deus que também nisso Jesus se consti­ tuísse um exemplo de obediência. Uma vez os filhos d’Israel vi­ veram longo tempo no Egypto. Havendo os egypcios se tornado cruéis para com elles, ao ponto de reduzil-os á condição de escravos, Deus despertou a Moysés para libertal-os. 0 rei do Egypto, porém, recusou-se a deixar partir Israel, pelo que enviou Deus sobre os egypcios grandes e terríveis pragas. A ultima dessas pragas consistiu na morte de todos os primogênitos, desde o do rei do Egypto até o do mais humilde de seus habitantes. Fallou então o Senhor a Moysés ordenando que cada familia degollasse um cordeiro, pondo parte de seu sangue sobre ambas as umbreiras e a lumieira de suas portas. Esta precaução devia ser tomada para que o anjo extermi- o Gen. 17:12. 30 A apresentação de Jesus no templo 31 32 A apresentação dejesus no templo nador passasse por alto as suas habitações, ferindo sómente os orgulhosos egypcios. O sangue desse cordeiro, que era também denominado paschoa,” symbolisava o sangue de Christo que, a seu tempo, Deus havia de en­ viar ao mundo para ser morto Pondo o sangue nas umbreiras. A Paschoa. A morte dos primogênitos. do mesmo modo, para que todo aquelle que nElle cresse, fosse salvo da morte eterna. Christo é chamado a nossa paschoa. Elle foi offerecido por nós “desde a fundação do mundo.” E pelo seu sangue temos a redempção. Em memória do grande livramento operado por Deus A apresentação de Jesus no templo 33 no Epypto, e também para ter presente o grande livramento que havia de ser realizado por Christo, cada primogênito varão devia ser apresentado ao Senhor no templo. Pelo que, tendo Jesus a edade de seis semanas, José e Maria o levaram ao sacerdote, offerecendo os sacrifícios prescritos na lei. O sacerdote que se achava então de serviço no templo, não notou em José e Maria particularidade alguma. Para elle eram simples gente operaria da Galiléa. No menino mesmo reconheceu apenas um frágil infante. Longe estava de adivinhar nelle o Salvador do mundo, o Sacerdote do santuario celestial, o que no entanto podia ter sabido: se tivesse estado em boas relações com Deus, Elle lh’o teria revelado. Achavam-se no templo nessa mesma occasião dois fieis ministros de Deus. Servos encanecidos no serviço do Senhor, gozavam dé sua particular estima, sendo-lhes mos­ trado coisas que aos sacerdotes orgulhosos não era dado saber. Simão fora agraciado com a promessa de que não morrería sem que tivesse visto o Messias. E apenas O avistou no templo, reconheceu n’Elle o Ungido do Senhor. Tomando-0 em seus braços, louvou a Deus dizendo: “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra. Pois já os meus olhos viram a tua salvação. A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para alumiar as nações e para gloria do teu povo dTsrael.” 1)- Anna, a profetiza, era uma mulher de edade avançada. “E era viuva, de quasi oitenta e quatro annos, e não se q Luc 2 : 29-32. 34 A apresentação de Jesus no templo affastava do templo, servindo a Deus em orações e jejuns, de noite e de dia. “Esta, sobrevindo na mesma hora, dava graças a Deus, e fallava delle a todos os que esperavam a redempção em Jerusalem.” A) E’ assim que Deus escolhe os humildes para Lhe serem testemunhas. Taes que o mundo considera grandes, raras vezes são chamados a levar a luz da verdade aos que erram na vereda do peccado. Maria, mãe de Jesus, difficilmente acreditava que po- desse merecer ao Senhor tão grande honra e, possuída de grande alegria, exclamou: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espirito se alegra em Deus, meu Salvador, porque me fez grandes coisas o Poderoso; e santo é o seu nome.” “Depõe dos thronos os poderosos, e eleva os humildes. Enche de bens os famintos, e despede vasios os ricos.” 2) D Luc. 2 :37. 38. 2) Luc. 1 :46. 49. 52. 53. A visita dos magos ão era a vontade de Deus que seu povo estivesse em ignorância pelo que respeitava á missão do seu Filho. Os proprios sacerdo­ tes, aos quaes competia serem fieis doutrinadores do povo, laboravam em erro. Não seriam capazes de reconhecer o Messias; pelo que Deus enviou seus anjos a annun- ciar a uns pastores o seu nasci­ mento e indicar-lhes o sitio onde podiam encontral-O. Similhantemente Deus havia prevenido suas testemunhas, quan­ do Christo foi apresentado no templo. Preservára a vida áquelles servos até que lhes fosse dado testificar que o menino Jesus era Christo, o Ungido de Deus. Era o designio de Deus que não só os judeus, mas também outros tivessem conhecimento do facto de que o Salvador tinha vindo para iniciar sua missão terrestre. No longinquo Oriente existiam uns sábios que, lendo as pro­ fecias concernentes a Christo, acreditavam na imminencia do seu advento. Esses magos eram considerados pelos judeus como philosophos pagãos. Elles, porém, não eram idolatras. 35 A nova estrella A visita dos magos 37 Eram homens sinceros que aspiravam conhecer a verdade e a vontade de Deus. Deus olha o coração. Sabia que eram entes dignos de sua confiança e que estavam em melhores condições de receber a luz da verdade, que os vangloriosos phariseus, os quaes, dominados de egoismo e vaidade, se mostravam reíractarios á toda disciplina. Estes homens tinham reconhecido a Deus na natureza, convencendo-se por ella do seu infinito amor. Estudavam os astros e conheciam-lhes as órbitas. Observavam em ho­ ras caladas da noite o extenso percurso que descreviam nos espaços. Se vinha a faltar um, logo elles o notavam. Se apparecia outro, desconhecido ainda, saudavam-no com jú­ bilo, reputando isto um grande acontecimento. Estes homens haviam notado no firmamento a es­ tranha luz que procedia do grupo de anjos enviados aos pastores de Belem. Ao esvaecer-se a luz, pareceu-lhes haverem descoberto um novo astro. Porventura appareceria para lhes annunciar o nasci­ mento do Messias? Decidiram acompanhal-o, afim de ver aonde os guiaria, apenas reapparecesse. Conduziu-os á Judéa. Perto de Jerusalem, porém, eclipsou-se de novo de sorte que não era mais possivel seguil-o. Presumindo que os judeus lhes pudessem ensinar o caminho que guiasse ao sitio desejado, entraram em Jeru­ salem e perguntaram: “Onde está o rei dos judeus, que é nascido? porque nós vimos no oriente a sua estrella, e viemos a adoral-o.” “E o rei Herodes, ouvindo isto, se turbou e toda a Je­ rusalem com elle. E convocando todos os príncipes dos 36 38 A visita dos magos sacerdotes, e os escribas do povo, lhes perguntava onde havia de nascer o Christo. E elles lhe disseram: Em Belem de Judah: porque assim está escrito pelo proféta.” Esta nova inquietou a Herodes. Não era lisongeira a noticia de um rei dos judeus que, provavelmente, lhe vinha disputar o governo e reger a nação. Por isso chamou secretamente aos magos, e inquiriu delles com todo o cui- Seguindo a nova estrella dado, que tempo havia que lhes apparecêra a estrella. “E enviando-os a Belem, disse-lhes: “Ide, e informae-vos bem que menino é esse: e depois que o houverdes achado, vinde m’o dizer, para eu ir tam­ bém adoral-o.” “Elles, tendo ouvido as palavras do rei, partiram: e A visita dos magos 39 logo a estrella, que tinham visto no oriente, lhes appareceu, indo adiante delles, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino.” E quando elles viram a estrella, foi sobremaneira grande o júbilo, que sentiram. E entrando na casa, acha­ ram o menino com Maria sua mãe, e prostrando-se o ado­ raram : e abrindo os seus cofres, lhe fizeram suas offertas de ouro, incenso e myrrha.” 1) Mui promptos estavam esses magos a acceitar Jesus como aquelle por amor do qual haviam feito tão longa jornada. . Acreditaram no signal que lhes tinha sido dado, e, adorando-O, offertaram-Lhe os seus presentes, não conser­ vando a menor duvida quanto a ser Elle realmente o pro- mettido Salvador do mundo. J Math. 2:2-11. Da infancia á virilidade erodes não usou de sinceridade quando manifestou o desejo de ir também adorar a Jesus. O seu receio era que o Salvador pros­ perasse e no fim lhe tomasse o reino. Assim reflectindo, procurou obter informações exactas a seu respeito, para O poder matar. Preparavam-se, pois, os ma­ gos para voltar a Herodes e noti- ficar-lhe o occorrido, quando um anjo do Senhor lhes appareceu em sonhos, ordenando-lhes que voltas­ sem por outro caminho ao seu paiz natal. “Partidos que elles foram, eis que appareceu um anjo do Senhor a José, e lhe disse: Levanta-te, e toma o menino, e sua mãe, e foge para o Egypto, e fica lá até que eu te avise. Porque Herodes ha de buscar o menino para o matar.” *) José não esperou o romper da alva, mas, erguendo-se incontinente, na mesma noite partiu em viagem para o Egypto. Os magos haviam offertado ricos presentes a Je­ sus, providenciando Deus deste modo os meios para fazer l l) Math. 2:13. 40 A fuga para o Egypto (Com venia de C. T. Wiscotta, Breslau, Allemanha.) 41 4 42 Da infancia á virilidade face ás despezas de viagem e de permanência no Egypto até que podessem tornar ao seu paiz. Vendo Herodes que tinha sido illudido, tendo os ma­ gos voltado por outro caminho, irou-se em extremo, e en­ viando os seus rudes soldados, “mandou matar todos os meninos que havia em Belem, e em todo o seu termo, que tivessem dois annos, e d’ahi para baixo, regulando-se nisto pelo tempo que tinha exactamente averiguado dos magos.” E’ coisa bem singular que um homem houvesse de insurgir-se deste modo contra Deus. Quão horroroso não deveria ser aquelle barbaro infanticidio! Herodes havia já antes praticado actos cruéis sem que Deus por isso lhe houvesse infligido o justo castigo, agora, porém, não devia viver mais por muito tempo nem continuar na perpetração de seus crimes; morreu logo depois de uma morte violenta e pavorosa. José e Maria conservaram-se retrahidos no Egypto até a morte de Herodes. Appareceu então o anjo do Senhor a José e disse-lhe: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vae para a terra de Israel; porque são mortos os que buscavam o menino para o matar.” *) Estando já pertos da Judéa, soube José que o filho de Herodes estava reinando em logar de seu pae, pelo que ficou receioso, não podendo decidir-se a seguir. Enviou, pois, Deus um anjo para o instruir. De conformidade com as instrucções recebidas, José e Maria tornaram a Nazareth, onde se detiveram até que Jesus começava a ser de trinta annos; ’ 0 Jesus era-lhes em tudo sujeito. J Math. 2:16, 20. Da infancia á virilidade 43 Na modesta officina de carpinteiro e onde quer que seu oíficio reclamasse a sua presença, o joven Nazareno trabalhava a soldo, afim de contribuir para o sustento da íamilia. Até que afinal chegou o tempo para o inicio de sua sublime missão. Dirigiu-se então primeiramente ao Jordão, onde foi baptizado por João Baptista. João íôra en­ viado a apparelhar o caminho do Se­ nhor. Estando pre­ gando no deserto, o Senhor notificou-lhe que Jesus viria a elle para ser bapti­ zado, promettendo- lhe também um si- gnal pelo qual O podesse reconhecer. Vindo pois Jesus, percebeu-Lhe o Ba­ ptista nos traços physionomicos o re­ flexo de uma vida tão eminentemente pura, que recusou-se ' formalmente a baptizal-O, dizendo : “Eu sou o que devo ser baptizado por ti, e tu vens a mim? E respondendo Jesus, lhe disse: Deixa por ora; porque assim nos convem cumprir toda a justiça. Elle en­ tão o deixou.” x) Na officina de carpinteiro q Math. 3 :14, 15. 44 Da infancia á virilidade Desceu pois com Jesus ao formoso Jordão e ali o baptizou diante de todo o povo. Jesus não recebeu o baptismo em manifestação de arrependimento, pois não havia n’Elle peccado algum. Su­ jeitou-se, porém, ao baptismo por consideração ao nosso genero decahido, para que d’Elle tivesse o exemplo. Ao sahir para fóra- da agua, Jesus pôz-se de joelhos á margem do rio, dirigindo uma fervorosa prece ao Pae, que promptamente foi attendida, porque “se Lhe abriram os céus, e viu o Espirito de Deus, que descia como pomba, e que vinha sobre elle.” E tornou-se o seu rosto luminoso da luz que provinha da gloria de Deus. E eis uma voz dos céus que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual tenho posto toda a minha compla­ cência.”' ^ Este facto, occorrido nas margens do Jordão, foi uma das scenas mais sublimes que o céu e a terra jamais presenciaram. Scena cheia de significação para a huma­ nidade decahida. A gloria que aureolou a Christo nessa occasião constituia uma prenda do amor de Deus aos homens. p Math. 3:17. A tentação epois do baptismo Jesus foi levado pelo Espirito ao deserto, afim de ser tentado pelo diabo. Ao deixar o Jordão, o seu rosto ainda reflectia a gloria que O envolvera ali, mas ao approximar-se do deserto aquella luz do seu rosto se desvaneceu. Os peccádos do mundo O opprimiam, e os seus tra­ ços physionomicos accusavam uma tal angustia como homem algum ja­ mais a experimentou. A queda de nossos primeiros paes fôra motivada pelo appetite. Foi isto que os induziu á desobediencia e que trouxe ao mundo peccado, soffrimento e morte. Christo iniciou sua obra ali onde Adão succum- biu. Soffreu durante quarenta dias as torturas da fome afim de significar ao homem que o appetite pode ser vencido. O lapso de tempo que Jesus passou nesse rigoroso jejum é a prova mais evidente da peccaminosidade do appetite immoderado e do poder que elle exerce sobre o homem. Esta terrivel provação, porém, não se fez mistér por­ que o Filho de Deus necessitasse de correcção. Ella tinha por fim ensinar aos homens que toda a inclinação da carne 45 46 A tentação deve ser vencida do mesmo modo que Christo resistiu ás exigências da fome durante o seu prolongado jejum. “Se tu és filho de Deus, manda que estas pedras se façam pães.” Apenas Christo ini­ ciou o jejum, Satanaz se Lhe apresentou transfor­ mado em anjo de luz, e dizendo ser um mensa­ geiro do céu. Afíirmou a Jesus que não era a vontade de Deus que Elle se sujeitasse a tanto .... soffrimento e renuncia de si proprio. Seu Pae sómente qui- zera conhecer a sua boa vontade em submetter-se. Quando as torturas da fome haviam attingido o máximo de intensidade, Satanaz apresentou-se diante d’Elle e disse: “Se tu és o Filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pães.” Jesus devia porém padecer como todos os homens padecem. Si Elle se houvera prevalecido de sua virtude divina, operando um milagre em seu favor, isto teria sido A tentação 47 contrario á sua missão. Seus prodigios só se destinavam ao beneficio de outros. Por isso respondeu: “Escrito está: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sae da boca de Deus.” Deste modo Jesus mostrou que é coisa mais funesta incorrer no desagrado de Deus do que estar privado do alimento necessário. Malogrado em sua tentativa, Satanaz tomou a Jesus e, levando-0 á cidade santa, collocou-0 sobre o pináculo do templo e disse: reportando-se ás Escrituras: “Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque escrito está: Que mandou aos seus anjos que cuidem de ti, e elles te tomarão nas palmas, para que não succeda tropeçares em pedra com o teu pé.” Aqui Satanaz seguiu o exemplo de Christo citando as Escrituras. Jesus porém sabia que esta promessa não tinha sido feita aos que espontaneamente se expõem ao perigo, por isso respondeu: “Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus.” Da fé perfeita ao peccado da temeridade vae curta distancia. Devemos alimentar uma fé infantil e confiar em nosso Pae celestial, mas não ser temerários, escudando-nos na sua graça. Recusar obedecer ás exigências de Deus, e pretender então que Elle é rico em misericórdia para perdoar, é pre- sumpção. Deus está prompto a perdoar aos que buscam o perdão e a affastar as suas transgressões. Continuar porém na desobediencia e confiar não obstante na sua graça para obter perdão é uma temeridade. Então o diabo levou Jesus a um monte muito alto, 48 A tentação e mostrou-Lhe todos os reinos deste mundo. Os raios do sol poente reflectiam-se nos templos e palacios das cidades, rebrilhando sobre o estendal de ubertosas messes e vinhe­ dos e doirando os cedros do Libano e as ceruleas aguas do mar da Galiléa. Disse-Lhe pois Satanaz: "Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.” Jesus lançou um ligeiro olhar para aquella scena e voltou-Lhe então resolutamente as costas. Não queria re- questar a tentação, nem mesmo com um olhar. Esta tenta­ ção envolvia o amor do mundo, a ambição do poder e o orgulho da vida. Tudo o que é calculado a distrahir o homem da verdadeira adoração de Deus se concentrava nesta ultima tentação do Salvador. Então lhe disse Jesus: Vae-te Satanaz. Porque es­ crito está: Ao Senhor teu Deus adorarás, e a Elle só servirás.” A indignação de Christo foi despertada, e Elle exerceu a sua autoridade divina nestas palavras: “Vae-te Satanaz.” Satanaz não teve poder para resistir a este mando, e foi obrigado a affastar-se. Dominado por uma raiva surda, o chefe rebelde saiu da presença do Salvador do mundo. A lucta estava termi­ nada. A victoria de Christo fôra tão completa quanto a derrota de Adão. x) Math. 4 :3—10. 49 As bodas de Caná Iniciação do ministério encida a tentação no deserto, Je­ sus. volveu ás margens do Jor­ dão, misturando-se ali aos discí­ pulos de João. Nesse tempo alguns enviados da parte dos principaes de Jerusa­ lém, interpellavam a João sobre a autoridade com que elle ensinava e baptisava o povo, perguntando- lhe se porventura era o Messias, ou Elias, ou algum proféta. A todas estas questões João lhes respondeu negativamente. Perguntaram elles então: “Quem és tu logo? para que possamos dar resposta aos que nos en­ viaram.” *) “Disse-lhes elle: Eu sou a voz do que clama no de­ serto : endireitae o caminho do Senhor, como o disse o proféta Isaiâs.” 2) Então João viu a Jesus em pé á margem do Jordão e o seu rosto illuminou-se quando, apontando para Elle, disse: “No meio de vós está um a quem vós não conheceis. Este é Aquelle que vem após mim, que já foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.” 3) “No dia seguinte viu joão a Jesus, que vinha para b João 1 :22, 23. *) Isa. 40:3. *) João 1:26, 27. 50 Iniciação do ministério 51 elle, e disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus, eis aqui o que tira o peccado do mundo.” Dois dos discípulos de João, ouvindo este testemunho, immediatamente seguiram a Jesus. Outros discipulos se lhes reuniram mais tarde no caminho de Galiléa. Nas bodas de Caná Jesus operou o primeiro e estu­ pendo milagre da transformação de agua em vinho. Estes elementos representam os meios Depois destas coisas tornou Jesus a Nazareth, sua patria, e, entrando na escola em dia de sabbado, proclamou ahi a sua missão ao mundo. Os seus ouvintes, porém, re­ cordando o seu modesto nascimento e que era apenas um simples carpinteiro, foram induzidos a rejeitar o Salva­ dor; privando-se assim das bênçãos que lhes estavam destinados. de salvação, symbolizando a agua o baptismo e o vinho o sangue de Christo. Na synagoga de Nazareth Os ensinos de Jesus religião dos judeus consistia ape­ nas ainda numa serie de ritos e ceremonias. A’ medida que se affastavam do verdadeiro culto de Deus, perdendo de vista a virtude espiritual de sua Palavra, elles cingiam-se mais e mais ás suas ceremonias e ás próprias tradições. Em vez de reconhecerem que só o sangue do Salvador vindouro os podia purificar do seu peccado, e que só a virtude de Deus os do mesmo, elles confiavam, para conseguir a salvação, nos merecimentos de suas próprias obras e na pratica das ceremonias de sua religião. Os escribas, phariseus e príncipes do povo haviam se tornado uma classe de gente justa aos seus proprios olhos. Jesus, conhecendo a condição de seus corações, censurava- os frequentemente. Uma vez Elle exprobrou-lhes a sua cor­ rupção nestas palavras: “Ai de vós, escribas e phariseus hypocritas: porque sois similhantes aos sepulcros branqueados, que parecem por fóra formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda asquerosidade.” *) podia libertar do poder l) Math. 23 :27, 28. 52 53 Colhendo espigas em um sabbado 54 Os ensinos de Jesus O Salvador tinha vindo para restaurar o verdadeiro culto de Deus, e para desembaraçal-o das molestas tradi­ ções com que o haviam cercado. Elle tinha vindo para estabelecer o verdadeiro culto da alma, que se maniíesta numa vida pura e num carácter santo. No glorioso sermão da montanha Jesus pronunciou uma benção especial sobre aquelles “que choram,” sobre os “que têm sede e fome de justiça,” sobre os “compassi­ vos,” sobre os “puros de coração,” sobre os “pacíficos,” e sobre os “que são perseguidos por amor da justiça.” *) Uma tal religião, porém, não foi acolhida com benevo­ lência por parte dos vangloriosos príncipes de Israel. No­ tando como os ensinos de Christo ganhavam de interesse para com o povo, ficaram alarmados. As suas falsas theo- rias e suas obras futeis eram assim postas em evidencia, destruindo-lhes o prestigio. Isto determinou-os a empregar todos os meios possíveis para impedir a obra de Christo. Passando Jesus num dia de sabbado pelas searas, seus discípulos, que tinham fome, começaram a colher es­ pigas e a comer dellas. No seu encalço iam constantemente espias, que espreitavam uma occasião de denunciar e con- demnar a Jesus. Vendo pois estes o que faziam os discí­ pulos, adiantaram-se e fallaram a Jesus: “Eis ahi estão fazendo os teus discípulos o que não é permittido fazer nos sabbados.” 2) Jesus porém, tomando a defeza de seus discípulos, cita-lhes o exemplo de David, que, tendo fome, entrou no templo, elle mais os seus companheiros, e comeram os pães da proposição que lhes não era licito comer. Se pois simi- lhante acto podia ser justificado só pelo facto de estarem q Math. 5:1-12. q Math. 12:2. Os ensinos de Jesus 55 elles famintos, porque não devia ser licito aos discípulos colherem espigas em dia de sabbado afim de satisfazer ás exigências do estomago? O sabbado não foi feito para servir de jugo ao homem, mas sim para proporcionar-lhe paz e descanço, e recordar- lhe as obras do seu Creador. Elle devia constituir um de­ leite, pelo que o Senhor disse: “O sabbado foi feito em contemplação do homem, e não o homem em contemplação do sabbado.” “E aconteceu que também outro sabbado entrou Jesus na synagoga e ensinava. E achava-se ali um homem que tinha resicada a mão direita. “E os escribas, e os phariseus o estavam observando, para vêr se curava em sabbado: afim de terem de que o accusar. “Mas Jesus sabia os pensamentos delles: e disse para o homem que tinha a mão resicada: Levanta-te e põe-te em pé no meio. E levantando-se, ficou em pé. “E Jesus lhes disse: Pergunto-vos, se é licito nos sab­ bados fazer bem, ou mal: salvar a vida, ou tiral-a? “Depois, correndo a todos com os olhos, disse para o- homem: Estende a tua mão. E estendeu-a elle: e foi-lhe restituida a mão. “E elles se encheram de furor, e fallavam uns com os outros, para vêr o que fariam de Jesus.” 2) Jesus porém, querendo fazer-lhes notar o quanto eram incoherentes, propoz-lhes a seguinte questão: “Que homem haverá por acaso entre vós, que tenha uma ovelha, e que se esta lhe caia no sabbado em uma cova, não lhe lança a. mão para d’ali a tirar ?” q Marc. 2:27. 2) Luc. 6:6—11. 56 Os ensinos de Jesus E como Lhe não podessem responder a isso, disse- lhes: “Ora quanto mais excellente é um homem do que uma ovelha? Logo é licito fazer bem nos dias de sabbado.” J) “E’ licito,” quer dizer, é conforme á lei. Jesus nunca censurou os judeus por causa de sua reverencia á lei ou por causa de guardarem o sabbado. Ao contrario, Elle sempre exaltou a lei em todos os seus pormenores. Acerca d’Elle Isaias profetizou, dizendo: “E o Senhor lhe mostrou boa vontade para o santificar, e engrandecer e exaltar a sua lei.” 2) Engrandecer e exaltar, quer dizer tornar mais amplo e collocar numa posição mais elevada. A’quelles que pretendiam que Jesus veiu para abolir a lei, Elle dizia: “Não julgueis que vim destruir a lei, ou os profetas: Não vim a destruil-os, mas sim a dar-lhes cum­ primento.” Cumprir significa guardar. Vide Thia. 2:8. A lei de Deus jamais pode ser mudada, porque Christo mesmo disse: “Em verdade vos affirmo, que emquanto não passar o céu e a terra, não passará da lei um só i, ou um til, até que tudo seja cumprido. 3) Nos exemplos dados por Jesus, Elle procurou destruir as suas falsas idéas, tornando o sabbado mais venerável do que antes. Com esta lição Jesus deu a comprehender que a pratica de misericórdia neste dia com aquelles que soffrem é o que mais perfeitamente exprime a idéa da san­ tificação do sabbado. Propondo-lhes a questão, se é licito nos sabbados fazer bem ou mal: salvar a vida ou tiral-a, Jesus manifestou que lia nos corações dos phariseus que O accusavam. Sabia que, emquanto Elle se empenhava em salvar outros, estes homens armavam á sua própria vida com odio implacável. l) Math. 12:11, 12. 2) Isa. 42:21. 3) Math. 5:17, 18. Os ensinos de Jesus 57 O que seria pois mais licito: matar em dia de sabbado, como elles o projectavam, ou curar os enfermos como Elle ifazia ? Nutrir sentimentos hostis para com os seus simi- Ihantes no dia santificado de Deus ou votar-lhes desinteres­ sado affecto, que se traduz por actos de caridade e expres­ sões de sympathia? Em Jerusalem, proximo á porta das ovelhas, havia um tanque denominado Bethesda. De longe em longe as aguas ) Math. 27 :19. 2) Math. 27 :17. 3) Luc. 23 :18. 4) Math. 27 :23. Entregue por Pilatos 119 crucificado.” Não imaginára que a coisa poderia chegar a tal ponto. Repetidas vezes havia declarado Jesus innocente, com- tudo o povo insistia que devia morrer de uma morte horrivel. Outra vez perguntou Pilatos : “Pois que mal tem feito ?” E novamente repercutiu nos ares o grito atroador: “Cruci­ fica-o 1” Pilatos fez um ultimo esforço para despertar a sua sympathia. Mandou “Eu sou innocente do sangue d’este justo.” tomar a Jesus, que já estava fraco e coberto de feridas, e açoital-0 em presença de seus accusadores. Desnudado até os quadris, as suas costas exhibiam os extensos e cruéis vergões que ainda vertiam sangue. O seu rosto terno apresentava os signaes do horrivel trato que Lhe era infligido. Ordenou então Pilatos que se trouxesse a Barrabás com a sua catadura de assassino e pol-o ao par de Jesus, de modo que todos podessem observar o contraste entre um e outro; e, apontando para Jesus, disse num tom de so- lemne supplica: “Vêde que homem!” 120 Entregue por Pilatos Havia no meio daquella turba, homens de intelligencia. Como Pilatos, também elles sabiam discernir a nobreza e pureza que se esboçavam no rosto pallido do Salvador. Tinham porém perdido toda a razão e todo o sentimento de justiça e piedade, pelo que clamavam juntamente com os outros: “Crucifica-o, crucifica-o !” Afinal Pilatos, exgottada a paciência ante uma cruel­ dade tão vingativa quanto irracional, disse ao povo: “Tomae-o vós outros, e crucificae-o: porque eu não acho nElle crime algum,” x) Pilatos fazia grandes esforços para libertar a Jesus, o povo porém gritava, dizendo : “Tu se livras a este não és amigo do Cesar: porque todo o que se faz rei, contradiz ao Cesar.” 2) - Estas palavras feriram o lado fraco de Pilatos, que já estava sendo suspeito por parte do governo romano. Uma tal noticia a seu respeito havia de causar sem duvida a sua ruina. “Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, mas que cada vez era maior o tumulto, mandando vir agua, lavou as mãos á vista do povo, dizendo: “Eu sou innocente do sangue deste justo: vós lá vos avinde.” Respondeu Caiphás com arrogancia: “0 seu sangue cáia sobre nós e sobre nossos filhos.” 3) Estas palavras tiveram dos lábios dos sacerdotes e do povo o correspondente echo. Era uma sentença tremenda que elles pronunciavam contra si mesmos. Legado horrendo que elles transmittiam á sua posteridade. *) João 19:6. 2) João 19:12. 3) Math. 27:24, 25. Entregue por Pilatos 121 Literalmente isto veiu a ser cumprido quarenta annos depois deste acontecimento nas pavorosas scenas da des­ truição de Jerusalem. Literalmente isto cumpriu-se na condição dispersa, desdenhada e opprimida dos seus descendentes até o dia de hoje. iMais do que literalmen­ te isto ha de cumprir-se na consummação do mundo. As •situações esta­ rão então mu­ dadas. Esseje- :sus ha de ma­ nifestar-se en­ tão “em cham- ma de fogo pa- ara tomar vin­ gança daquelles que não conheceram a Deus.” Então dirão •aos montes e aos rochedos: “Caí sobre nós e escondei-nos de diante da face do •que está sentado no throno, e da ira do Cordeiro.” *) Então os soldados do governador, tomando a Jesus para O levarem ao pretorio, fizeram formar á roda d’Elle toda -a cohorte; e despindo-O, Lhe vestiram um manto carmezim. E tecendo uma coroa de espinhos, lh’a puzeram sobre -a cabeça, e na sua mão direita uma canna. E ajoelhando •diante delle, o escarneciam, dizendo: Deus te salve, rei •dos judeus.” q Apoc. 6:16. 9 122 Entregue por Pilatos “E cuspindo n’Elle, tomaram a canna, e lhe davam com ella na cabeça. “E depois que O escarneceram, despiram-Lhe o manto e vestiram-Lhe os seus hábitos. ’ *) Era Satanaz quem instigava os soldados cruéis a abu­ sarem do Salvador. A. sua intenção era, se fosse possivel, provocal-0 deste modo a reagir ou leval-0 a operar um mi­ lagre para se desembaraçar de seus inimigos e frustrar assim o plano da salvação. Uma unica mancha em Sua vida, um unico insuccesso da parte de Sua humanidade em supportar a prova, teria sido sufficiente para tornal-0 um sacrifício imperfeito, e o plano da salvação teria abortado. Aquelle porém em cujo poder estava chamar em seu auxilio todo o exercito de anjos celestiaes, um só dos quaes teria bastado para dominar aquella plebe amotinada: Aquelle que com um unico raio de sua divina gloria teria podido lançar por terra aos seus atormentadores, soffreu todos os ultrajes e affrontas com uma compostura digna. Do mesmo modo que o procedimento de seus verdugos os rebaixava ao ponto de tornal-os similhantes a Satanaz, a humildade e paciência de Jesus O elevavam muito acima da humanidade. Christo, o Filho amado de Deus, devia pois ser cru­ cificado. Se Pilatos houvera desde o principio agido com ener­ gia e firmeza, fiel á sua própria e justa convicção, o povo teria sido obrigado a conformar-se com a sua vontade. A turba jamais se teria arrogado o direito de dictar-lhe a nor­ q Math. 27 : 27—31. ma de conducta. Sua procrastinação e perplexidade acarre­ taram-lhe a ruina. Quantos ha que, a exemplo de Pilatos, sacrificam prin­ cípios e integridade afim de evitar consequências desagra­ dáveis. A consciência e o dever nos apontam um caminho • o interesse proprio nos aponta outro. Se a corrente tomar uma direcção errada, arrastará comsigo para as trevas do crime e da culpa ao que transigir com o mal. Entregue por Pilatos 123 9* Golgotha pk or entre os apupos e cruel zomba- vT ria do populacho, Jesus foi condu- §5^ zido ao Golgotha. Ao transpor o limiar do pretorio de Pilatos, im- puzeram-Lhe sobre os magoados I hombros a cruz destinada a Bar- rabás. O peso do madeiro excedia as forças de Jesus, que estava fati­ gado e abatido. Havendo dado alguns passos, caiu desmaiado sob o peso da cruz. 9 Apenas recobrou os sentidos, a cruz foi outra vez posta sobre os seus hombros. Titu- beante Elle adiantou-se alguns passos e novamente sosso- braram as suas forças fazendo-0 desmaiar. Vendo pois os seus verdugos que Lhe era impossível caminhar adiante com a cruz, ficaram perplexos por não saber sobre quem impôr o humilhante fardo. Eis se não quando vem-lhes ao encontro Simão de Cyrene. A este obrigaram pois a levar a cruz até o Calvario. Os filhos de Simão eram discípulos de Jesus, mas elle mesmo nunca O havia confessado abertamente. Mais tarde Simão sentiu-se grato pelo privilegio que lhe coubera de 125 . 124 A crucificação. 126 G o 1 g o th a levar a cruz do Salvador, a qual se havia tornado o meio de sua conversão. Os acontecimentos no Calvario e as pa­ lavras ali proferidas por Jesus induziram Simão a reconhe- cel-0 como Filho de Deus. Chegados que foram ao logar do supplicio, os condem- nados foram desde logo amarrados sobre os respectivos madeiros. Os dois criminosos revolveram-se sob as mãos daquelles que os prendiam á cruz, o Salvador porém não lhes oppôz nenhuma resistência. A mãe de Jesus O havia acompanhado naquelle pavo­ roso transito ao Calvario. Ao vel-0 desmaiar sob o peso da cruz, seu coração estava ancioso por accudir-Lhe, mas este privilegio foi-lhe denegado. A cada passo durante aquelle trajecto ella havia espe­ rado que Elle se prevalecesse de sua virtude divina para desembaraçar-se do poder da turba homicida. E agora que se desenrolava diante delia a scena final, sendo os condem- nados fixados sobre a cruz, que angustia se apoderou de sua pobre alma! Porventura Aquelle que dera a vida aos mortos con­ sentida em ser Elle proprio crucificado? Porventura o filho de Deus permittiria que Lhe dessem tão feia morte ? Devia ella renunciar á sua fé em que Elle era de facto o Messias? Agora ella tem de vêr como também ao Mestre se dis­ põem as mãos sobre o madeiro, aquellas mesmas mãos que sempre haviam estado occupadas em fazer bem e que tan­ tas vezes se estenderam para dar saude aos doentes. Para logo foram trazidos cravos e martello, e quando aquelles começaram a penetrar nas suas delicadas carnes, os discipulos, compungidos, tiveram de conduzir para longe da cruenta scena o vulto desmaiado da mãe de Jesus. Golgotha 127 O Salvador não soltou nem siquer um gemido. Do rosto pallido e sereno transudavam apenas grossas bagas de suor. Seus discipulos tinham fugido á vista de tão cruel espectáculo. Elle pisou o lagar sósinho; e dos povos não houve ninguém com elle. *) Emquanto que os soldados consummavam a cruenta obra, os pensamentos de Je­ sus, desprezando os proprios soffrimentos, se demoravam na terrivel recompensa que aguardava os seus perseguidores. A sua dôr e angustia representavam vivamente á sua alma o tormento que elles haviam de soffrer naquelle dia. Deplorando-os na sua igno­ rância, Elle orou: “Pae, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” 2) Deste modo Jesus adquiriu o direito de se fazer o in- p Isa. 63 :3. 2) Luc. 23 :34. 128 G o 1 g o th a tercessor dos homens perante o Pae. Esta oração de Jesus pelos seus inimigos comprehendia o mundo inteiro. Ella envolvia cada peccador que existiu ou que havia de existir, desde o principio do mundo até a consummação dos séculos. Estando Jesus pregado sobre a cruz, esta foi levantada por homens robustos, e violentamente affincada no chão. Isto causou ao Filho de Deus soffrimentos indiziveis. Pilatos escreveu então um letreiro em latim, grego e hebraico, o qual affixou na cruz por cima da cabeça de Jesus, de modo que todos o podessem lêr: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.” *) Os judeus porém requereram a Pilatos a modificação do letreiro, dizendo: “Não escrevas, Rei dos judeus; mas que elle disse: Sou Rei dos judeus.” 2) Mas Pilatos, descontente comsigo mesmo por causa de sua anterior fraqueza e já enojado da importunação dos Ím­ pios principaes, respondeu: “O que escrevi, escrevi.” 3) Medonho espectáculo se desdobrou então. Os escribas e príncipes do povo,, alliando as suas vozes com as da plebe, proromperam em invectivas e sarcasmos contra o Filho de Deus, dizendo: “Se tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.” 4) “Elle salvou a outros, a si mesmo não se pode salvar; se é Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nelle. Confiou em Deus: livre-o lá agora, se é seu amigo: porque elle disse: Eu pois sou o Filho de Deus.” 5) “E os que iam passando blasphemavam delle, movendo as suas cabeças, e dizendo: O’ lá, tu que destróes o templo 1-3) João 19 :19, 21, 22. 4) Luc. 23 : 37. ») Math. 27 : 42, 43. G o 1 g o t h a 129 de Deus, e que o edificas em tres dias: livra-te a ti mesmo, descendo da cruz.” \) Os soldados insensíveis dividiram então entre si as suas vestes. A proposito da túnica, porém, que era sem sotura, originou-se uma contenda, que foi resolvida, accor- dando os soldados em lançar sortes sobre a mesma. Este incidente tinha sido predito pelo Espirito de Deus: “Pois me rodearam cães: o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés. Podería contar todos os meus ossos; elles o veem e me contemplam. Repartem entre si os meus vestidos, e lançam sortes solne a minha túnica.” 2) i) Marc. 15 :29, 30. -) Psa. 22: 16-18. A morte de Christo ão foi o temor da morte nem as dôres da cruz que tornaram tão terríveis os soffrimentos de Chris­ to. Foi o peso esmagador dos peccados do mundo e o sentimento da separação de seu Pae celestial, que quebrantaram o coração e de­ terminaram a morte do Filho de Deus. Christo experimentou aquella angustia que hão de experimentar os peccadores, quando elles, accor- dando, tiverem toda consciência da sua culpabilidade, e reconhecerem estar para sempre priva­ dos do gozo e da paz dos céus. Os anjos contemplavam com espanto a agonia de des­ espero soffrida pelo Salvador. Os seus soffrimentos moraes eram tão intensos que faziam-n’0 desprezar os soffrimentos da cruz. A própria natureza sympathisou com aquella scena. O sol que até ali havia brilhado no firmamento, eclipsou-se de repente; ao redor da cruz tudo ficou mergulhado em pro­ fundas trevas. Esta escuridão sobrenatural durou tres horas consecutivas. Nenhum olho mortal podia penetrar a escuridade que se havia feito ao redor da cruz. Um terror indizivel apode- 130 A morte de Christo 131 rou-se de todas as pessoas presentes. As imprecações e as zombarias cessaram subitamente. Homens, mulheres e creanças cairam assustados por terra. De quando em quando fulvos raios rasgavam as nuvens, illuminando a cruz e o Salvador crucificado. 1 odos acredi­ tavam chegada a hora da retribuição. A’ hora nona o negrume dissipou-se de sobre o povo, continuando porém a envolver a cruz como uma mortalha. Dardejantes raios pareciam ser despedidos contra ella. Exhalou-se então do peito de Jesus o afílictivo grito: ;‘Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? r) Entrementes as trevas haviam baixado sobre Jerusalem e sobre as planícies da Judéa. Os olhos de todos, estando voltados para a cidade, podiam vêr agora que os raios da ira de Deus eram despedidos contra ella. De repente se dissipou a treva ao redor da cruz e com voz clara e estii- dente, que repercutiu em toda a natureza, Jesus bradou: “Está cumprido.” ’2) “Pae, nas tuas mãos entrego o meu espirito." Uma luz inundou a cruz, e o rosto do Salvadoi tor­ nou-se resplandecente como o sol. Depois, inclinando a cabeça, expirou. A multidão ao redor da cruz ficou immovel, olhando boquiaberta e sem respiro para a cruz. Outra vez as ties baixaram sobre a terra e um surdo estampido similhante ao de um forte trovão echoou no espaço, sendo acompanhado de um violento terremoto. Em consequência do tremor produzido os homens cairam embaralhados por terra. Seguiu-se a mais horrenda confusão. Nas montanhas adjacentes fenderam-se as rochas, sendo ) Matli. 27:46. -) João 19:30. muitas dellas precipitadas com estrondo no abysmo. Ao mesmo tempo foram abertas muitas sepulturas sendo lança­ dos fóra os seus mortos. Parecia que a creação estava a ponto de fazer-se pedaços. Sacerdotes, principaes e soldados estavam mudos de terror, jazendo muitos delles prostrados 132 A morte de Christo “O véu do templo se rasgou do alto a baixo.” por terra. A’ hora em que Jesus- expirou, alguns sacerdotes estavam cumprindo os ser­ viços divinos no templo. Elles haviam sentido o ter­ remoto, e no mesmo instante o véu, que dividia o santo do santíssimo, era rasgado do alto a baixo por aquella mesma mão mysteriosa que no palacio de Belshazzar escrevera as palavras que dictaram a sorte de Babylonia. O logar santíssimo no santuario terrestre não seria por mais tempo um logar sagrado. Nunca mais a presença de Deus havia de ensombrar o seu propiciatorio. Nunca mais A morte de Christo 133 o íavor ou desfavor de Deus havia de tornar a ser manifes­ tado pela luz ou pela sombra nas pedras preciosas do peito- ral do summo sacerdote. Dahi por diante o sangue do sacrifício offerecido no templo não seria mais de nenhum valor. O Cordeiro de Deus, morrendo sobre o Calvario, havia-se tornado o legi­ timo sacrifício pelos peccados do mundo. Quando Christo morreu sobre o Golgotha, foi aberto o novo e vivo caminho, destinado tanto aos judeus como aos gentios. Os anjos rejubilaram quando o Salvador exclamou o alto da cruz: “Estácumprido!” O grande plano daredempçao havia de ser levado a effeito. Os filhos de Adão, por uma vida de obediência, haviam de ser íinalmente exaltados até a presença de Deus. Satanaz estava derrotado e o seu reino ameaçado de próxima dissolução. No sepulcro de José onspiração contra o governo ro­ mano constituia o crime pelo qual o Salvador fôra condem- nado. Os que eram executados por similhante delicto deviam ser sepultados num logar especialmente destinado a taes criminosos. João, o discípulo amado, extre- meceu ante a idea de que o corpo do querido Mestre havia de ser le­ vado pelas mãos de rudes e insen­ síveis soldados para ser sepultado em um logar de deshonra. Não via porém nenhum meio de evital-o, visto que não tinha nenhuma influencia sobre Pilatos. Nesta conjunctura angustiosa, os discipulos foram gen­ tilmente auxiliados por José e Nicodemos. Estes homens eram membros do Synhedrio, e conheci­ dos [de Pilatos. Ambos eram homens abastados e de in­ fluencia. Estes resolveram que o Salvador devia ser sepul­ tado com todas as honras devidas. 0 primeiro se dirigiu afoitamente á casa de Pilatos, e sollicitou-lhe o corpo de Jesus. Pilatos, depois de se haver informado de que Jesus estava realmente morto, annuiu ao seu pedido. Emquanto José corria á casa de Pilatos, appareceu 134 No sepulcro de José 135 Nicodemos, trazendo cerca de cem libras de precioso un- guento, um preparado de myrrha e áloes, para o embalsa- mento do corpo do Mestre. Ao mais alto personagem de Jerusalem não se podiam ter feito maiores honras que as que o Salvador acabava de receber. Os humildes seguidores de Christo estavam pasmos de vêr o interesse manifestado por esses ricos principaes no sepultamento de Jesus. O sepultamento de Jesus. Dominados de tristeza pelos factos occorridos, elles haviam esquecido que o Salvador lhes tinha dito que estas coisas deviafn acontecer, e estavam por isso sem esperança. Nem José, nem Nicodemos tinham confessado aberta­ mente o Salvador durante a sua vida. Haviam porém escu­ tado as suas doutrinas e observado de perto todos os seus movimentos durante o seu ministério. Embora os discipulos houvessem esquecido as palavras com que o Mestre lhes. predissera sua morte, José e Nicodemos ainda as retinham, 136 No sepulcro de José na sua mente, e os factos que lançaram os discipulos em desespero, abalando a sua fé, veiu a ser para elles a prova evidente de que Jesus era o Messias, decidindo-os a tomar uma posição firme a favor do Mestre. 0 auxilio destes homens respeitados e ricos veiu muito a proposito nessa occasião. Estavam mesmo no caso de fazer pelo Mestre o que aos discipulos não teria sido pos­ sível então. Com sollicitude e reverencia elles tiraram por suas próprias mãos o corpo inanime da cruz, derramando copio- sas lagrimas ao contemplar as suas formas sangrentas e dilaceradas. Era José possuidor de um sepulcro, recentemente aberto numa rocha para o seu proprio uso; essa sepultura foi pois preparada para Jesus. Embalsamado o seu corpo com o unguento, O envolveram numa mortalha, deitando-O na sepultura. Comquanto os príncipes do povo tivessem conseguido a morte do Filho de Deus, não se deram todavia por satis­ feitos. Conheciam perfeitamente o grande poder de Christo. Tinham estado junto á sepultura de Lazaro, quando este fôra chamado da morte para a vida, e tremiam de medo que Jesus podesse resuscitar dos mortos e tornar a apparecer-lhes. Tinham ouvido a Jesus dizer, que estava em seu poder pôr a sua vida e tornar a tomal-a, e lembraram-se de suas palavras: Desfazei este templo e eu o levantarei em tres dias.” J) Judas lhes havia referido essas palavras ditas por Je­ sus quando subiram a ultima vez a Jerusalem: Eis aqui vamos para Jerusalem, e o Tilho do homem p João 2:19. será entregue aos príncipes e sacerdotes, e aos escribas, que o condemnarão á morte. E entregai-o-ão aos gentios para ser escarnecido, e açoutado, e crucificado, mas ao ter­ ceiro dia resurgirá.” *) Recordavam-se agora de muitas coisas que Jesus havia dito, predizen­ do a sua re- surreição. Por mais que o de­ sejassem não conseguiam desfazer-se das suas ap- prehensões. A' imitação de Satanaz, seu pae, criam e tremiam. Todas as coisas pare - ciam procla­ mar que Je­ sus era o Fi­ lho de Deus. Jesus estava estivera vivo. No desejo de estabelecer a maior segurança possível, supplicaram a Pilatos que mandasse guardar o sepulcro até ao terceiro dia. Pilatos poz então uma guarda á dispo­ sição dos sacerdotes e disse: O sellamento da sepultura Fugia-lhes o somno, e viviam, agora que morto, mais apprehensivos do que quando p Math. 20:18, 19. 10 No sepulcro de José 137 138 No sepulcro de José “Tendes a guarda; ide, guardae-o como entenderdes. E, indo, elles, seguraram o sepulcro com a guarda, sellando a pedra.” a) *) Math. 27 : 65, 66. 139 O mensageiro celeste 10* Resuscitou avia-se empregado o máximo cui­ dado na segurança do sepulcro pondo-se-lhe diante uma grande pedra. Esta pedra foi sellada com o sello romano, de modo que não podia ser removida sem quebrar-se o sello. Uma guarda, formada por sol­ dados romanos bem armados, esta­ cionava junto ao sepulcro. Incum­ bia a esta vigiar sollicitamente a sepultura e ter o cuidado de não deixar que alguém viesse molestar o morto. As sentinellas revezavam-se constantemente, rondando umas emquanto outras ficavam em repouso. Junto ao sepulcro havia porém ainda uma outra guarda, constituída de anjos poderosos tirados dos exercitos celestiaes. Qualquer destes anjos era dotado de força sufficiente para destruir todo o exercito romano. A noite do primeiro dia da semana descaia lentamente e approximava-se a hora brumosa que precede a alva. Do throno de Deus parte em commissão magestoso anjo, o rosto reluzente como o relampago e as vestes bran­ cas como a neve. Diante delle se dissipam as trevas e todo o céu é illuminado do resplandor de sua gloria. 140 Resuscitou 141 Os quadrilheiros adormecidos erguem-se precipitados como um só homem, mirando pasmos o céu aberto e a fi­ gura luminosa que delles se approxima. O céu e a terra tremem á approximação desse ente assombroso do mundo in­ visível. O an­ jo vem em cumprimento dum mandado glorioso; e pe­ la velocidade e força de seu vôo faz estre­ mecer a terra como sob a acção de um terremoto. Os soldados e centuriões caem hirtos por terra. Uma ou­ tra phalange formava tam­ bém guarda á entrada do sepulcro. Esta era constituída de espíritos maus. Christo estava morto e Satanaz, que pre­ sume ter ainda o império da morte, reclama-.O como seu justo despojo. Os anjos de Satanaz ahi estão para impedir que poder algum lhes arrebate a Jesus. A’ approximação do ente ma- 142 Resuscitou gestoso enviado do throno de Deus, porém, fogem todos precipitados abandonando o sepulcro. Um dos anjos dirigentes que juntamente com outros da mesma phalange celestial havia formado guarda junto ao sepulcro do Mestre, reuniu-se a elle e juntos se abeiram da sepultura. 0 chefe da legião celeste deita mão á pedra, affasta-a do sepulcro e assenta-se sobre ella. Seu companheiro pe­ netra no sepulcro, desata o sudario da cabeça de Jesus e com uma voz que faz estremecer o ambiente, exclama: “Jesus, Filho de Deus, teu Pae te chama!” Então Aquelle que havia conquistado o poder sobre a morte sai do sepulcro com passo triumphante de vencedor. Ao resurgir a terra estremece, faiscam raios e os trovões ribombam. Um terremoto havia assignalado o momento em que Jesus depôz a sua vida, outro assignalava a hora em que tornava a tomal-a. Satanaz se tornára furioso ao vêr os seus anjos se pôrem em debandada diante do anjo celestial. Acariciára a esperança de que Christo não tornaria mais á vida; aban­ donou-a porém ao vêl-0 surgir triumphante da sua sepultura. Estava convencido agora de que o seu reino teria um termo e de que elle proprio havia de ser finalmente aniquilado. “Ide, e annunciae-o aos meus discípulos” ucas, no seu relatorio do sepulta- mento de Christo, fallando da? mulheres que haviam assistido a sua crucificação, diz : “E, voltando ellas, prepara­ ram especiarias e unguentos, e no sabbado repousaram, conforme o mandamento.” J) O Salvador foi sepultado na tarde de sexta-feira, que é o sexto dia da semana. Ellas, tendo pre­ parado unguentos e especiarias pa­ ra embalsamar o Senhor, puzeram tudo de parte até “pas­ sado o sabbado.” “E como tivesse passado o dia de sabbado, Maria Magdalena, e Maria, mãe de Thiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamar Jesus.” 2) Ao approximarem-se do horto, ficaram admiradas de vêr sobre si o céu tão bellamente illuminado e sentii um leve tremor debaixo de seus pés. Correram ao sepulcio e ficaram mais admiradas aicda de vêr a pedra removida e o posto das guardas desertado. Notaram um clarão que envolvia a gruta, mas, olhando ) Luc. 23:56. 2) Marc. 16:1, 2. 143 dentro delia, viram que estava vasia. Emquanto pois Maria voltava pressurosa a communicar esta nova aos discípulos, as outras procediam a um exame rigoroso do sepulcro. De repente surgiu diante dellas um mancebo vestido de roupagens resplandecentes, e ellas estremeceram. Era o anjo que havia removido a pedra, o qual, fallando-lhes, disse: “Não tenhaes medo; pois eu sei que buscaes a Jesus que foi crucificado. Não está aqui, porque já resuscitou, como havia dito. Vinde, vêde o logar onde o Senhor jazia.” “E ide immediatamente, e dizei aos seus discípulos que já resuscitou dos mortos. E eis que Elle vae adiante de vós para a Galiléa; ali o vereis. Eis que eu vol-o tenho dito.” D Tornando a espreitar para dentro do sepulcro, notaram ali outro anjo, o qual também lhes disse: “Porque buscaes o vivente entre os mortos? Não está aqui, porém já resuscitou. Lembrae-vos como vós fallou, estando ainda na Galiléa, dizendo: Convem que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens peccadores, e seja crucificado, e resuscite ao terceiro dia.” 2) Explicaram-lhes então os anjos a morte e resurreição de Christo, chamando especialmente a attenção das mulheres sobre o que Jesus lhes havia dito de antemão relativamente á sua morte e resurreição. Fez-se então luz nos seus espí­ ritos e cobraram novo animo e novas esperanças. Maria, que não havia presenciado esta scena, chegou pois acompanhada de Pedro e João. E como as outras mulheres regressassem a Jerusalem, ella ficou junto ao se­ pulcro. Custava-lhe a deixal-o sem saber ao menos o que fòra feito do corpo do seu Senhor. Estando pois ali cho­ rando, ouviu de repente uma voz que lhe disse: 144 “Ide, e annunciae-o aos meus discípulos” l) Math. 28:5-7. -) Luc. 24:5-7. 145 “Não me toques, porque ainda não subi ao Pae.” “Mulher, porque choras? A quem buscas?” Seus olhos velados pelas lagrimas impediam-na de re­ conhecer aquelle que lhe fallava. Cuidando que fosse o hortelão, disse-lhe com solicitude: “Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o pozeste, e eu o levarei.” Ponderava comsigo mesma que se o sepulcro daquelle homem opulento era demais precioso para servir de jazigo ao seu Mestre, ella mesma lhe arranjaria um sepulcro. Neste instante, porém, a voz maviosa de Jesus mesmo soou aos seus ouvidos: “Maria.” Enxugando depressa as lagrimas, reconheceu diante de si o seu Salvador. Instinctivamente estendeu para Elle as suas mãos, esquecendo-se de que tinha sido crucificado, e disse: “Rabboni,” que quer dizer Mestre. Jesus porém lhe disse: “Não me toques, porque ainda não subi ao Pae: mas vae a meus irmãos e dize-lhes: “Vou para meu Pae e vosso Pae, para meu Deus e vosso Deus. ’ \) Jesus recusou-se a acceitar a veneração de seus disci- pulos até se haver assegurado de que o Pae Lhe havia ácceito o sacrifício. Desejava receber do proprio Pae a se­ gurança de que o seu sacrificio pelos peccados dos homens havia logrado a perfeição necessária, para que estes pudes­ sem ter vida eterna pelo seu sangue. Jesus immediatamente subiu ao Pae, e, pósto diante do throno de Deus, apresentou-Lhe os signaes dos seus padeci- mentos na fronte, nos pés e nas mãos. Recusou também receber a corôa de gloria e os vesti- 146 “Ide, e annunciae-o aos meus discípulos” q João 20:13—17. “Ide, e annunciae-o aos meus discípulos” 147 dos reaes do mesmo modo que recusára a veneração de Maria, até que seu Pae Lhe houvesse assegurado que o seu sacrificio tinha sido acceito. Tinha além disso um pedido a fazer relativamente aos seus escolhidos na terra. Desejava vêr claramente exposta a relação em que de hora em diante estariam os seus remi­ dos com o Pae e com o céu. Era preciso que sua egreja fosse primeiramente justi­ ficada e acceita, antes que Elle podesse acceitar as honras divirtas. Declarou solemnemente que queria que onde Elle estivesse, estivesse também a sua egreja. Que se alguma gloria Lhe cabia, esta devia ser compartilhada por ella, visto que aquelles que por Elle teriam de soffrer, também deviam reinar com Elle. De um modo inequivoco Jesus intercedeu a favor de sua egreja, identificando os interesses delia com os seus, e defendendo os seus direitos e privilégios, que por Elle lhe cabiam, com uma constância e um amor mais fortes do que a morte. A resposta de Deus a este appello estava con­ tida na seguinte proclamação: “Todos os anjos de Deus o adorem.” Immediatamente esse mandato divino foi obedecido, echoando por todos os céus: “Honra ao Cordeiro que foi morto, e que vive ... um Vencedor triumphante;” e em seguida todos os exercitos angélicos se prosternaram aos pés do Redemptor.” O pedido de Christo tinha sido attendido. A egreja estava justificada por Aquelle que se constituiu o seu Chefe e Advogado. Deste modo o Pae ratificou o seu concerto com o Filho de que pelos seus méritos Elle seria reconci­ liado com o peccador penitente, que assim havia de entrar a participar de sua graça. Testemunhas o cair da tarde daquelle mesmo dia dois discípulos de Jesus iam ca­ minho de.Emmaus, pequena cidade que dista cerca de oito milhas de Jerusalem. Estavam perplexos e tristes por causa dos acontecimentos recente­ mente occorridos e principalmente por causa da noticia que lhes trou­ xeram as mulheres que tinham visto os anjos e haviam íallado com Je­ sus depois da resurreição. Voltavam esses discípulos para as suas casas afim de meditar e orar sobre isto, na espe­ rança de obter alguma luz sobre este negocio que lhes pa­ recia tão obscuro. Numa certa altura, reuniu-se-lhes, vindo de traz, um homem estranho; iam porém tão absortos em sua conver­ sação que não o perceberam. Era tamanha a aíflicção destes discípulos, que chora­ vam emquanto iam pelo caminho, e o coração compassivo de Jesus achou aqui uma dôr que Lhe era dado mitigar. Disfarçado em estrangeiro, Jesus travou conversação com elles. “Mas os olhos dos dois estavam como fechados, para o não conhecerem. E elle lhes disse: 148 “Fica comnosco, porque já é tarde, e já declinou o dia.” 149 150 Testemunhas “Que é isso, que vós ides praticando e conferindo um com o outro, e porque estaes tristes? “E respondendo um delles chamado Cléofas, lhe disse: “Tu só és forasteiro em Jerusalem, e não sabes o que ali tem passado estes dias? “Elle lhes disse: Que? “E responderam os dois: Sobre Jesus Nazareno, que foi um varão proféta, poderoso em obras, e em palavras diante de Deus, e de todo o povo.” *) Referiam-Lhe pois todas as occurencias, alludindo tam­ bém á noticia que haviam trazido as mulheres que pela manhã tinham estado junto ao sepulcro. Disse-lhes então Jesus : „0’ estultos e tardios de coração para crêr tudo o que annunciaram os profétas! Porventura não importava que o Christo soffresse estas coisas, e que assim entrasse na sua gloria? “E começando por Moysés, e discorrendo por todos os outros profétas, lhes explicava o que delle se achava dito em todas as Escrituras.” 2) Os discípulos ficaram mudos de pasmo e alegria, e nem siquer ousavam perguntar ao estrangeiro quem elle era. Attentos O escutavam, emquanto Elle lhes ia abrindo a in- telligencia da missão do Salvador e do seu cumprimento. Ao pôr do sol os discípulos chegaram á sua casa e Jesus “fingiu que ia para mais longe.” Elles porém não podiam consentir em separar-se do companheiro que havia suscitado em seus corações tanta alegria e esperança, pelo que Lhe disseram: 0 Luc. 24: 16-19. 2) Luc. 24 : 25—27. Paz seja comvosco. 151 152 T estemunhas “Fica em nossa companhia porque é já tarde, e está o dia na sua declinação. E Elle entrou com os dois.” *) Não tardou que estivesse preparada uma refeição sim­ ples ; e Jesus tomou assento á cabeceira da mesa, conforme era o seu costume. Ordinariamente era ao chefe da familia que incumbia invocar a benção á mesa; Jesus porém, pondo a mão sobre o pão, o abençoou. Então abriram - se os olhos aos discípulos. O modo de proferir a benção, a intonação muito co­ nhecida de sua voz, as feridas nas suas mãos, tudo revelava n’Elle o Mestre querido. Durante um momento ficaram extáticos, sem poder articular palavra, depois, erguendo-se de um salto, se lança­ ram aos pés de Jesus e 0 adoraram. Elle porém desappa- receu do meio delles. Desprezando a fome e a fadiga, sairam, deixando in­ tacta a ceia, e volveram ? Jerusalem para levar aos outros a nova do Salvador resuscitado. E estando elles ainda fallando aos seus companheiros, eis que Jesus se apresenta no meio delles, e, elevando as mãos como para abençoal-os, disse: “Paz seja comvosco.” a) A principio os discípulos ficaram atemorizados; mas depois de Jesus lhes haver mostrado as mãos traspassadas, participando com elles da ceia, creram e foram consolados. A fé e alegria dissiparam as duvidas de seus corações, sendo indiscriptivel a sensação que experimentaram ao re­ conhecer o Salvador. Thomé não estivera presente nessa occasiáo e se recu- q Luc. 24:29. 2) Luc. 24:36. 1 Testemunhas 153 •sava a crèr no que lhe diziam com respeito á resurreição do Mestre. Oito dias depois, porém, estando Thomé com elles, Jesus tornou a apparecer-lhes. Mostrou Jesus então a Thomé os signaes de sua morte nas suas mãos e nos seus pés. Depressa se formou a convicção no espirito de Thomé e elle exclamou: “Senhor meu, e Deus meu.” 0 ■) João 20 : 28. ií “Este Jesus” stava terminada a obra terrestre de Jesus, e era chegado o tempo para Elle regressar á patria celes­ tial. Tinha vencido e estava agora a ponto de tomar o seu logar á dextra do Pae sobre o seu throno de luz e de gloria. Jesus havia escolhido o monte das oliveiras para logar de sua ascenção. Acompanhado dos onze, dirigiu-se para aquelle monte. Longe estavam os discípulos, porém, de imaginar, que esta seria a ultima vez que estariam em companhia do Mestre. Durante o tra- jecto Jesus lhes deu as suas ultimas instrucções e, pouco antes de deixal-os, a preciosa promessa que tão grata se tem provado a todos os seus seguidores: “Eis que estou comvosco todos os dias até a consum- mação do mundo.” x) Dirigiram-se para o cume que dá para o lado de Be- thania, onde, chegados que foram, os discípulos se reuniram em torno de seu Mestre. Uma luz etherea parecia irradiar do seu divino rosto quando os fitou cheio de ternura. As x) Math. 28 : 20. 155 11* 154 Ascenção de Jesus. 156 “Este Jesus” ultimas palavras do Salvador foram repassados de ineffavel doçura. Estendendo suas mãos e abençoando pela ultima vez os seus discípulos, Jesus elevou-se lentamente da terra e ganhou o espaço. Os discípulos, maravilhados, esforçaram a vista para seguirem o Senhor que desapparecia nos ares. Finalmente uma nuvem O arrebatou ás suas vistas. No mesmo instante resoou no espaço uma musica suave e maviosa que procedia do côro de anjos celestiaes. Estando os discípulos ainda parados, com os olhos fitos no céu, feriu os seus ouvidos uma voz qual musica arrebatadora. Dois mensageiros celestes dirigiam-se a elles com estas palavras : “Varões galiléos, que estaes olhando para o céu? Este Jesus que, separando-se de vós foi assumpto aos céus, assim virá, do mesmo modo que o haveis visto ir para o céu.” 4) Estes anjos faziam parte do grupo que viera para acompanhar o Salvador á sua morada celeste. Movidos, porém, de sympathia e amor pelos discípulos que aqui fica­ vam, elles demoraram-se ainda um pouco para lhes asse­ gurar que esta separação seria temporária. Jesus tinha promettido que viria outra vez: "Não se turbe o vosso coração. Crêdes em Deus, crêde também em mim. Na casa de meu Pae ha muitas moradas: senão eu vol-o teria dito: Pois vou a apparelhar-vos o lo- gar. E depois que eu fôr, virei outra vez, e tomar-vos-ei para mim mesmo para que onde eu estou, estejaes vós também.” a) Assim fallára Jesus, e os anjos lhes declara­ vam agora que Elle viria do mesmo modo que O haviam visto ir ao céu. Jesus subiu ao céu em corpo, e elles O ) Act. 1 : 11. -) João 14 :1-3. “Este Jesus” 157 viram quando foi arrebatado do meio delles e recebido por uma nuvem. Elle virá outra vez assentado numa grande nuvem branca, e todo o olho O verá.” *) Enoch testemunhou: “Eis que é vindo o Senhor entre milhares dos seus santos a fazer juizo contra todos.” 2) Isaias profetizou como os justos O hão de acclamar na sua vinda: “Este é que é o Senhor, nós O esperamos longo tempo, nós exultaremos e alegrar-nos-emos com a salvação que Elle nos der.” 3) Paulo descreveu a sua vinda, dizendo: “Porque o mesmo Senhor com alarido e com voz de archanjo, e com a trombeta de Deus, descerá do céu, e os que morreram em Christo, resurgirão primeiro. “Depois nós os que vivemos, os que ficamos aqui, seremos arrebatados juntamente com elles nas nuvens a receber a Christo nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor.” 4) Assim pois o nosso Salvador tornará outra vez á terra para levar comsigo aos que Lhe foram leaes. ’) Apoc. 1:7. 2) Judas 14, 15. 3) Isa. 25:9. 4) 1 Thess. 4: 16, 17. 0 Salvador assumpto uando os discípulos voltaram ajerusalem, desacom­ panhados do Salvador, o povo esperava lêr nos seus semblantes expressões de tristeza e desen­ gano. Em vez disto, porém, elles reluziam de alegria e trium- pho. Os discí­ pulos não con­ servavam a me­ nor tristeza por suas desillu- sões, mas es­ tavam todos os dias no templo louvando e bemdizendo a Deus. Os phariseus e príncipes do povo não comprehendiam este mysterio. Depois da paixão e crucificação de seu Mestre, era de esperar que os discípulos se manifestassem abatidos e vexa- dos. Elles porém viviam alegres e os seus rostos pareciam radiantes de gozo. Contavam a todos a maravilhosa historia da resurrei- ção e ascenção de Christo, e muitos acreditavam no seu testemunho. Já não conservavam mais nenhum temor quanto ao futuro. Sabiam que Jesus estava no céu; que a sua svmpathia lhes estava garantida e que Elle intercedería por elles pe- 158 O Salvador assumpto 159 Levantae, ó príncipes, as vossas portas, levantae-vos, ó portas eternas, e entrará o Rei da Gloria. Depois de Jesus haver desapparecido de seus olhos, vieram ao seu encontro os exercitos celestiaes que, com cântico de júbilo e triumpho, O conduziram ao alto. Junto ás portas da cidade de Deus uma grande multidão de anjos aguardava a sua chegada. A’ sua approximação, os anjos do seu séquito bradam com enthusiasmo aos que estacionam junto ás portas: rante o Pae mediante o seu sangue. Lá estava Elle apre­ sentando ao Pae as mãos e os pés feridos em testemunho do preço que pagára pelos seus remidos. Sabiam que Elle viria outra vez acompanhado de todos os santos anjos, e aguarda­ vam este acontecimento com alegria e saudade. 160 O Salvador assumpto “Levantae, ó príncipes, as vossas portas, levantae-vos, ó portas eternas, e entrará o Rei da Gloria.” Estes, respondendo, perguntam: “Quem é este Rei da Gloria?’ Os do séquito respondem em cânticos de triumpho: “O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantae, ó príncipes, as vossas portas e entrará o Rei da Gloria.'’ Ainda uma vez perguntam aquelles: “Quem é este Rei da Gloria?” E em accentos melodiosos os primeiros respondem: “O Senhor dos exercitos, elle é o Rei da Gloria.” Abrem-se então largamente e de par em par as portas da cidade, e a multidão de anjos passa por ellas ao som de prrebatadora musica. Todas as hostes celestiaes rodeam o seu Chefe regres­ sado, que toma assento no throno do Pae. Com adoração e reverencia os anjos se inclinam diante d’Elle e o paço celeste repercute de exclamações de júbilo: “Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e gloria, e acções de graças.” *) O Filho de Deus triumphou sobre o príncipe das tre­ vas, e alcançou a victoria sobre a morte e a sepultura. Todos os céus proclamam a uma voz: “Ao que está sentado sobre o throno, e ao Cordeiro, sejam dadas acções de graça, e honra, e gloria, e poder para todo sempre.” 2) ) Ps. 24 :7—10. -) Apoc. 5 :13. Sua volta nosso Salvador virá outra vez. I Antes de separar-se de seus dis­ cípulos na terra, Elle mesmo lhes deu esta promessa: “Não se turbe o vossç coração; credes em Deus, crêde também em mim. Na casa de meu Pae ha mui­ tas moradas . . . vou preparar-vos logar. E, se eu fôr, e vos preparar logar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver, estejaes vós também. r) Elle também não os deixou na duvida quanto á ma­ neira de Sua volta: “O Filho do homem virá em sua gloria, e todos os san­ tos anjos com elle, então se assentará no throno de sua gloria; e todas as nações serão reunidas diante d’Elle.” 2) Carinhosamente Elle os advertiu contra o engano: “Portanto, se vos disserem: Eis que elle está no deserto, não saiaes, eis que elle está nas camaras; não acrediteis. Porque, como o relampago sae do oriente e apparece até ao occidente, assim será também a vinda do Filho do homem.” 3) Esta advertência é também para nós. Falsos doutores i) João 14:1-3. -) Math. 25:31, 32. >) Math. 24:26, 27. 161 12 162 Sua volta proclamam hoje em dia: “Eis que elle está no deserto,” e milhares têm saido ao deserto (aos mormons nos Estados Unidos, por exemplo) na esperança de encontrar ahi a Je­ sus. Milhares de outros, que dizem communicar com os espíritos dos que partiram, declaram que elle (Jesus) está nas camaras.” Tal é a declaração feita pelo espiritismo. Christo porém disse: “Não acrediteis. Porque, como o relampago sae do oriente e apparece até ao occidente, assim será também a vinda do Filho do homem.” Na occasião de sua ascenção os anjos declararam aos discípulos que Jesus viria outra vez “assim como para o céu O tinham visto ir.” *) Elle subiu ao céu numa forma corporea, e elles O viram quando separou-se delles, sendo arrebatado por uma nuvem. Elle voltará sentado sobre uma grande nuvem branca e “todo o olho o verá.” 2) 0 dia e a hora de sua vinda não foram revelados. Christo disse aos seus discípulos, que elle mesmo não po­ dia indicar o dia e a hora de sua volta. Mencionou porém certos acontecimentos por meio dos quaes podiam saber que a sua volta estava próxima. “E haverá signaes, disse Elle, “no sol, na lua e nas estrellas.” 3) Além disso declarou de um modo terminante: “O sol escurecerá, e a lua não dará o seu resplendor, e as estrellas cairão do céu.” 4) “E na terra,” disse Jesus, “(haverá) aperto das nações em perplexidade, pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror na expectação das coisas que sobre­ virão ao mundo.” 5) “Então verão o Filho do homem, vindo sobre as nu- q Act. 1:11. 2) Apoc. 14:14, cap. 1:7. 3) Luc. 21:14. 4) Math. 24 :29., 5) Luc. 21:25, 26. 163 Sua volta. 12* 164 Sua volta vens do céu, com poder e grande gloria. E enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, e ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma á outra extre­ midade dos céus.” D A isso accrescentou o Salvador: “Aprendei pois esta parabola da figueira: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está proximo o verão. Egual- mente, quando virdes todas estas coisas, sabei que está proximo ás portas.” 2) Christo estabeleceu signaes de sua vinda. Elle diz que podemos saber, quando este acontecimento está proximo. Quando na primavera as arvores brotam folhas, sabemos que o verão está ás portas. Tão seguramente podemos saber que a volta de Christo está próxima, quando se re­ alizarem os signaes no sol, na lua e nas estrellas. Estes signaes se cumpriram. A 19 de Maio de 1780 o sol escureceu. Esse dia é conhecido na historia como “o dia escuro.” Em muitas partes da America do Norte a escuri­ dão foi tão completa, que se accenderam as luzes ao meio dia. Muitos acreditavam que era chegado o dia de juizo. Nenhumas razões satisfactorias foram jamais apresentadas para este acontecimento sobrenatural, a não ser as razões dadas nas palavras de Christo. O escurecimento do sol e da lua foram signaes de sua vinda. A 13 de Novembro de 1833 realizou-se o mais maravi­ lhoso espectáculo de estrellas cadentes, que os homens ja­ mais presenciaram. Ainda uma vez .milhares de pessoas acreditavam, que era chegado o dia de juizo. 3) p Math. 24:30, 31. 2) Math. 24:32, 33. 3) Para explicações desses signaes vide o livro “A gloriosa apparição de Christo.” Sua volta 165 Desde aquelle tempo os terremotos, os furacões, as al­ tas marés, as pestes e fomes, e as destruições pelo fogo e pela agua têm-se multiplicado. Tudo isto, bem como a angustiosa espectativa dos homens sobre a terra, declaram que a vinda do Senhor está próxima. Acerca daquelles que haviam de presenciar estas coi­ sas, o Salvador disse: “Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.” 9 “O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de archanjo, e com a trombeta de Deus; e os que mor­ reram em Christo resuscitarão primeiro. Depois nós os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com elles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim esta­ remos sempre com o Senhor. Portanto consolae-vos uns aos outros com estas palavras.” 2) Elle virá para honrar aquelles que O amaram e guar­ daram os seus mandamentos e para tomal-os para si. Elle não tem-se esquecido delles nem de suas promessas. Lá haverá uma reunião dos membros da familia de Deus. Olhando sobre aquelles que morreram em Jesus, podemos attentar alegres para aquella grande manhã em que ha de soar a trombeta de Deus e os mortos hão de resuscitar incorruptiveis e nós havemos de ser transfor­ mados. 3) Esse tempo está proximo. Ainda um pouco, e veremos o Rei na sua formosura. Ainda um pouco, e Elle enxugará de nossos olhos toda a lagrima. Ainda um pouco, e Elle 9 9 Math. 24 : 34, 35. 9 1. Thess. 4: 16-18. 3) 1. Cor. 15:52. nos apresentará “irreprehensiveis, com alegria, perante a sua gloria.” *) Por isso disse Jesus, quando propôz os signaes de sua volta: “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhae para cima, e levantae as vossas cabeças, porque a vossa redempção está próxima." 2) 166 S u a v o 11 a x) Judas 24. 2) Luc. 21:28. O dia de juizo om o dia da volta de Christo coincide o dia em que todo o mundo será julgado. As Escrituras nos dizem: is que o Senhor vem com milha- > dos seus santos, para fazer juizo ntra todos.” x) “E todas as nações serão reu- las diante delle, e apartará uns s outros, como o pastor aparta s bodes as ovelhas.” i) 2) “Antes porém de vir aquelle dia, Deus faz advertir a todos os homens o que ha de acon­ tecer. Deus em todos os tempos tem advertido os homens dos juizos com que tem visitado o mundo. Alguns acredi­ taram nessas advertências e obedeceram á Palavra de Deus. Estes escaparam por isso ás visitações que Deus enviou sobre os infiéis e desobedientes. Antes de Deus destruir o mundo pelo dilúvio, ordenou a Noé: “Entra tu e toda a tua casa na arca: porque te hei visto justo diante de mim nesta geração.” á) Noé obede­ ceu e foi salvo. Antes da destruição de Sodoma, anjos de Deus advertiram a Lot: “Levantae-vos, sahi deste logar; porque o Senhor ha de destruir a cidade.” 4) Lot attendeu á advertência e foi salvo. i) Judas 14, 15. 2) Math. 25:32. 3) Gen. 7:1. 4) Gen. 19:14. 167 168 0 dia de juizo Assim também agora, antes da volta de Christo somos advertidos da destruição que está para vir sobre todo o mundo. Todos que attenderem a esta mensagem de adver­ tência serão salvos. Quando Christo vier sobre as nuvens do céu, os justos hão de exclamar: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardavamos, e elle nos salvará.” *) Por não sabermos o tempo exacto da volta de Christo, a Escritura Sagrada nos ordena de vigiar: “Bemaventurados aquelles servos, os quaes, quando o Senhor vier, os achar vigiando.” 2) Aquelles que vigiam, aguardando a vinda do Senhor, não estarão ociosos. A espectativa da volta de Christo ha de determinar os homens a temer o juizo que aguarda toda a transgressão. Ella deve guiar os peccadores ao arrepen­ dimento de seus peccados que consistem na transgressão dos mandamentos de Deus. Emquanto que estamos aguardando a volta do Senhor, deviamos trabalhar diligentemente. A certeza de que Elle está á porta, devia determinar-nos a trabalhar com maior zelo pela salvação de nossos semelhantes. Como Noé pro­ clamou a mensagem de Deus aos homens que viveram antes do dilúvio, assim também nós deviamos proclamar a ultima mensagerp á geração actual. Mas “como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porque como nos dias anterio­ res ao dilúvio comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o conheceram, até que veiu o dilúvio, e os levou a todos, — assim será também a vinda do Filho do homem.” 3) 0 Isa. 25:9. 2) Luc. 12:37. 3) Math. 24:37—39. O dia de juizo 169 Os homens que viviam nos dias de Noé abusavam dos dons de Deus. A sua comida e bebida degenerou em glu- tonaria e bebedice. Olvidando a Deus, entregavam-se a todos os vicios e abominações. “E viu o Senhor que a maldade do homem se multi­ plicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensa­ mentos de seu coração era só má continuamente.” D Os homens daquelle tempo foram destruídos por causa de sua impiedade. Os homens praticam hoje as mesmas coisas. Glutonarias, intemperança, paixões irrefreadas, costumes lascivos e toda a sorte de abominações enchem a terra de impiedade. Nos dias de Noé a terra foi destruída pela agua, a palavra de Deus nos ensina que ella em breve será ainda uma vez destruída pelo fogo. Mas os homens “voluntariamente ignoram isto que pe­ la Palavra de Deus já desde a antiguidade foram os céus e a terra, que foi tirada da agua e no meio da agua subsiste. Pelas quaes coisas pereceu o mundo de então, coberto com as aguas do dilúvio. Mas os céus e a terra que agora são pela mesma palavra se reservam como thesouro e se guar­ dam para o fogo, até o dia de juizo, e da perdição dos homens impios.” 2) Os homens antediluvianos zombaram da advertência de Deus. Qualificavam a Noé de fanatico e diziam que buscava intimidal-os desnecessariamente. Sábios eminentes declara­ vam que um dilúvio como Noé o annunciava ainda nunca tinha havido, nem tão pouco podia haver. Assim também hoje pouca importância se liga á Pa­ lavra de Deus. Os homens acham as suas advertências q Gen. 6:5. 2) 2. Ped. 3 : 5-7. 170 O dia de juizo irrisórias. Muitos exclamam: “Onde está a promessa de sua vinda? porque desde que os paes dormiram todas as coisas permanecem como desde o principio da creação.” Mas, segundo a Escritura Sagrada, é justamente então que ha de sobrevir a destruição : “Pois que, quando disserem ha paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição e de modo algum escaparão.” J) Christo disse: “Se não velares, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.” 2) Em nosso tempo os homens estão egualmente muito preoccupados com beber e comer, plantar e edificar, casar e dar-se em casamento. Ha muitos que só tratam de galgar posições elevadas. Aquelles que só buscam iruir prazeres atulham os theatros, as casas de jogo e outros locaes de divertimentos. Por toda parte se nota a excitação, a disso­ lução, o desenfreamento. Comtudo o tempo da graça vae chegando ao seu termo e logo terá expirado para sempre. Foi exactamente para o nosso tempo que foram escritas estas advertências do nosso Salvador: “E olhae por vós, não aconteça que os vossos cora­ ções se carreguem de glutonaria, embriaguez e dos cuidados desta vida, e venha sobre vós de improviso aquelle dia.” 3) “Vigiae pois em todo o tempo, orando, para que sejaes havidos por dignos de evitar todas estas coisas, que hão de acontecer; e de estar em pé diante do Filho do homem.” *) ') 1. Thess. 5:3. 2) Apoc. 3 : 3. 3) Luc. 21 :34. 4) Luc. 21: 36. 171 A patria dos remidos. A patria dos remidos ssim como o dia da volta de Christo será um dia de destruição para o mal, será também um dia de sal­ vação, não sómente para o povo de Deus como também para a terra. Deus creou a terra para servir de morada ao homem. Adão viveu no jardim das delicias que Deus mes­ mo lhe hávia preparado. E se bem que o peccado tenha desfigurado a obra de Deus, a familia humana não foi comtudo abandonada pelo seu Creador, nem o seu intento com relação á terra foi por Elle renunciado. Anjos incumbidos da mensagem da salvação desceram a esta terra, e por montes e valles resoaram os seus cânti­ cos de júbilo. Os pés do Filho de Deus tocaram o seu solo. Pela sua belleza e os seus dons para o sustento de todos os seres viventes a terra durante mais de seis mil annos deu testemunho do amor do seu Creador. Esta mesma terra, libertada da maldição do peccado, virá a ser a morada eterna do homem. A Escritura Sagrada diz delia que Deus “não a creou vasia, mas a íormou para que fosse habitada.” *) E “tudo quanto Deus faz isso durará eternamente.” 2) q Isa. 45:18. 2)Eccl. 3:14. 172 A patria dos remidos 173 Por isso declarou também o Salvador no seu sermão da montanha: “Bemaventurados os mansos, porque elles herdarão a terra.” *) O psalmista já muito antes havia testemunhado o mes­ mo: “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundancia de paz.” 2) Com isso concordam também outros testemunhos das Escrituras: “Eis que o justo é recompensado na terra.” “Os justos herdarão aterra, e habitarão nella para sempre.” 3) O fogo do ultimo dia ha de destruir “os céus e a terra que agora são,” mas depois surgirão do chãos um novo céu e uma nova terra, conforme a promessa de Deus. 4) “E o reino e o dominio, e a magestade dos reinos debaixo de todo o céu se dará ao povo dos santos do Altissimo: “O seu reino será um reino eterno, e todos os dominios o ser­ virão, e lhe obedecerão.” 5) “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu e não subiram ao coração do homem, são as que Deus pre­ parou para os que o amam.” 6) Nenhuma linguagem humana é capaz de descrever ca­ balmente a recompensa dos justos. Só hão de conhecel-a aquelles que a receberem. Não podemos conceber a gloria do paraiso de Deus. Comtudo alguns golpes de vista nos é permittido dar nesse paiz, porque Deus nol-o “revelou pelo seu Espirito.” 7) Os quadros que a Escritura Sagrada nos apresenta da nova terra são summamente preciosos. Ali o pastor divino guia o seu rebanho ás fontes de agua viva. No meio do paraiso está a arvore da vida que q Math. 4:5. 2) Ps. 37:11. 3) Prov. 11 :31. Ps. 37 :29. 4) 2. Ped. 3:7, 13. 5) Daniel 7:27. «) 1. Cor. 2:9. 7) 1. Cor. 2:10. produz os seus iructos cada mez, e suas folhas servem para a saude das gentes. Ali correm rios que nunca seccam, claros como crystal, e nas suas margens as arvores ondulantes lançam a sua sombra sobre a vereda que está preparada para os remidos. Ali as verdes campinas se estendem a perder de vista, alter­ 174 A patria dos remidos 0 pastor divino guia o seu rebanho. nando-se com virentes collinas e magestosas montanhas, elevando os seus cumes para o céu. Nessas veredas de paz, ao lado das correntes vivas, os fdhos de Deus, que tanto tempo foram estrangeiros e peregrinos na terra, hão de encontrar uma morada perpetua. “O meu povo habitará em moradas de paz, e em mo­ radas bem seguras, e em logares quietos de descanço.” “Nunca mais se ouvirá violência na tua terra, desolação A patria dos remidos 175 nem destruição nos teus termos; mas aos teus muros cha­ marão salvação, e ás tuas portas louvor.” * * 4) E edificarão casas e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fructo. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam.” 2) “O deserto e os logares seccos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa.” Em logar do espi- nheiro crescerá a faia e em logar da sarça crescerá a murta.” 3) “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro e o filho do leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará.” “Não se fará mal nem damno algum em nenhuma parte de todo o monte da minha santidade,” diz o Senhor. 4) Lá não haverá mais lagrimas, nem sahimentos fúne­ bres, nem signaes de lucto. “E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dôr: porque já as primeiras coisas são passadas.” “E morador nenhum dirá: enfermo estou; porque o povo que habitar nella será absolto de iniquidade.” 5) Lá estará a nova Jerusalem, a capital da terra restau­ rada — “coroa de gloria na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus.” A sua luz é “semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, resplandecente como o crystal.” “E as nações que se salvarem andarão á sua luz; e os reis da terra trarão para ella a sua gloria e honra.” 6) O Senhor diz: “Folgarei em Jerusalem, e exultarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nella voz de choro nem voz de clamor.” “Eis aqui o tabernaculo de Deus com os q Isa. 32 : 18 cap. 60:18. 2) Isa. 65:21, 22. 3) Isa. 35:1. cap. 55:13. 4) Isa. 11 :6, 9. 5) Apoc. 21 :4. Isa. 33:24. «) Isa. 62:3. Apoc. 21:11, 24.. 176 A patria dos remidos homens, e com elles habitará, e elles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com elles, e será o seu Deus. 4) Na nova terra só habitará justiça. “Não entrará nella coisa alguma que contamine, e commetta abominaçao e mentira.” 2) A santa lei de Deus será então honrada de todos sobre a terra. Aquelles que se provaram fieis a Deus pela obe­ diência aos seus mandamentos habitarão com Elle. “Na sua bocca não se achou engano.” "Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro.” 3) “Os preceitos do Senhor são rectos . . . e em os guai- dar ha grande recompensa.” 4) “Bemaventurados aquelles que guardam os seus man­ damentos, para que tenham poder na arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” °) i) Isa. 65:19. Apoc. 21 :3. 2) Apoc. 21 :28. 8) Apoc. 14:5. cap. 7:14, 15. 4) Ps. 19:8, 11. 5) Apoc. 22:14.